São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Lulinha, paz e armar


O não-crescimento do PIB é a continuidade do crime que a política econômica vem há mais de dez anos cometendo

A LIBERDADE que os políticos brasileiros têm para fazer afirmações falsas, sobretudo, quando se trata de negar erros e acusações, é tão pouco levada a sério quanto é influente na desmoralização da política. São mínimas as correções feitas pelos meios de comunicação. E, quando feitas, jamais têm dimensão proporcional tanto à inverdade propalada, quanto ao alerta devido ao leitor/espectador/ ouvinte.
Apesar de só agora entrar na fase mais acirrada, a campanha eleitoral já é tão farta em tapeações lançadas sobre o eleitorado, que torna lógico e natural o recente lançamento de Collor a senador por Alagoas. Alvo mais exposto na disputa pela Presidência, Lula se põe como usuário incomparável da liberdade nefasta. Não é prática recém-adquirida, percorreu todo o mandato. Em meus anos de testemunha, não sei de quem pudesse ser-lhe comparado, além do já lembrado Collor e dos generais "democratas" da ditadura.
Um exemplo, como ilustração, ainda fresquinho: Lula explica o criminoso crescimento econômico de apenas 0,5%, no segundo trimestre do ano, à "torcida contra" de "gente que teima" em fazê-la e, como complemento técnico, à redução do tempo trabalhado durante a Copa do Mundo.
Os fluidos emitidos pela tal torcida pertencem a categorias mágicas, poções de druidas e outras maravilhas que não cabem aqui. Mas o subterfúgio da Copa do Mundo, também figurante como parte nas explicações de alguns economistas oficiosos, não resiste a uma confrontação nem com este mesmo ano.
O primeiro trimestre, agraciado pelo verão, é período de férias. Ainda por cima, é uma espécie de ressaca dos meses natalinos e seus antecessores preparatórios, fase de atividade econômica mais intensa dos anos. E ainda por cima, se considerados os dias, o primeiro trimestre teve um mês de 28 dias, o feriado de 1º de janeiro e o Carnaval. No segundo semestre, a Copa do Mundo provocou apenas a dispensa parcial do expediente em cinco dias, e muitas empresas, dotando-se de TV, só deram a folga durante o jogo. Mas o crescimento no frágil primeiro semestre foi de 1,3%, quase três vezes os 0,5% do segundo.
Esse não-crescimento equivale, sim, à continuidade do crime que a política econômica vem há mais de dez anos cometendo contra o presente e contra as gerações futuras. O "programa" do PT revela preocupações de Lula e de seu possível segundo governo com o rearmamento do Brasil, propondo a reativação da indústria bélica para prevenir riscos insondáveis do futuro. Mas as gerações sucessivas que chegam à idade do trabalho, e portanto dependem do crescimento econômico, não inspiram preocupação. Basta dizer, a respeito, que a culpa é da Copa do Mundo. E silenciar que o "crescimento" do Brasil é o pior dentre todos os países emergentes. E o que ostenta os juros mais antieconômicos e anti-sociais do mundo, com seus 9,4% já descontada a inflação, tão perto do dobro do segundo colocado, a Turquia dos 5,1%.
Se eleito, Lula deveria erguer um monumento de gratidão a seu principal adversário, outro à oposição e um terceiro aos meios de comunicação, por deixá-lo em tamanha paz.


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