|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Partido admite contar com ajuda do Fundo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nas discussões mais reservadas da campanha presidencial petista, Luiz Inácio Lula da Silva avalia que, mantidas as atuais dificuldades econômicas (extrema dependência de recursos externos e pressão cambial), um governo do
PT poderá precisar do FMI em 2003 e, talvez, até em 2004.
Nesse contexto, convém ao partido que o governo Fernando Henrique Cardoso sele o novo acordo com o Fundo. No entanto, devido à campanha eleitoral, os
economistas do PT, críticos antigos do FMI, acham eleitoralmente ruim esse tipo de admissão.
A Folha apurou que economistas ligados ao presidenciável julgam conveniente o novo acordo com o Fundo se estender até 2003 porque funcionaria como ponte
para um começo de governo que prevêem complicado.
A rejeição do PT a apoiar formalmente o novo acordo do FMI se deve à avaliação de que o ônus da crise econômica cabe ao governo Fernando Henrique Cardoso,
já que o partido é crítico antigo dessa política.
Mais: um endosso oficial de Lula poderia amarrar sua política
econômica futura e transmitir a
imagem de domesticação, como
se o governo do PT se propusesse
a ser continuação do governo
FHC. O discurso da mudança é
muito forte, atestam as pesquisas
de todas as campanhas. Até o candidato do governo, o tucano José
Serra, empunha essa bandeira. O
oposicionista Lula, portanto, não
poderia perdê-la.
Gradualismo
Se eleito, Lula sabe que o quadro
econômico poderá se complicar
pela expectativa da comunidade
internacional e do empresariado
brasileiro em relação à capacidade gerencial do PT.
A eventual e inédita chegada do
PT ao poder prevê um gradualismo na implementação das políticas de distribuição de renda e retomada do crescimento econômico. Os cem primeiros dias são vistos como o teste de fogo, com turbulência econômica e fase de pôr
a prova a maioria congressual que
se pretende costurar após eventual vitória em outubro.
Ainda dentro desse gradualismo, o partido teria que administrar heranças negativas da era
FHC (dívida pública interna alta e
dívida privada externa preocupante) para dar início ao "governo-do-PT-de-verdade".
É nessa fase de dois anos que o
PT precisaria mais do que nunca
de um bom canal com o FMI e outros organismos internacionais.
Ao final desse período, Lula crê
que terá aprovado uma reforma
tributária e terá colhido na balança comercial os frutos de um esforço de exportação.
Logo, a última coisa que fará será hostilizar o Fundo -entidade
que já constou do vocabulário petista como vampiro-mor dos países em desenvolvimento e que hoje é classificada como UTI.
Ninguém gosta de médico e
muito menos de UTI, mas o PT
poderá recorrer a ela na busca dos
dólares que prometem rarear ainda mais se a economia dos EUA
continuar a patinar.
(KENNEDY ALENCAR)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|