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PF aponta lavagem de dinheiro por meio de fundo do Opportunity
Perícia descreve como doleiros brasileiros teriam enviado US$ 19 mi para Cayman em sistema fora do controle do BC
Relatório da Satiagraha diz que pelo menos 15 cotistas do fundo respondem por crimes financeiros; grupo nega as acusações da PF
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O relatório final da Operação
Satiagraha, que investigou o
banqueiro Daniel Dantas,
apontou indícios de lavagem de
dinheiro no Opportunity Fund,
um fundo de investimentos
criado em 1994 no paraíso fiscal das Ilhas Cayman.
Uma perícia da Polícia Federal, anexada ao inquérito, revela que doleiros brasileiros
-operando empresas de fachada num sistema paralelo, à
margem do controle do Banco
Central- remeteram pelo menos US$ 19,4 milhões ao fundo
de Cayman por meio de 283
transações bancárias.
As leis de Cayman resguardam os nomes dos cotistas do
fundo, cujo patrimônio já foi
estimado em R$ 2 bilhões. O
fundo teve participação ativa
nas privatizações de estatais
feitas pelo governo Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002), arrebatando a telefônica
Brasil Telecom e o terminal de
contêineres do porto de Santos
(SP), entre outros ativos.
No relatório, entregue à Justiça Federal, o delegado da PF
Ricardo Saadi descreveu que
pelo menos 15 cotistas do fundo, residentes no Brasil, respondem ou responderam a
acusações sobre crimes de natureza financeira.
Um deles é um ex-funcionário do Banco Central que em
2001 foi denunciado ao Ministério Público pelo próprio BC
por suspeita de cobrar indevidamente quase US$ 2 milhões
para operar irregularmente reservas de ouro em favor do
Dresdner Bank de Nova York.
Parte dos recursos dos cotistas chegava a Cayman por meio
de doleiros em operações conhecidas desde a década de 90.
Três doleiros ouvidos pela PF
confirmaram as operações em
prol do fundo: Clark Setton, Richard Otterloo e Luis Filipe
Malhão e Souza.
Pelo sistema do "dólar-cabo",
o dinheiro do cotista era entregue ao doleiro no Brasil, que
transferia para Cayman recursos de conta bancária aberta no
exterior em nome de uma empresa de fachada. Assim, o sistema do BC não identificava os
verdadeiros donos do dinheiro.
O dinheiro do fundo em Cayman, segundo a PF, foi reinvestido no Brasil por meio do fundo de investimento Opportunity Luxor, que tem apenas um
cotista, ou a empresa International Markets Investiments.
Segundo a PF, "brigas societárias" em Cayman levaram o
Opportunity a criar um segundo fundo, nos mesmos moldes.
O Unique, sediado nas Ilhas
Virgens Britânicas, investe no
Brasil por meio de empresas sediadas em Delaware, paraíso
fiscal dos EUA, e no Uruguai.
"A rentabilidade dos investimentos [no Brasil] era paga aos
cotistas no exterior, os quais,
além de ocultarem os recursos
das autoridades brasileiras, não
recolhiam os impostos devidos,
causando prejuízo ao erário
brasileiro", afirmou o relatório.
Com base no depoimento de
Maria Gabriela Bouquerel, que
atuou na tesouraria internacional do Opportunity, Saadi
apontou que a deflagração da
Operação Satiagraha, em 2008,
levou as autoridades monetárias de Cayman a determinar a
troca de diretores do fundo por
nomes "independentes".
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