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ELEIÇÕES 2008 / POLÍTICAS PÚBLICAS
Modelos de gestão contrapõem os candidatos na área da cultura
Marta une ações com educação, Kassab prioriza resgate do patrimônio e Alckmin, a terceirização
Ex-secretário petista fala em
"emancipação social" com
incentivo do Estado; atual
titular prega "liberdade" em
espaços culturais públicos
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A semelhança de propostas
dos candidatos com chances de
chegar ao segundo turno da sucessão paulistana não se aplica
à área da cultura. Marta Suplicy
(PT), Gilberto Kassab (DEM) e
Geraldo Alckmin (PSDB) têm
modelos de gestão até antagônicos, já comprovados por suas
experiências no poder público.
Na prefeitura, Marta (2001-2004) descentralizou a gestão e
uniu atividades culturais, educacionais e de inclusão social,
elegendo os CEUs (Centros
Educacionais Unificados) da
periferia como equipamento
principal, numa política que
promete retomar caso se eleja.
Já Kassab priorizou espaços
culturais separados do ambiente escolar -a Secretaria de Cultura não participa mais da gestão dos CEUs, por exemplo.
Voltou a centralizar a administração, aumentou o orçamento
da área e iniciou reformas de
equipamentos já existentes, como teatros e bibliotecas. Num
eventual segundo mandato,
promete revitalizar o centro
"por meio do vetor cultural".
O modelo proposto por Alckmin é igual ao de quando era
governador (2001-2006). Como ocorre na Pinacoteca do Estado, ele planeja passar a gestão
de equipamentos como o Centro Cultural São Paulo e o Teatro Municipal para as mãos de
organizações sociais. O tucano
ainda cita a criação da "Broadway paulistana" no centro.
A contraposição de modelos
dos dois candidatos mais bem
colocados nas pesquisas, Marta
e Kassab, fica clara quando titulares da pasta da Cultura de
suas gestões são chamados a
avaliar a área nos últimos anos.
"Participávamos da gestão
intrínseca do projeto por entender a educação como fenômeno integral, em que a cultura
faz parte do processo de conhecimento", diz Celso Frateschi,
ex-secretário de Marta que hoje preside a Funarte (Fundação
Nacional de Artes). "Parece que
agora a Cultura virou prestadora de serviços, não que isso seja
bom ou ruim, mas são visões diferentes. Não há mais uma visão de emancipação social das
pessoas por meio da cultura."
Atual titular da pasta, Carlos
Augusto Calil diz que "não existe opção ideológica". "O que outras gestões faziam era valorizar menos os seus equipamentos", afirma. "O projeto dos
CEUs não é um projeto da Secretaria da Cultura, é um projeto da ex-prefeita Marta que a
pasta foi chamada a acompanhar. Agora mudou um pouco:
temos projeto, não somos mais
periféricos", diz Calil, citando o
aumento do orçamento da pasta de R$ 124 milhões, em 2004,
para os atuais R$ 354 milhões.
A separação física de espaços
culturais e educacionais traz
sentimento de "autodeterminação e liberdade" para os jovens, afirma o secretário, que
entregou um centro cultural na
periferia, na zona norte, e projeta construção de mais cinco.
"Sem instituição de ensino
perto, os moleques se sentem
livres, sem a famosa vigilância
do pai ou do professor. Por que
vamos criar centros culturais
na periferia e não CEUs? Porque não é interessante fazer
CEUs. Não sou contra, mas é
outra coisa. Queremos que as
pessoas tomem posse do equipamento sem precisar ir direto
para a biblioteca ou para o teatro, sem que haja controle sobre o uso do espaço", afirma.
As diferenças de visão se refletiram no destino da Biblioteca Mário de Andrade, no centro, que teve a reforma atrasada
por dois anos porque Kassab
mudou o projeto deixado por
Marta. No plano da petista, o
prédio ganharia três pisos no
subsolo e um restaurante na
cobertura, o que o prefeito do
DEM considerou "equivocado". Ele retomou a antiga idéia
de ampliar a biblioteca com
uma nova torre e desistiu do
restaurante. A obra, de R$ 26
milhões, só acaba em 2009.
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