São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Polícia ou política


Toda especulação sobre o resultado da nova disputa ou sobre o mandato vindouro por ora é despropositada

TANTAS VEZES foi dito que os escândalos do submundo petista não colavam em Lula, apesar de circundá-lo tão de perto, que o eleitorado decidiu dar duas respostas de uma só vez -à conclusão infundada e ao próprio Lula, cuja presunção crescente foi forçada pelo eleitorado a um recolhimento urgente.
A imposição de segundo turno não tem significações só em relação a fatos e políticas passadas. Faz a censura prévia, senão mesmo o veto insolúvel, a projetos de Lula para o novo mandato que esperava lhe chegar pela consagração da vitória já em primeiro turno. O provável acirramento das relações entre as duas partes, na segunda disputa, deixará marcas que forcem a redução das idéias para reforma política, "concertação" e novo partido, como as estavam formulando Lula e assessores seus para o segundo mandato. A possível vitória, na nova disputa, não os livrará de rever as ambições que implicavam perigoso aumento da concentração de poder político e administrativo na Presidência.
No caso de Lula, o resultado aritmético da votação, com sua maior soma de votos, não corresponde ao resultado político. Neste sentido, Lula foi derrotado. Não por Alckmin, que se elevou ao embalo do submundo do petismo. Mas Lula saiu da eleição mais derrotado que Heloísa Helena e Cristovam Buarque, escoteiros agraciados pelo respeito que ex-eleitores de Lula recusaram a ele. A perda de força política, decorrente da derrota na busca pela vitória imediata, não poderá ser restaurada pelo êxito, se houver, no segundo turno.
Toda especulação sobre o resultado da nova disputa ou sobre o mandato vindouro, seja de que for, por ora é despropositada. Dadas as circunstâncias eleitorais e, aspecto original da disputa, por circunstâncias policiais. A inconsistência dos partidos leva os candidatos a negociações Estado a Estado, com partidos diferentes e, neles, correntes conflitantes. Há que aguardar as preliminares de tais negociações variadas, para deduzir suas prováveis influências na disputada eleitoral. Embora, nesse aspecto, desde logo haja tendências mais favoráveis a Lula.
Mas as circunstâncias políticas estão condicionadas pelos desdobramentos que possam ter as investigações do caso dossiê, já estabelecidas suas conexões com o caso dos sanguessugas. As quais levam o PSDB de Alckmin para fazer par com o PT, em vista dos indícios, ou mais do que isso, de que a ação dos sanguessugas foi criada e projetou-se desde o controle dos cofres da Saúde em mãos de Barjas Negri, então ministro de Fernando Henrique e hoje prefeito peessedebista de Piracicaba. Se lembrarmos que também o "valerioduto" foi criado no PSDB de Minas, para servir ao então governador e hoje senador Eduardo Azeredo, conclui-se que não seria lógica a bandeira da ética para a disputa do segundo turno pelo PSDB, como pregam suas eminências.
Sobre a próxima Presidência do Brasil, portanto, por agora tanto faz ler o noticiário político ou o de teor policial.


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