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BALANÇO DAS URNAS
Tucano diz que sai da disputa robustecido e que erro em 2002 foi não se aliar ao PFL
Alckmin afirma ser "inadmissível" Serra disputar as eleições em 2006
ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO
O governador Geraldo Alckmin, 51, não se assume presidenciável, mas já delimita terreno ao
classificar como "inadmissível" a
hipótese de José Serra trocar a
Prefeitura de São Paulo por qualquer candidatura em 2006.
Ele concordou de pronto que isso seria "suicídio político" de Serra e acrescentou: "É inadmissível,
uma hipótese fora de cogitação".
O governador também deixa
claro que o PFL seria o principal
aliado numa eventual candidatura à Presidência e afirma que, na
sua opinião, o grande erro de Serra na disputa presidencial de
2002, quando perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
foi ter rejeitado esse partido.
Segue a entrevista à Folha, concedida no Palácio dos Bandeirantes às 8h de ontem:
Folha - Durante a campanha, falava-se que um só partido ter simultaneamente a Presidência e a
prefeitura da maior capital seria
excesso de poder. Não é também
excesso de poder o PSDB ocupar
tanto o governo como a prefeitura
da capital no principal Estado?
Geraldo Alckmin - O PSDB cresceu, inseriu-se nos grandes centros urbanos. Veja Curitiba, Florianópolis, Teresina, Cuiabá. E teve um bom desempenho mesmo
onde não ganhou. Quando você
está no governo, incha. Quando
está fora e cresce, é crescimento
real. E o resultado das urnas é
sempre o melhor para todos.
Folha - O sr. acha positiva a polarização entre um núcleo governista, do PT, e outro de oposição, com
o PSDB? O que projeta para 2006?
Alckmin - Nós não fizemos a lição de casa, que é a reforma política, mas o povo está fazendo por
nós, na prática, pelo voto. Com
sua sabedoria, a população vai
formatando essa reforma, com
partidos maiores e mais identidade. Isso é bom para a democracia.
Folha - Significa também a redefinição de blocos políticos? A reaproximação PSDB-PFL é resultado
disso? Como ficam os demais?
Alckmin - Eu sempre enxerguei
no PFL um partido com mais unidade e com posições. Muitos
achavam, simplisticamente, que o
PFL era um partido governista,
qualquer que fosse o governo.
Não. O PFL compôs com FHC já
no início da campanha, bem antes
de ele ganhar, porque concordava
com o programa, com as idéias. E
é preciso ressaltar que foi muito
correto. A presença do próprio vice-presidente Marco Maciel foi
impecável. E, depois que o PSDB
saiu do governo, o PFL continuou
tendo uma postura correta, de
oposição, séria, responsável.
Folha - Inclusive o senador Antonio Carlos Magalhães?
Alckmin - Estou analisando do
ponto de vista partidário, amplo.
Folha - O grande problema de José Serra na campanha de 2002 foi
ter rejeitado o PFL?
Alckmin - Não tenho a menor
dúvida. Ali começaram as dificuldades.
Folha - Mas o grande problema
da campanha de 2004 não foi o vice
do PFL, o Gilberto Kassab?
Alckmin - Esse foi um entre os
grandes equívocos do PT na campanha, que gastou muito tempo
do horário de rádio e de televisão
com a crítica de que ele foi secretário do ex-prefeito [Celso] Pitta,
quando muita gente que trabalhou com o Pitta estava apoiando
a nossa adversária. Se houvesse
crítica palpável, deveria ter apontado e ido à Justiça, não ficar falando em época de campanha.
Folha - Quem mostrou o crescimento anormal do patrimônio do
Kassab não foi o PT, foi a Folha.
Alckmin - Se isso não tivesse alguma justificativa, teria tido desdobramento. E não teve. Crítica
de véspera de eleição o eleitor
analisa com cuidado, com desconfiança. O PFL tem bons quadros. Por exemplo, o vice-governador Cláudio Lembo, um excelente companheiro de trabalho.
Folha - E os demais partidos, viram coadjuvantes, satélites?
