São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

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Senado desiste de juntar processos contra Renan

Pressionado, presidente do Conselho de Ética recua em manobra favorável ao colega

Aliados de senador também não conseguem arquivar caso Schincariol; definição de investigações pode ficar para 2008, diz Quintanilha

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado por senadores da oposição e da base governista, em mais uma sessão marcada por bate-boca e tensão, o presidente do Conselho de Ética da Casa, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), desistiu de juntar dois processos contra Renan Calheiros (PMDB-AL) por quebra de decoro.
Quintanilha foi criticado por quase todos os membros do conselho por ter escolhido Almeida Lima (PMDB-SE) para analisar, em conjunto, os dois processos pendentes contra Renan: um que trata de denúncia do uso de "laranjas" na compra de rádios em Alagoas e outro que o acusa de ter se beneficiado de um esquema de desvio de recursos de ministérios comandados pelo PMDB.
"Quero fazer um apelo ao bom senso. Para mim, a decisão soou como provocação", disse o líder do DEM, José Agripino Maia (RN). "Está desagradável conviver nesta Casa e essa atitude amplia isso", afirmou.
"O senhor não deveria ter convidado o senador Almeida Lima, e ele não deveria ter aceitado. A decisão expõe o Senado, a dose do remédio foi exagerada e pode virar veneno", disse Renato Casagrande (PSB-ES).
A discussão irritou Almeida Lima, que reagiu aos gritos e deu o tom do que seria a reunião do Conselho de Ética. "Não sou advogado de Renan", disse. Depois, atacou Agripino: "Não vejo em vossa Excelência condições morais nem éticas acima das minhas".
O peemedebista ainda discutiu com Cristovam Buarque (PDT-DF). "Vossa Excelência não tem a capacidade de auscultar a opinião pública, não tem representação nacional e o resultado das urnas não lhe foi favorável", disse.
Cristovam rebateu. "Vamos fazer essa reunião no Maracanã ou na rodoviária para ver qual é a opinião pública, o que pensa a opinião pública."
A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), que tradicionalmente participa das reuniões do conselho, não apareceu. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) defendeu que os processos fossem analisados separadamente e concluídos em 30 dias.
DEM e PSDB tentaram derrubar a decisão de anexar os processos por meio de um requerimento, mas Quintanilha não acatou. Após três horas de discussão, entretanto, ele cedeu à pressão e prometeu anunciar hoje mais um relator. "A prerrogativa é minha, mas resolvi atender ao apelo da maioria dos membros do conselho", afirmou.
Com essa decisão de Quintanilha, Renan perde o controle de uma das relatorias no conselho. Ele também não conseguiu arquivar o segundo processo, sobre o caso Schincariol.
Relator do caso Schincariol, o senador João Pedro (PT-AM) acatou "sobrestar" (congelar) o caso até a Câmara concluir suas investigações, que envolvem o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão de Renan. "Não estou encerrando o processo, esse não é o relatório", disse João Pedro.
Antes da reunião do conselho, Renan defendeu a escolha de Almeida Lima. "O pouco usual seria colocar uma dessas pessoas [do PSDB ou do DEM] para ser relator, já que assinaram a própria petição", disse.
"Tivemos 46 votos pela absolvição, portanto é difícil saber quem é o principal aliado ou quem é a pessoa de vanguarda na oposição. Isso é um processo político, e processo político é assim mesmo."
Apesar de ceder, Quintanilha ainda deixou uma margem de manobra para Renan. Segundo ele, Almeida Lima continuará como relator de um dos dois processos, mas não definiu qual. Nos bastidores, os aliados de Renan optarão por aquele que julgarem ser mais complicado -em princípio, o da compra de rádios.
Além disso, os peemedebistas tentarão esticar o calendário do conselho. Questionado se havia garantia de que os processos estarão concluídos até o final do ano, Quintanilha respondeu: "Nenhuma".
O nome preferido da oposição para ocupar uma das relatorias é Demóstenes Torres (DEM-GO), mas a avaliação é que Renan pressionará Quintanilha para não aceitar. Diante disso, as alternativas seriam Jefferson Péres (PDT-AM) e Eduardo Suplicy (PT-SP).


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