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ELEIÇÕES 2006 / TENDÊNCIAS DO VOTO
Voto nulo cai, mas atrai cético politizado
Parcela de eleitores disposta a votar nulo ou em branco diminuiu pela metade desde agosto de 2005, no início da crise do mensalão
Anarquistas "e inimigos do sistema" ganham reforço de desiludidos com o PT e
usam internet para difundir suas idéias e se organizar
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pergunta ronda a campanha eleitoral: se a percepção
de que cresce o número de eleitores dispostos a anular o voto
no mês que vem não encontra
respaldo nas pesquisas, de onde ela surge, afinal?
A primeira e mais óbvia resposta, de que a massificação da
internet entre o eleitorado
mais esclarecido e o surgimento do Orkut -site de relacionamentos que concentra cerca de
300 comunidades sobre o assunto- ampliaram a troca de
informações entre os descontentes ajuda a entender, mas
não dá conta do paradoxo.
O percentual de eleitores dispostos a votar nulo ou em branco para presidente caiu gradativamente desde o mensalão. O
índice chegou a 10% em agosto
de 2005, auge da crise, mas hoje
é de 5%. Mas a percepção não
diminuiu, a ponto de o Tribunal Superior Eleitoral fazer
uma campanha contra o nulo.
Um mergulho nos movimentos que pregam a anulação revela um dado que talvez seja a
novidade desta eleição, e, de
quebra, a chave para compreender o fenômeno: produto
de desencanto com o PT e com
a classe política em geral, o cético eleitoral de 2006 parece
mais politizado e propositivo.
Não que anarquistas e inimigos do sistema em geral tenham desistido de pregar. Mas
a eles juntou-se um grupo que
já votou antes e pretende voltar
a fazê-lo, desde que sob novas
regras e novos políticos.
Criado por estudantes da
USP há um ano para protestar
contra o mensalão, o movimento Brasília 17 organiza reuniões
e atos públicos em favor do voto nulo. Já tem dez comitês espalhados pelo Estado de São
Paulo, somando 150 pessoas.
"Em todos os encontros há a
cobrança para que a gente
avance para uma forma de organização política. Não somos
contra os partidos, mas contra
esse modelo falido", afirma o
formando em arquitetura Alexandre Bonoit, 26 anos, que já
votou no PT e no PSTU.
O Brasília 17 não sabe ao certo que modelo traria esse avanço. "Talvez inspirado nos sovietes pré-Revolução Russa, grupos organizados de participação. Algo que não seja burocratizado e dê voz às pessoas."
Um dos precursores do agito
pelo voto nulo na internet, o
Movimento Brasil Nova Era,
que deu origem à comunidade
MobilizAÇÃO Voto Nulo (com
32 mil integrantes no Orkut),
surgiu em 2004 sob a bandeira
da democracia direta.
"Defendemos a extinção dos
partidos e do político profissional. O que temos mais próximo
disso é a Suíça. Aqui, as pessoas
que gostariam de participar da
política mas não querem sujar
as mãos não podem, porque
têm que comprar legenda", diz
o advogado Homero Moutinho,
57, fundador do grupo.
Um dos seu seguidores é o estudante paulistano Lourenço
Zein, 16. "É meu primeiro voto,
e vou anular. Não sou anarquista, sou democrata e me apaixonei pela democracia direta. Estou nessa para tentar mudar esse sistema político corrompido
e um dia poder votar."
A campanha do Movimento
Anule Seu Voto, com site na internet e comunidade no Orkut,
pede o fim do voto obrigatório.
"Nascemos do mensalão. Não
quero ter que votar no menos
pior. Mas é uma situação momentânea. Eu quero voltar a
acreditar", diz o comissário de
bordo Carlos Rodrigues, 30,
criador do grupo e ex-eleitor do
PT e de Ciro Gomes.
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