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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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"Melhoria em corredor é passo para pedágio"

DO ENVIADO A VITÓRIA

Leia trechos da entrevista com o mentor do pedágio urbano de Londres, Derek Turner:
 
Folha - Qual é a opinião do sr. sobre as regras do rodízio de veículos de São Paulo?
Derek Turner
- O problema é que esse sistema incentiva a compra de um carro adicional, e não atinge o hábito de controlar a utilização do carro. Ele cria muito mais carros, que não estão em bom estado de conservação. Quem só poderia comprar um acaba comprando dois. Ele também é uma forma de diminuir os congestionamentos, mas não oferece a possibilidade de arrecadar dinheiro para os investimentos em transporte público, como no caso do pedágio urbano.
O pedágio urbano tem três vantagens: reduz os congestionamentos, cria uma taxa de investimento e torna mais atraentes as viagens no transporte público. Com as ruas mais vazias, os ônibus andam mais rápido. Não conheço nenhum outro sistema no mundo com essas vantagens.

Folha - O sr. avalia que é possível adotar um sistema de pedágio urbano mesmo sem termos em São Paulo um transporte público de boa qualidade?
Turner
- As melhorias dos corredores de ônibus em São Paulo já são um passo, uma preparação. Você já pode começar a avaliar essa possibilidade cuidadosamente. Não se pode também subestimar a influência do congestionamento na ineficiência do transporte público. Em Londres, deixamos bem claro que, adotando um pedágio urbano, aquele sistema de transporte público existente ficaria melhor. Agora os ônibus são mais confiáveis, mais eficientes.

Folha - O sr. foi procurado por muitos países que pretendem implantar um sistema parecido?
Turner
- Fui chamado para aconselhar em Estocolmo, na Suécia, e até em uma série de cidades norte-americanas. Os norte-americanos têm tradições de rodovias pedagiadas, são ligados a forças de mercado. A área de trânsito é a única que não tem nenhum custo adicional para eles.
Não estou dizendo que não se deve ter automóveis, mas é uma questão de quando eles devem ser usados.

Folha - A tendência em Londres é elevar a restrição no futuro, aumentando as taxas, por exemplo?
Turner
- O prefeito terá que decidir. Se não aumentar nunca, terá um declínio nas melhorias do transporte, porque a inflação vai comer a taxa. Eu fiz uma promessa ao prefeito e cumpri: construí uma máquina que funciona. Agora as decisões passam a ser políticas.

Folha - A restrição veicular costuma ser vista como uma medida impopular. Em Londres, ela sofria críticas e depois passou a ser aprovada. Por quê?
Turner
- Aconteceria a mesma coisa no Brasil. Eu sugeriria que as pessoas adotassem essa taxa para cortar os congestionamentos entre 15% e 20%. A população vai entender, mesmo que demore algum tempo.



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