São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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POLÍCIA EM CENA

Professor Luizinho (PT) ataca operação em empresa do ministro Eunício Oliveira, mas recua logo em seguida

Líder do governo critica e depois elogia PF

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP), convocou ontem a imprensa para dizer que a ação da Polícia Federal foi conduzida politicamente por uma facção da corporação, à revelia do comando, o que colocaria "em risco as instituições", "o processo republicano" e "o crescimento do país".
O deputado participa da articulação para manter o PMDB do ministro Eunício Oliveira (Comunicações), dono da Confederal, na base de apoio do Palácio do Planalto. No dia 12, a legenda faz uma convenção nacional para definir se rompe ou não com o governo.
"À revelia da coordenação e da direção geral, algumas ações de marketing, de manchete, são executadas", afirmou. "Parece que há grupamentos que estão se achando no direito de, à revelia do comando, produzir ações que desrespeitam as instituições e põem em risco o processo republicano."
"É estranho que um ministro que atua para a governabilidade do país, cujo partido está pronto para se reunir para decidir se mantém a governabilidade ou se vai para a oposição, colocando em risco o crescimento e o desenvolvimento do país, ter a sua pessoa envolvida numa ação como já ocorreu com a Caixa Econômica Federal e com a rinha de galo", disse Luizinho. "Há de convir: é estranho, não é? O país deve pensar um pouco nisso."
Ao mencionar a rinha, o líder do governo se referia à prisão pela PF do publicitário Duda Mendonça, em outubro, quando assistia a uma briga de galos (que é crime ambiental). A ação ocorreu dias antes do segundo turno das eleições. Duda fazia parte do comando da campanha da prefeita Marta Suplicy (PT), em São Paulo.
"O que me estranha é a PF se preocupar com uma rinha de galo no período pré-eleitoral. Isso me parece uma ação dirigida, que não é do comando, é de agrupamentos internos. Ir atrás de rinha de galo em vez de ir atrás do narcotráfico e do contrabando de armas, em período pré-eleitoral?"
A ação na Caixa Econômica se refere à apreensão de computadores e documentos durante a investigação do contrato do banco com a multinacional GTech, que foi uma ramificação do escândalo Waldomiro Diniz. Na época, Luizinho criticou a ação da PF, que entrou em atrito com a direção petista do banco. Num discurso contraditório, o deputado ressalvava: "Todas as ações da Polícia Federal são por nós respaldadas. É determinante neste governo o combate à corrupção, não há por que ter alívio, ter proteção".

Recuo
Cerca de meia hora depois da entrevista coletiva, Luizinho foi ao plenário da Câmara e desdisse tudo. Passou a parabenizar a PF.
"Essas ações [da PF] têm atingido governadores e prefeitos do PT, o que demonstra não haver um direcionamento político ou uma ação coordenada e dirigida em relação aos atos empreendidos", afirmou. "Tais ações de forma alguma podem ser entendidas como um fator político de busca de desagregação da unidade necessária da base aliada, da governabilidade e da integridade das nossas ações."
As declarações do líder do governo espantaram deputados aliados e foram mote para os ataques da oposição. "Acho completamente inexplicável e estranho que o líder do governo faça pré-julgamentos audaciosos e ofensivos a operações de uma instituição sob o comando de pessoas nomeadas pelo presidente da República", afirmou Custódio Mattos (MG), líder do PSDB.


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