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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASSAÇÃO NO AR
Deputado sustenta que não sabia da origem de recursos e espera "racionalidade" de Aldo Rebelo
Cabia a PT prestar contas de saque, afirma João Paulo
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Um dos mais importantes parlamentares ameaçados pelo escândalo do "mensalão", o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha (PT-SP),
47, diz que a presença de Aldo Rebelo (PC do B-SP) no comando da
Casa é positiva para sua defesa e a
de todos os acusados, pois restabelece a "racionalidade" do processo.
João Paulo integra a lista dos
ameaçados de cassação porque
sua mulher, Márcia, foi ao Banco
Rural sacar R$ 50 mil da conta do
publicitário Marcos Valério. Sua
situação piorou porque ele, primeiro, disse que a visita tinha sido
para tratar de uma conta de TV a
cabo e só depois admitiu o saque.
João Paulo diz que foi apenas intermediário dos recursos e que esperava que fossem contabilizados
pelo partido. E nega que tenha
mentido. "Não falei sobre o saque
porque eu não sabia que esse dinheiro fazia parte do objeto de investigação das CPIs", diz.
Procurado no sábado para explicar sua evolução patrimonial
(de R$ 232 mil, em 2002, seus bens
subiram para R$ 434 mil, em
2004), João Paulo disse estar em
dia com a Receita Federal.
Folha - Por que o sr. pediu para
sua mulher ir ao Banco Rural retirar
R$ 50 mil?
João Paulo Cunha - Esse dinheiro
era do PT, solicitei ao tesoureiro
para repassar aos diretórios do
partido [na região de Osasco].
Houve demanda a mim por recursos para preparar as campanhas de 2004 e procurei onde deveria ter procurado, com o tesoureiro do meu partido. Ele disponibilizou, disse que estaria na agência do Banco Rural daqui. A ida da
minha mulher, ao invés de agravar minha situação, como todo
mundo pensa, na verdade atenua.
Se houvesse qualquer possibilidade de eu saber que esse dinheiro
não era do partido eu ia mandar
minha mulher? Para depois passar por uma situação constrangedora como estamos passando? Seria um negócio ridículo, né?
Folha - Então, por que sua primeira atitude foi negar e dizer que ela
tinha ido ao banco resolver um problema da conta da TV a cabo?
João Paulo - Mas ela foi mesmo.
Na ocasião tinha saído a lista das
pessoas que tinham ido ao prédio
do Brasília Shopping. Me apressei
em dizer que ela tinha ido mesmo,
para resolver um problema na
conta da TV a cabo de São Paulo.
Não é mentira. Foi no mesmo dia
em que ela foi fazer o saque.
Folha - Por que quando perguntaram o que ela foi fazer no banco o
sr. não mencionou o saque?
João Paulo - Eu não sabia que esse dinheiro que ela foi sacar fazia
parte do objeto de investigação da
CPI, eu estava certo de que era um
dinheiro do PT.
Folha - Mas nessa altura o Roberto Jefferson já havia dito que as
operações do Marcos Valério passavam pelo Banco Rural. O sr. não
associou as coisas? Não sabia que
se tratava de caixa dois?
João Paulo - Claro que não. A
minha compreensão era de que
como era um dinheiro do PT, a
responsabilidade de prestar contas era do Diretório Nacional.
Folha - Mas não há, no mínimo,
uma omissão da sua parte?
João Paulo- Não menti. Também não me omiti. Me perguntaram: sua mulher foi ao banco? Eu
respondi: foi ao banco. Me perguntaram depois: teve o saque?
Eu respondi: teve o saque.
Folha - De qualquer forma, há um
fluxo de dinheiro para políticos
que tem uma regularidade, mesmo
que não seja mensal. Isso não caracteriza o "mensalão"?
João Paulo - Os relatores das
CPIs disseram no relatório o que
caracteriza o "mensalão". "Mensalão" configura: a prática de caixa dois; compartilhamento de
cargos ou utilização de diretorias
como forma de extorsão de empresas contratadas pela administração pública; esquema ilegal de
financiamento voltado ao aliciamento de parlamentares para a
base do governo; pagamento de
suborno com alguma periodicidade; migração exagerada em direção a determinados partidos.
Onde eu me encaixo nisso? Nem
em caixa dois, porque eu não era
candidato.
Folha - A DNA fez sua campanha à
presidência da Câmara. Depois, um
de seus principais assessores [o jornalista Luís Costa Pinto] foi contratado pela SMPB. Depois, outra empresa do mesmo grupo vira a agência da presidência da Câmara. E o
dono da mesma empresa paga R$
50 mil para o sr. Não há claríssimo
conflito de interesses nisso tudo?
João Paulo - A DNA fez minha
campanha à presidência contratada pelo PT. O Luís Costa Pinto
prestava efetivamente serviço para a Câmara. Dentro do contrato
da agência havia uma cláusula de
contratação de uma consultoria
permanente. Essa é uma prova
que eu não sabia de nada: se eu
soubesse que a SMPB estava para
ganhar uma concorrência na Câmara e que o dinheiro era da empresa eu iria lá buscar? Isso atenta
contra a minha inteligência.
Folha - A presença de Aldo Rebelo
na presidência da Câmara, muda
alguma coisa?
João Paulo - A vitória do Aldo
restabelece a previsibilidade dos
trabalhos legislativos, traz de volta a serenidade para a discussão e
acima de tudo refaz a necessária
racionalidade na política. Ele sabe
que deverá encaminhar com correção esses processos, não pode
praticar injustiças com inocentes
e nem inocentar quem tiver responsabilidade.
Folha - Isso não pode ser confundido com alguma tentativa de se
fazer uma pizza, uma acomodação
de interesses?
João Paulo - Ele não se prestaria
a isso. O julgamento não muda. A
presença do Aldo dá muita estabilidade. Você faz com que as pessoas sejam ouvidas, que cada um tenha o devido processo legal.
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