São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Só uma minoria tem segurança jurídica no país, diz delegado

Protógenes admite blindagem de escritório de advogado, mas diz que "não se pode proteger exercício da advocacia criminosa"

Para ele, crítica ao uso de algema é feita quando ela é usada "nas pessoas mais favorecidas", porém não quando é colocada no pobre

DO ENVIADO A BRASÍLIA

Protógenes Queiroz diz ver uma possível mudança na Lei das Escutas Telefônicas como uma posição de quem não está comprometido "com as idéias que a sociedade está exigindo". Segundo ele, que vê com "naturalidade" o projeto que blinda escritórios de advocacia, são poucas as pessoas que recorrem ao Judiciário e têm sua demanda atendida prontamente. "Hoje a segurança jurídica está disponibilizada para uma minoria privilegiada no país."

 

FOLHA - Como o sr. vê a mudança na lei da interceptação telefônica depois da Operação Satiagraha?
QUEIROZ
- São posições e posturas de pessoas comprometidas com outros ideais, não com as idéias que a sociedade está exigindo. É um processo que não ocorreu só no Brasil. Na Itália também ocorreu esse processo de restrição dos poderes das autoridades. Já nos EUA houve ampliação desses poderes.

FOLHA - O sr. teme um retrocesso no Brasil no combate ao crime?
QUEIROZ
- Há necessidade de revisão da lei processual penal.
Uma revisão que se discute há muitos anos, mas que até hoje não formou um consenso que atenda à sociedade. Enquanto ela não vem, vamos sentir esses descalabros de insegurança, até mesmo insegurança jurídica.
A sociedade não se sente segura juridicamente. Porque hoje a segurança jurídica está disponibilizada para uma minoria privilegiada no país, não para a maioria da população. A maioria é desprestigiada mesmo. É punida mesmo. É só ver quantas pessoas que recorrem ao Judiciário têm sua demanda atendida rapidamente.

FOLHA - Como o sr. interpreta o projeto que prevê a blindagem dos escritórios de advocacia?
QUEIROZ
- Vejo com certa naturalidade. Faz parte do processo democrático. É o sistema de freios e contrapesos que você vê nos próprios órgãos públicos. É um pleito legítimo. Eles quererem a proteção do exercício da advocacia, acho que tem que ser protegido mesmo. Agora, não se pode proteger o exercício da advocacia criminosa. Quando o advogado adere a uma conduta criminosa, deixa de ser advogado. Não merece proteção constitucional, não merece a prerrogativa do exercício da profissão. O exercício de advocacia que eu conheço é o de um Rui Barbosa, um Sobral Pinto, um Evaristo de Moraes, um Evandro Lins e Silva.

FOLHA - Como o sr. encarou as críticas ao uso de algemas em presos da Operação Satiagraha?
QUEIROZ
- Todo mundo critica quando a algema é visível nas pessoas mais favorecidas. Pelo menos uma grande parte da sociedade critica, falando que há abuso, que se deve preservar a inocência e a imagem do preso.
E aquele pobrezinho que foi algemado lá na caatinga, no Nordeste, e o botaram sentado no chão com vários repórteres em cima e vários policiais em volta, questionando se ele tinha praticado crime, se era traficante ou se a droga era para uso pessoal? Alguém questionou o uso da algema naquele menos favorecido?


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Foco: Protógenes é assediado por fãs nas ruas e recebe 3 ofertas para escrever livro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.