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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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TERCEIRO MUNDO

Petista é cobrado em São Tomé por falta de empresários em comitiva

Na África, Lula critica falta de "ambição" da Petrobras

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA A SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a Petrobras e cobrou da empresa que seja "mais ambiciosa" para explorar petróleo em outros países, em vez de se limitar à produção interna.
"As empresas brasileiras não podem ter medo de competir nas grandes oportunidades internacionais", disse Lula, depois de passar pelo constrangimento de ser cobrado elegantemente pelo presidente da pequena São Tomé e Príncipe, Fradique de Menezes, pela ausência da Petrobras na licitação do último dia 27 para exploração de petróleo no país. A licitação foi vencida pela empresa norte-americana Chevron.
Lula também levou um puxão de orelha de Menezes, que deixou clara sua frustração pela ausência de empresários na comitiva presidencial: "Se eu estou decepcionado? Estou, sim", disse ele, lembrando que cerca de 160 empresários "pularam" o seu país, mas foram a Angola e devem ir aos outros três da programação. Apenas Emílio Odebrecht, da construtora Odebrecht, estava presente.
A estimativa é que o país, composto por duas ilhas, um território de apenas 1.000 km2 e 142 mil habitantes, tenha capacidade para produzir 11 bilhões de barris de petróleo. Por isso, fez um acordo com a Nigéria para iniciar a exploração na costa africana.
Lula chegou a São Tomé, capital do país, às 8h45 de ontem (6h45 em Brasília). Já de manhã, deu sinais de descontentamento contra a Petrobras, ao discursar na inauguração da embaixada brasileira.
Ao falar da importância da cooperação entre os dois países, disse que o Brasil poderia operar mais na África. A seu lado, o chanceler Celso Amorim provocou: "Então, manda". Lula pegou a deixa: "Vou dar a ordem quando voltar ao Brasil". Mais tarde, em entrevista, Lula voltou a criticar a Petrobras, presidida pelo ex-senador do PT José Eduardo Dutra.

Dívida histórica
Na perspectiva brasileira, como disse Lula, São Tomé une poucos habitantes e muita capacidade no setor e pode se transformar num dos "maiores PIBs do mundo" em pouco tempo. Lula falou o tempo todo em tom emocional, lembrando "os escravos e a dívida histórica do Brasil com a África".
Do palácio de governo, avistam-se duas torres da Voz da América, serviço de rádio controlado pelo Congresso dos EUA. São uma espécie de símbolo da investida americana no continente africano. Um dos sete acordos anunciados ontem em São Tomé por Lula e Menezes foi justamente uma parceria entre a Radiobras e a Rádio Nacional são-tomense.
Hoje, São Tomé já assiste à programação das redes Globo e Record. Agora, quer receber também informações do país. Num dos encontros, o presidente Menezes brincou: "Eu estava vendo a novela "Chocolate com Pimenta" depois do banho". Lula riu.
Lula deverá voltar ao país em 2004, quando presidentes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) se reúnem na ilha de São Tomé -onde ontem uma praia chamada Brasil estava apinhada de crianças uniformizadas para recepcionar Lula.
Durante a tentativa de golpe contra Menezes, em julho passado, o Brasil teve atuação importante, ao lado da África do Sul, a favor do governo constitucional.

Acordos
No comunicado conjunto assinado por Lula e Menezes, os dois países criticaram "as práticas protecionistas adotadas pelos países industrializados" e cobraram "acesso sem discriminação aos mercados dos ricos". Também manifestaram "o desejo de que o povo iraquiano assuma o mais rapidamente possível o comando do seu próprio destino".
No texto, de 29 itens, São Tomé e Príncipe ratificou o apoio à pretensão brasileira de ocupar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os países se posicionaram sobre os transgênicos, defendendo um regime internacional que permita a "salvaguarda da repartição justa e equitativa de benefícios" e defenderam identificação de origem para patentes de material genético ou de conhecimento tradicional.
Lula e Menezes se comprometeram a incrementar o comércio bilateral e assinaram acordos nas áreas de saúde, educação, agricultura, petróleo e ciência e tecnologia. Lula doou quase 2.000 livros para a biblioteca pública. Ele ficou cerca de oito horas em São Tomé. De lá, voou, no fim da tarde, para a capital de Angola, onde chegou no início da noite de ontem.


As jornalistas Eliane Cantanhêde e Marlene Bergamo fazem a parte interna da viagem à África no avião reserva da Presidência, por falta de opções de vôos comerciais compatíveis com o roteiro do presidente Lula


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