São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Agentes podem ter feito grampo, diz general

Jorge Felix nega que Abin, como instituição, esteja envolvida, mas admite a possibilidade de participação de funcionários

Ministro diz que órgão não tem poderes nem material para fazer interceptações e que única forma de evitar escuta é "não abrir a boca"


MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento ontem à CPI dos Grampos da Câmara, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Jorge Armando Felix, negou que a Abin, como instituição, tenha grampeado o telefone do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes. Mas, apesar de dizer que a "probabilidade é baixa", não descartou a hipótese de a interceptação ter sido feita por agentes da própria agência.
"Não, certamente não. A Abin, como instituição, não fez e não faz essas coisas [grampos], mas quando digo que não descartamos nenhuma hipótese é porque trabalhamos com seres humanos. Agora, se você me perguntar qual é a probabilidade [de agentes terem realizados a escuta], eu diria que é baixa, porque os chefes têm controle de seus funcionários."
Segundo o general, a Abin não tem poderes nem material para realizar escutas, já que os únicos equipamentos comprados pela agência seriam para fazer varreduras. Ele afirmou que, quando a agência identifica suspeitas de atividades criminosas em suas investigações, repassa o caso para a Polícia Federal -responsável por pedir os grampos-, mas que "infelizmente" há precedentes de interceptações realizadas por funcionários dentro da agência.
Ele também disse que o presidente Lula foi alvo de escutas em viagem ao exterior. Sem dar detalhes, falou que os equipamentos foram destruídos.
Ainda sobre a conversa gravada entre Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), Felix disse que não pretende fazer especulações. O ministro disse apenas acreditar que a ligação grampeada entre os dois tenha ocorrido de um telefone fixo para outro móvel. "Pode ter sido de qualquer lugar, no Senado, no STF ou ainda pode ter sido de uma programação de computadores das operadoras", disse. Questionado se a Abin dispunha das chamadas maletas especiais para fazer grampos, ele limitou-se a dizer que não sabia.
Felix disse ter conhecimento que maletas foram compradas para o Pan do Rio no ano passado. Segundo ele, o equipamento foi adquirido "provavelmente" pela Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), ligada ao Ministério da Justiça.
Procurado, o Ministério da Justiça afirmou que não poderia confirmar o dado, pois o diretor da Senasp, Ricardo Balestreri, estava em viagem.
Questionado ao final do depoimento -que levou cerca de seis horas- sobre métodos para evitar grampos, Felix disse: "a única forma realmente eficaz é não abrir a boca".

Sem crise
Durante o depoimento, o general negou ainda que a PF e a Abin passem por uma crise. Para ele, todo relacionamento é formado por altos e baixos. No momento qualquer crise que possa ter havido foi superada, disse. Ele aproveitou para elogiar e manifestar sua "integral confiança" em Paulo Lacerda, diretor da agência, e dizer que seu afastamento aconteceu para "evitar constrangimentos".
O ministro também disse que a agência não faz dossiê, apenas levantamento de dados biográficos de possíveis contratados.
Felix repetiu o discurso de Lacerda de que a agência participou só pontualmente da Operação Satiagraha, que levou à prisão de Daniel Dantas.
Hoje, a CPI deve ouvir o diretor-adjunto afastado da Abin, José Milton Campana, que foi dispensado ontem pela comissão. Ontem, os deputados aprovaram requerimento para ouvir Ailton Carvalho de Queiroz, chefe de segurança do STF.


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