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ELEIÇÕES 2008 / PORTO ALEGRE
No auge de Lula, PT encolhe entre gaúchos
Uma das razões para enfraquecimento da sigla em Porto Alegre é a divisão da esquerda em várias candidaturas, como de PC do B e PSOL
Enquanto Lula tem 64% de aprovação no país, Rosário soma 22% dos votos; em 2004, Lula tinha 35% e Pont liderava o 1º turno com 38%
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Pouco antes do meio-dia de
ontem, no calçadão da "rua da
praia" de Porto Alegre, uma jovem estendeu um panfleto ao
administrador de empresas
aposentado Luis Alonso Teixeira, 64. "É política?", perguntou ele. Ao ouvir a resposta negativa, estendeu o braço: "Então eu pego".
Com a propaganda da loja de
cartuchos para impressoras à
mão, Teixeira disse que no domingo vai votar nulo para prefeito. Eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, ele se diz
cansado de política.
É o sentimento de parcela expressiva dos porto-alegrenses
em relação ao partido que dominou a prefeitura por 16 anos,
até a eleição de 2004.
No auge da popularidade nacional do petista Lula, o PT encolhe em um dos bastiões mais
politizados do país. Em 2004,
quando o presidente somava
35% de aprovação no Brasil às
vésperas das eleições, Raul
Pont liderou o primeiro turno
municipal com 38% dos votos
válidos (perderia no segundo
para José Fogaça, então PPS).
Hoje, quando Lula ostenta o
recorde de 64% de avaliação
"ótimo/bom", a candidata do
PT na capital gaúcha, a deputada federal Maria do Rosário,
não ultrapassa os 22% das intenções (votos válidos).
Em 2000, o petista Tarso Genro obteve 49% no primeiro
turno e venceu na decisão. Em
1996, Raul Pont triunfou na rodada inicial, com 55%. Pela primeira vez em 20 anos, desde a
vitória de Olívio Dutra em 1988,
o PT pode não ficar entre os
dois primeiros -Fogaça
(PMDB) lidera, e Manuela D'Ávila (PC do B) está tecnicamente empatada com Rosário.
O PT local era tão forte que a
cidade se transformou em sede
do Fórum Social Mundial. Hoje
o cenário é de decadência: houve um tempo em que faltavam
bandeiras vermelhas para tantas mãos que queriam segurá-las; agora é preciso pagar cabos
eleitorais à moda antiga.
"Estive no Rio Grande do Sul
em 60 cidades. O PT vai dobrar
o número de prefeituras no Rio
Grande do Sul", diz Tarso.
O desempregado Edson Romário fazia ontem "visualização" no centro. É assim que ele
chama o bico de agitar bandeira. A campanha petista lhe paga
R$ 420 mensais. Não longe dele, militantes do PSOL, da candidata Luciana Genro, panfletavam "por amor à causa".
Este é um dos motivos do definhamento do PT: a fragmentação da esquerda.
Somadas, Rosário, Manuela e
Luciana têm cerca de metade
dos votos. No ápice petista, os
grupos das três estavam juntos
na Frente Popular -o da filha
do ministro Tarso Genro (Justiça), dentro do próprio PT.
Além da mão-de-obra contratada, chama a atenção o envelhecimento da militância petista. Nas ruas, os ares são mais
juvenis com o PC do B e o
PSOL. Entre os eleitores de 18 a
24 anos, Manuela lidera. Como
Rosário e Fogaça, ela reivindica
identidade com Lula.
Apoiadores de cinco candidatos a vereador do PT ouvidos
nas ruas disseram que esta é a
campanha mais desanimada da
agremiação. Entre os motivos,
identificam o desgaste provocado pelo mensalão e outros escândalos. Não é só o PT que padece. O candidato Nelson Marchezan Junior (PSDB) não vai
além de 1%, segundo levantamento do Datafolha.
O tucano fracassa, mas o PT
não se beneficia. Retalhado em
tendências, o partido não se dedica inteiro à campanha, a despeito da relevância da eleição
para a ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil), mineira há décadas em Porto Alegre. Preferida
de Lula para substituí-lo, ela está ao lado de Rosário.
Apesar do enfraquecimento,
o PT ainda conta com base social e aparato organizativo que
podem levá-lo ao segundo turno e tentar retomar o posto de
Fogaça. Em duas décadas, contudo, nunca esteve tão frágil.
"As crises nos fizeram perder
musculatura", reconhece Marcelo Danéris, candidato a vice
de Rosário. Uma das razões seria, diz ele, a divisão da esquerda. Outras, o impacto do escândalo do mensalão e iniciativas
impopulares do começo do primeiro mandato de Lula, como a
reforma da Previdência.
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