São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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Partido admite contar com ajuda do Fundo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nas discussões mais reservadas da campanha presidencial petista, Luiz Inácio Lula da Silva avalia que, mantidas as atuais dificuldades econômicas (extrema dependência de recursos externos e pressão cambial), um governo do PT poderá precisar do FMI em 2003 e, talvez, até em 2004.
Nesse contexto, convém ao partido que o governo Fernando Henrique Cardoso sele o novo acordo com o Fundo. No entanto, devido à campanha eleitoral, os economistas do PT, críticos antigos do FMI, acham eleitoralmente ruim esse tipo de admissão.
A Folha apurou que economistas ligados ao presidenciável julgam conveniente o novo acordo com o Fundo se estender até 2003 porque funcionaria como ponte para um começo de governo que prevêem complicado.
A rejeição do PT a apoiar formalmente o novo acordo do FMI se deve à avaliação de que o ônus da crise econômica cabe ao governo Fernando Henrique Cardoso, já que o partido é crítico antigo dessa política.
Mais: um endosso oficial de Lula poderia amarrar sua política econômica futura e transmitir a imagem de domesticação, como se o governo do PT se propusesse a ser continuação do governo FHC. O discurso da mudança é muito forte, atestam as pesquisas de todas as campanhas. Até o candidato do governo, o tucano José Serra, empunha essa bandeira. O oposicionista Lula, portanto, não poderia perdê-la.

Gradualismo
Se eleito, Lula sabe que o quadro econômico poderá se complicar pela expectativa da comunidade internacional e do empresariado brasileiro em relação à capacidade gerencial do PT.
A eventual e inédita chegada do PT ao poder prevê um gradualismo na implementação das políticas de distribuição de renda e retomada do crescimento econômico. Os cem primeiros dias são vistos como o teste de fogo, com turbulência econômica e fase de pôr a prova a maioria congressual que se pretende costurar após eventual vitória em outubro.
Ainda dentro desse gradualismo, o partido teria que administrar heranças negativas da era FHC (dívida pública interna alta e dívida privada externa preocupante) para dar início ao "governo-do-PT-de-verdade".
É nessa fase de dois anos que o PT precisaria mais do que nunca de um bom canal com o FMI e outros organismos internacionais. Ao final desse período, Lula crê que terá aprovado uma reforma tributária e terá colhido na balança comercial os frutos de um esforço de exportação.
Logo, a última coisa que fará será hostilizar o Fundo -entidade que já constou do vocabulário petista como vampiro-mor dos países em desenvolvimento e que hoje é classificada como UTI.
Ninguém gosta de médico e muito menos de UTI, mas o PT poderá recorrer a ela na busca dos dólares que prometem rarear ainda mais se a economia dos EUA continuar a patinar. (KENNEDY ALENCAR)

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