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TERCEIRO MUNDO
Petista é cobrado em São Tomé por falta de empresários em comitiva
Na África, Lula critica falta de "ambição" da Petrobras
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA A SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva criticou ontem a Petrobras e
cobrou da empresa que seja "mais
ambiciosa" para explorar petróleo em outros países, em vez de se
limitar à produção interna.
"As empresas brasileiras não
podem ter medo de competir nas
grandes oportunidades internacionais", disse Lula, depois de
passar pelo constrangimento de
ser cobrado elegantemente pelo
presidente da pequena São Tomé
e Príncipe, Fradique de Menezes,
pela ausência da Petrobras na licitação do último dia 27 para exploração de petróleo no país. A licitação foi vencida pela empresa norte-americana Chevron.
Lula também levou um puxão
de orelha de Menezes, que deixou
clara sua frustração pela ausência
de empresários na comitiva presidencial: "Se eu estou decepcionado? Estou, sim", disse ele, lembrando que cerca de 160 empresários "pularam" o seu país, mas foram a Angola e devem ir aos outros três da programação. Apenas
Emílio Odebrecht, da construtora
Odebrecht, estava presente.
A estimativa é que o país, composto por duas ilhas, um território de apenas 1.000 km2 e 142 mil
habitantes, tenha capacidade para
produzir 11 bilhões de barris de
petróleo. Por isso, fez um acordo
com a Nigéria para iniciar a exploração na costa africana.
Lula chegou a São Tomé, capital
do país, às 8h45 de ontem (6h45
em Brasília). Já de manhã, deu sinais de descontentamento contra
a Petrobras, ao discursar na inauguração da embaixada brasileira.
Ao falar da importância da cooperação entre os dois países, disse
que o Brasil poderia operar mais
na África. A seu lado, o chanceler
Celso Amorim provocou: "Então,
manda". Lula pegou a deixa:
"Vou dar a ordem quando voltar
ao Brasil". Mais tarde, em entrevista, Lula voltou a criticar a Petrobras, presidida pelo ex-senador do PT José Eduardo Dutra.
Dívida histórica
Na perspectiva brasileira, como
disse Lula, São Tomé une poucos
habitantes e muita capacidade no
setor e pode se transformar num
dos "maiores PIBs do mundo" em
pouco tempo. Lula falou o tempo
todo em tom emocional, lembrando "os escravos e a dívida
histórica do Brasil com a África".
Do palácio de governo, avistam-se duas torres da Voz da América,
serviço de rádio controlado pelo
Congresso dos EUA. São uma espécie de símbolo da investida
americana no continente africano. Um dos sete acordos anunciados ontem em São Tomé por Lula
e Menezes foi justamente uma
parceria entre a Radiobras e a Rádio Nacional são-tomense.
Hoje, São Tomé já assiste à programação das redes Globo e Record. Agora, quer receber também informações do país. Num
dos encontros, o presidente Menezes brincou: "Eu estava vendo a
novela "Chocolate com Pimenta"
depois do banho". Lula riu.
Lula deverá voltar ao país em
2004, quando presidentes da
CPLP (Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa) se reúnem na
ilha de São Tomé -onde ontem
uma praia chamada Brasil estava
apinhada de crianças uniformizadas para recepcionar Lula.
Durante a tentativa de golpe
contra Menezes, em julho passado, o Brasil teve atuação importante, ao lado da África do Sul, a
favor do governo constitucional.
Acordos
No comunicado conjunto assinado por Lula e Menezes, os dois
países criticaram "as práticas protecionistas adotadas pelos países
industrializados" e cobraram
"acesso sem discriminação aos
mercados dos ricos". Também
manifestaram "o desejo de que o
povo iraquiano assuma o mais rapidamente possível o comando
do seu próprio destino".
No texto, de 29 itens, São Tomé
e Príncipe ratificou o apoio à pretensão brasileira de ocupar uma
vaga permanente no Conselho de
Segurança da ONU. Os países se
posicionaram sobre os transgênicos, defendendo um regime internacional que permita a "salvaguarda da repartição justa e equitativa de benefícios" e defenderam identificação de origem para
patentes de material genético ou
de conhecimento tradicional.
Lula e Menezes se comprometeram a incrementar o comércio bilateral e assinaram acordos nas
áreas de saúde, educação, agricultura, petróleo e ciência e tecnologia. Lula doou quase 2.000 livros
para a biblioteca pública. Ele ficou
cerca de oito horas em São Tomé.
De lá, voou, no fim da tarde, para
a capital de Angola, onde chegou
no início da noite de ontem.
As jornalistas Eliane Cantanhêde e
Marlene Bergamo fazem a parte interna da viagem à África no avião reserva
da Presidência, por falta de opções de
vôos comerciais compatíveis com o roteiro do presidente Lula
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