São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Político não gosta da web

MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Em que pese a capacidade do Congresso de mudar tudo em cima da hora para deixar tudo como está, há algo evidente nesse "imbróglio" legislativo sobre a relação entre web e eleição: o Congresso pouco ou nada entende do fenômeno da web. E do que entende, não gosta.
Alguém poderia dizer que, afinal, a web é muito recente, por isso a dificuldade. Não é. A web comercial tem no Brasil quase 15 anos de existência. A internet apareceu por aqui mais de dez anos antes. O problema não é a novidade, mas a essência mesma da rede. A web é libertária demais para este tipo de discurso. Já se tentou coibir a expressão política em rede, e os tribunais superiores já se manifestaram contra isso.
Essa energia anárquica volta-se muitas vezes contra o estabelecido, foge ao controle. Isso é um problema para um Congresso como o nosso, em um país cartorial como o Brasil, onde tudo para ser legítimo precisa estar submetido a regulamentos, decretos e portarias.
Não demora muito vai se propor o Dia Nacional do Blogueiro e o Registro Nacional de Twitteiros e Afins (RNTA), eventualmente com necessidade de diploma para sua obtenção. Afinal, trata-se de uma mídia com milhões de usuários. E mídia nada fácil de usar, como se viu por exemplos recentes de irrevogabilidade revogável.
Quem quiser postar algo contra ou a favor de um candidato, o fará, em um site fora do Brasil, por exemplo. Exigir que um debate na rede inclua um monte de candidatos significa não querer que ele aconteça. Ponto.
A rede não é um sistema de "broadcasting", onde uma emissora transmite um sinal e envia um determinado conteúdo, uma mensagem, a milhões de ouvintes. Não é TV, nem rádio. Não é uma concessão.
São milhões de usuários (no Brasil serão mais de 70 milhões ano que vem, no atual ritmo de crescimento) enviando mensagens a milhões de usuários. Quase todos, diga-se, eleitores.
"É proibido isso e aquilo na web em época eleitoral." Ok, e aí? Vamos colocar um sargento da Rota no ombro de cada usuário do Twitter, de cada blogueiro, de cada autor de comentário, de cada emitente de uma mensagem, um e-mail, um sms? Multar todo mundo? Fingir que não viu? Nos EUA, a turma de Obama usou a web a seu favor. Deu no que deu.


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