Alckmin - Não. O PPS teve uma
vitória importante em Porto Alegre, o PMDB tem presença nacional. Mas o fato é que o PSDB cresceu, se consolidou. E houve um
processo que as pessoas talvez
não tenham percebido bem: reforçaram-se os laços afetivos no
partido. Só fiz duas viagens, uma
para o Norte e Nordeste, outra para Centro-Oeste e Sul, e isso não
muda absolutamente nada do
ponto de vista eleitoral, mas é importante do ponto de vista partidário. O Marconi Perillo [governador de Goiás], o Aécio Neves
[governador de Minas], o Tasso
Jereissati [senador pelo Ceará], o
Arthur Virgílio [senador pelo
Amazonas] também viajaram. O
partido sentiu: "Não estamos sozinhos". Inclusive em São Paulo,
um fator muito importante foi todo mundo sentir que estávamos
todos na mesma direção. E foi
uma campanha aguerrida, disputada, mas de bom nível.
Folha - Aliás, qual o sentido de
três governadores do PSDB, o sr.,
Aécio e Perillo irem a Uberlândia
(MG) para prestigiar a candidatura
de um expoente do PP, Odelmo
Leão? Já é para atrair o partido para o núcleo oposicionista?
Alckmin - Nós somos liderados
do Aécio [rindo]. O Odelmo foi
meu amigo na Câmara, e nós três
quisemos dar uma força para o
candidato a vice, que é tucano.
Folha - Quem é ele?
Alckmin - Humm... não lembro.
Folha - Quais os critérios para a
formação da equipe do Serra? O
PFL vai ter papel decisivo? PDT e
PPS vão participar?
Alckmin - Eu não sei, pergunte
ao prefeito. O Serra é bom formador de equipe, vem de uma escola,
a do [Franco] Montoro [ex-governador de São Paulo], um formador de quadros por excelência.
Folha - O sr. vai ceder quadros para Serra?
Alckmin - Enquanto não apuraram o último voto, não tocamos
nisso. Não quisemos sentar na cadeira antes da hora.
Folha - Isso é uma crítica a FHC,
que sentou na cadeira de prefeito,
mas perdeu para o Jânio Quadros?
Alckmin - Não, cuidado com isso. É que nós fomos muito cautelosos. Uma das virtudes na política é a moderação. E o partido está
agindo com moderação.
Folha - O que significa moderação
agora? Fazer acenos para o PT?
Alckmin - Entender que política é
serviço, é responsabilidade. Isso
aqui não é guerra,
não é filme de
mocinho, em que
alguém sai dizendo: "Fui o grande
vitorioso". É legítimo comemorar
a vitória, mas, no
dia seguinte, é botar o pé no chão e
começar o trabalho. O partido está consciente de
que não é fácil ser
governo.
Folha - Por que
FHC ficou fora da
campanha e nem
votou no 2º turno?
As pesquisas indicam que ele mais
atrapalhava do
que ajudava?
Alckmin - O presidente FHC foi
um fator decisivo para Serra sair
candidato. A decisão foi tomada
na casa dele, com a presença da
dona Ruth [Cardoso]. Foi ali que
nós nos reunimos, e ele decidiu.
Folha - Ele temia a derrota?
Alckmin - O Serra avaliava, o que
é normal, e FHC foi determinante
para a decisão.
Folha - O sr. preferia o seu secretário da Segurança, Saulo Abreu?
Alckmin - Quando o Serra colocou que a candidatura dele era
pouco provável, é claro que o partido precisava ter um nome.
Quem não entra
em campo não
forma bom time. E
nós tínhamos opções, mas sempre
defendi o nome de
Serra. Ganhar em
São Paulo era importantíssimo,
porque o PSDB
nunca governou a
cidade. Havia uma
barreira PT-Maluf, que impedia
uma terceira força
de se afirmar. O
próprio Serra tentou duas vezes e
não conseguiu.
Folha - O sr. tentou uma.
Alckmin - Eu não
cheguei por um
milésimo, 7.000
votos em 7,5 milhões. Fiquei na
frente na apuração
inteira, só perdi no
finalzinho, já à
noite. E, aí, nós vimos que o partido estava maduro,
tinha criado a consciência nas
pessoas de que chegara a nossa
vez. O voto no Executivo é cada
vez mais amadurecido. Chegando
ao segundo turno com uma rejeição baixa, com uma campanha
limpa, nossas possibilidades eram
enormes. É preciso registrar, aliás,
que o governo do Estado e o governador não tiveram nenhum tipo de problema, em nenhum momento, durante a campanha.
