São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISPUTA PELA COROA

Presidente critica "receita ortodoxa'; tucano cobra eficiência

Lula e FHC trocam críticas pelo quarto dia consecutivo

JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A troca de críticas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, iniciada na segunda-feira, prosseguiu ontem. Em Brasília, Lula criticou a "receita ortodoxa" do passado e culpou em parte FHC pelo "infortúnio dos anos 90". No Rio, FHC cobrou mais eficiência e menos marketing nas políticas sociais.
O ex-presidente recebeu ontem a medalha Pedro Ernesto da Câmara Municipal do Rio, no morro da Urca. Em seu discurso, FHC comentou: "Estamos começando a enfrentar a questão social, mas com um conjunto de políticas que precisam ser vistas de maneira menos de marketing e mais de eficiência". O tucano mencionou ainda a necessidade de ter convicções e criticou aqueles que lhe atribuíram convicções que nunca foram suas: "Quando [essas pessoas] chegam ao poder, cadê as convicções? Elas evaporam".
Já Lula participou ontem da abertura da Conferência Internacional sobre Democracia, Participação Cidadã e Federalismo na América Latina, na qual criticou veladamente o antecessor: "Uma receita ortodoxa foi transplantada para nossos países como se fosse possível realizar, aqui, a mesma trajetória conduzida pelas facilidades existentes nos países ricos".
O comentário de Lula contradiz a opinião de sua equipe econômica, que adotou a mesma política econômica. Lula foi além: "O implante desse corpo estranho exigiu o abandono incondicional de todo e qualquer planejamento público, bem como o veto a idéias, estruturas e valores que pudessem mediar as forças do mercado com a ação republicana e democrática da sociedade".
Ao fazer críticas sobre o "infortúnio dos anos 90", mandou seu recado mais duro a FHC: "É preciso reavivar a memória desses fatos para que se possa avaliar exatamente o que entendem por eficiência aqueles que hoje se arvoram sabedores do que fazer, mas que, na verdade, são responsáveis por esses equívocos do passado".
Na segunda-feira, FHC havia dito que a gestão atual é "incompetente". Ontem, porém, o ex-presidente não quis voltar ao assunto: "Vão se decepcionar os companheiros da imprensa aqui presentes porque não vou falar mal de governo algum. Aliás, eu não falo mal, só critico." FHC descartou também a possibilidade, levantada por Marcello Alencar, de disputar novamente a Presidência: "Há outros nomes para levar essa bandeira, com o meu apoio".
Já Lula enfatizou a responsabilidade de FHC, que governou de 1995 a 2002, pelos problemas do país: "O infortúnio dos anos 90, em grande parte, não foi obra da fatalidade, mas um engessamento voluntário das instituições e do Estado, a tal ponto que a democracia perdeu sua credibilidade como poder regulador, e a política, sua prerrogativa transformadora da sociedade", disse Lula, para quem esse processo significou "um trágico empobrecimento" para a América Latina.
Lula disse que, no período, os investimentos ficaram estagnados e que mais de 90 milhões de pessoas foram empurradas para faixas da pobreza. O Plano Real, responsável pela eleição de FHC, não foi poupado. A sobrevalorização da moeda foi lembrada: "Vocês lembram o tempo glorioso em que os argentinos comemoravam que 1 peso valia US$ 1. Vocês lembram o tempo glorioso em que no Brasil se comemorava que R$ 1 valia US$ 1. Como mentira tem perna curta, nem R$ 1 valia US$ 1 nem 1 peso valia US$ 1".
À tarde, Lula disse: "Todos vocês acompanharam com muita preocupação o que foi o ano de 2003, um ano extremamente difícil. Muitos chegaram a pensar: o país vai quebrar. Não só o país não quebrou como, de forma surpreendente, sobretudo para muitos pessimistas de plantão, o PIB teve um crescimento de 5,3% de janeiro a novembro deste ano".


Texto Anterior: Eldorado do Carajás: Condenado por massacre sai de hospital e cumpre pena
Próximo Texto: Sem sentido: "Estou com deficiência nasal"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.