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Estudo revela Amazônia desconhecida e preservada
Exército prepara mapa inédito de região que ocupa área equivalente à Alemanha
Levantamento cartográfico
de área noroeste conhecida como Cabeça do Cachorro tem previsão de demorar 5 anos e custar R$ 150 milhões
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de um ano de trabalho, o Exército acaba de concluir a primeira parte de um tipo de levantamento cartográfico inédito na Amazônia.
Na região estudada -que fica
a noroeste, é conhecida como
Cabeça do Cachorro e ocupa
uma área equivalente à Alemanha (350 mil quilômetros quadrados)-, as primeiras conclusões indicam que ali a floresta
está mais preservada do que há
30 anos, possui inúmeros igarapés jamais visualizados nas
imagens de satélites e perdeu
comunidades indígenas pelas
dificuldades de sobrevivência.
A partir de 2010, começarão
os estudos para avaliar as espécies vegetais da região (principalmente as castanheiras e seringueiras, típicas da floresta
existente no local), seu valor
comercial, a composição geológica do solo e o desenho pormenorizado dos novos riachos
descobertos, trabalhos que serão feito pelo Ministério das
Minas e Energia e pela Marinha, respectivamente.
Os resultados vão revelar inicialmente o perfil de São Gabriel da Cachoeira e Barcelos,
as duas primeiras das dez microrregiões em que a Cabeça do
Cachorro foi dividida para a
realização da pesquisa, que ao
todo vai demorar cinco anos e
custará, incluindo partes náutica e geológica, R$ 150 milhões.
As cartas mais recentes sobre
a Amazônia são dos anos 1990 e
não incluem a região da Cabeça
do Cachorro. "Temos ali um vazio cartográfico, um nada. É difícil até mesmo organizar os
trabalhos de fronteira que precisamos realizar", diz o general
Augusto Heleno, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.
Sem surpresa
Os primeiros resultados do
levantamento, feito sob a coordenação do general Ronalt
Vieira, não surpreenderam o
Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), responsável pelos números oficiais do
desmatamento no país, nem os
ambientalistas.
"Todo o oeste da Amazônia,
como é o caso, não possui estradas. Como o acesso é somente
por rios, isso dificultada a exploração. E o fato de não se ter
gado ali permite uma regeneração rápida da mata, porque o
gado compacta o solo e dificulta
o florescimento das sementes
de maneira natural", diz Dalton
Valeriano, pesquisador do Inpe
especializado na região.
Segundo números do instituto, o desmatamento de floresta
nativa em São Gabriel da Cachoeira caiu de 1.500 km2, em
2003, para 610 km2 em 2007.
Trata-se de uma realidade
complemente diferente daquela encontrada, por exemplo, no
Estado do Pará, um dos mais
atingidos pelo desmatamento,
decorrente, primeiro, da exploração ilegal de madeira e, na sequência, do gado.
Dados positivos
Em junho, o ministro do
Meio Ambiente, Carlos Minc,
apresentou os números mais
novos sobre o desmatamento,
que são positivos: de fevereiro a
abril, a área devastada foi de
197 km 2, contra 1.900 km2 no
mesmo período de 2008.
Ou seja, houve redução de
90%, mas, de acordo com o ministro, a maior quantidade de
nuvens neste ano pode ter impedido a captação de imagens
de novas áreas desmatadas.
"A inexistência de estradas e
a falta de perspectiva de haver
doação de área pública são fatores fundamentais para a preservação da região noroeste da
Amazônia", diz Paulo Barreto,
da ONG Imazon.
Tecnologia
O trabalho do Exército também é inédito pela tecnologia
que utiliza, cujas fotos tiradas
de um avião ultrapassam a copa
das árvores, dando uma visão
mais precisa sobre a vegetação
e também o relevo, dados que
ficavam prejudicados com a limitação de imagens colhidas
por satélite, que esbarraram
nas nuvens principalmente.
A disciplina militar e o conhecimento da região -boa
parte dos soldados envolvidos
na ação tem origem indígena-
são fundamentais para o trabalho. São 20 dias de viagem por
rio para a chegada do combustível à Cabeça do Cachorro.
O avião empregado no trabalho de mapeamento da região
começou a voar em outubro.
Até o final de maio, foram consumidos 1 milhão de litros de
querosene nos voos.
Pelos dados do general Ronalt, nos três próximos anos,
tempo em que ele pretende
concluir a parte de voo e registro de imagens da região inteira, o avião empregado no trabalho terá voado 900 mil quilômetros quadrados -teria dado,
mais ou menos, 40 voltas em
torno da terra.
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