Folha - É uma contraposição a Lula, que foi multado pela Justiça?
Alckmin - Não. É um registro.
Folha - Serra deixar a prefeitura
para concorrer em 2006 seria um
suicídio político?
Alckmin - Concordo. Você deixar o Legislativo pode ser compreendido, mas não o Executivo,
especialmente numa cidade-Estado como São Paulo. É inadmissível, uma hipótese fora de cogitação. O próprio Serra já disse isso
na campanha e reiterou, eleito.
Folha - Serra fora da disputa para
o governo não complica a vida do
PSDB? A avaliação que se faz é que
o PT tem excesso de candidatos e
que o PSDB não tem nenhum.
Alckmin - O partido terá um ótimo candidato, mas no momento
certo. Se você olhar os resultados
de cabo a rabo no Brasil, os mais
conhecidos não foram os eleitos.
Você não escolhe o candidato
com base numa pesquisa para ver
quem é o mais conhecido.
Folha - Do jeito que o sr. fala, lembra o Maluf fazendo o Pitta prefeito e aquela expressão: "Fulano elege até uma porta".
Alckmin - O importante agora é
não forçar o processo eleitoral antes da hora. Na vida pública, há
dois grandes ansiosos: o político e
o jornalista, que querem estar
sempre na frente, antes mesmo
do fato. Mas, a mim, interessam o
trabalho e os resultados.
Folha - Aos fatos: FHC não iria para uma terceira eleição contra o Lula com a possibilidade de perder.
Serra está amarrado à prefeitura.
Aécio perdeu Belo Horizonte, e Jereissati, Fortaleza. O sr. é o grande
vitorioso. Logo, é o candidato natural do PSDB à Presidência?
Alckmin - Bem... eu diria que o
presidente FHC, este sim, é o candidato natural. E nem o Aécio
nem o Tasso eram candidatos a
prefeito e estão extremamente
qualificados a concorrer. Cada
eleição é uma eleição.
Folha - Ganhar a Prefeitura de
São Paulo não significa nada, não
tem repercussão nenhuma?
Alckmin - Isso é bom, muito
bom, mas não para uma pessoa e
sim para o time. Um partido que
quer ser forte precisa ser forte
num Estado que tem um quarto
da população brasileira.
Folha - Significa que o candidato
do partido vai ser desse Estado?
Alckmin -Não obrigatoriamente.
Folha - Mas possivelmente?
Alckmin - Significa que o eleitor
confia maciçamente no partido,
mas 2006 é um outro quadro.
Folha - Um momento tenso da
campanha de São Paulo foi quando
a Marta Suplicy insinuou que, com
o presidente de um partido e o prefeito de outro, o dinheiro não vinha. O dinheiro vem?
Alckmin - Isso só pode ser parte
do estresse de campanha, e o próprio presidente da República já
recolocou as coisas nos devidos
lugares. O que se espera é que a
Presidência, o governo do Estado
e a prefeitura tenham relações republicanas e façam o que é melhor para a população.
Folha - O governo Lula é centralizador?
Alckmin - Eu diria que há uma
tendência centralizadora, e isso
não funciona. Tem que delegar.
Política é parceria. Veja só: aquela
obra da Radial Leste, que o presidente veio inaugurar e até deu
aquela confusão, foi toda feita
num terreno que o Estado repassou para a prefeita. Isso vale numa
mão, tem de valer na outra. É preciso separar as questões partidárias, por mais legítimas que sejam, das questões de governo.
Folha - O senador Jorge Bornhausen disse que o PSDB vai colar em
Alckmin, e o PFL, em Cesar Maia,
para, no fim de 2005, discutir o nome para a Presidência. O que o sr.
acha disso?
Alckmin - Eu acho que saí dessa
eleição robustecido para arregaçar as mangas, suar a camisa e trabalhar, trabalhar, trabalhar. Meu
nome é trabalho.
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