São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / PORTO ALEGRE

No auge de Lula, PT encolhe entre gaúchos

Uma das razões para enfraquecimento da sigla em Porto Alegre é a divisão da esquerda em várias candidaturas, como de PC do B e PSOL

Enquanto Lula tem 64% de aprovação no país, Rosário soma 22% dos votos; em 2004, Lula tinha 35% e Pont liderava o 1º turno com 38%

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Pouco antes do meio-dia de ontem, no calçadão da "rua da praia" de Porto Alegre, uma jovem estendeu um panfleto ao administrador de empresas aposentado Luis Alonso Teixeira, 64. "É política?", perguntou ele. Ao ouvir a resposta negativa, estendeu o braço: "Então eu pego".
Com a propaganda da loja de cartuchos para impressoras à mão, Teixeira disse que no domingo vai votar nulo para prefeito. Eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, ele se diz cansado de política.
É o sentimento de parcela expressiva dos porto-alegrenses em relação ao partido que dominou a prefeitura por 16 anos, até a eleição de 2004.
No auge da popularidade nacional do petista Lula, o PT encolhe em um dos bastiões mais politizados do país. Em 2004, quando o presidente somava 35% de aprovação no Brasil às vésperas das eleições, Raul Pont liderou o primeiro turno municipal com 38% dos votos válidos (perderia no segundo para José Fogaça, então PPS).
Hoje, quando Lula ostenta o recorde de 64% de avaliação "ótimo/bom", a candidata do PT na capital gaúcha, a deputada federal Maria do Rosário, não ultrapassa os 22% das intenções (votos válidos).
Em 2000, o petista Tarso Genro obteve 49% no primeiro turno e venceu na decisão. Em 1996, Raul Pont triunfou na rodada inicial, com 55%. Pela primeira vez em 20 anos, desde a vitória de Olívio Dutra em 1988, o PT pode não ficar entre os dois primeiros -Fogaça (PMDB) lidera, e Manuela D'Ávila (PC do B) está tecnicamente empatada com Rosário.
O PT local era tão forte que a cidade se transformou em sede do Fórum Social Mundial. Hoje o cenário é de decadência: houve um tempo em que faltavam bandeiras vermelhas para tantas mãos que queriam segurá-las; agora é preciso pagar cabos eleitorais à moda antiga.
"Estive no Rio Grande do Sul em 60 cidades. O PT vai dobrar o número de prefeituras no Rio Grande do Sul", diz Tarso.
O desempregado Edson Romário fazia ontem "visualização" no centro. É assim que ele chama o bico de agitar bandeira. A campanha petista lhe paga R$ 420 mensais. Não longe dele, militantes do PSOL, da candidata Luciana Genro, panfletavam "por amor à causa".
Este é um dos motivos do definhamento do PT: a fragmentação da esquerda.
Somadas, Rosário, Manuela e Luciana têm cerca de metade dos votos. No ápice petista, os grupos das três estavam juntos na Frente Popular -o da filha do ministro Tarso Genro (Justiça), dentro do próprio PT.
Além da mão-de-obra contratada, chama a atenção o envelhecimento da militância petista. Nas ruas, os ares são mais juvenis com o PC do B e o PSOL. Entre os eleitores de 18 a 24 anos, Manuela lidera. Como Rosário e Fogaça, ela reivindica identidade com Lula.
Apoiadores de cinco candidatos a vereador do PT ouvidos nas ruas disseram que esta é a campanha mais desanimada da agremiação. Entre os motivos, identificam o desgaste provocado pelo mensalão e outros escândalos. Não é só o PT que padece. O candidato Nelson Marchezan Junior (PSDB) não vai além de 1%, segundo levantamento do Datafolha.
O tucano fracassa, mas o PT não se beneficia. Retalhado em tendências, o partido não se dedica inteiro à campanha, a despeito da relevância da eleição para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), mineira há décadas em Porto Alegre. Preferida de Lula para substituí-lo, ela está ao lado de Rosário.
Apesar do enfraquecimento, o PT ainda conta com base social e aparato organizativo que podem levá-lo ao segundo turno e tentar retomar o posto de Fogaça. Em duas décadas, contudo, nunca esteve tão frágil.
"As crises nos fizeram perder musculatura", reconhece Marcelo Danéris, candidato a vice de Rosário. Uma das razões seria, diz ele, a divisão da esquerda. Outras, o impacto do escândalo do mensalão e iniciativas impopulares do começo do primeiro mandato de Lula, como a reforma da Previdência.


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