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DISPUTA PELA COROA
Presidente critica "receita ortodoxa'; tucano cobra eficiência
Lula e FHC trocam críticas pelo quarto dia consecutivo
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A troca de críticas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, iniciada na segunda-feira, prosseguiu ontem. Em
Brasília, Lula criticou a "receita
ortodoxa" do passado e culpou
em parte FHC pelo "infortúnio
dos anos 90". No Rio, FHC cobrou mais eficiência e menos
marketing nas políticas sociais.
O ex-presidente recebeu ontem
a medalha Pedro Ernesto da Câmara Municipal do Rio, no morro
da Urca. Em seu discurso, FHC
comentou: "Estamos começando
a enfrentar a questão social, mas
com um conjunto de políticas que
precisam ser vistas de maneira
menos de marketing e mais de eficiência". O tucano mencionou
ainda a necessidade de ter convicções e criticou aqueles que lhe
atribuíram convicções que nunca
foram suas: "Quando [essas pessoas] chegam ao poder, cadê as
convicções? Elas evaporam".
Já Lula participou ontem da
abertura da Conferência Internacional sobre Democracia, Participação Cidadã e Federalismo na
América Latina, na qual criticou
veladamente o antecessor: "Uma
receita ortodoxa foi transplantada
para nossos países como se fosse
possível realizar, aqui, a mesma
trajetória conduzida pelas facilidades existentes nos países ricos".
O comentário de Lula contradiz
a opinião de sua equipe econômica, que adotou a mesma política
econômica. Lula foi além: "O implante desse corpo estranho exigiu o abandono incondicional de
todo e qualquer planejamento
público, bem como o veto a
idéias, estruturas e valores que
pudessem mediar as forças do
mercado com a ação republicana
e democrática da sociedade".
Ao fazer críticas sobre o "infortúnio dos anos 90", mandou seu
recado mais duro a FHC: "É preciso reavivar a memória desses fatos para que se possa avaliar exatamente o que entendem por eficiência aqueles que hoje se arvoram sabedores do que fazer, mas
que, na verdade, são responsáveis
por esses equívocos do passado".
Na segunda-feira, FHC havia dito que a gestão atual é "incompetente". Ontem, porém, o ex-presidente não quis voltar ao assunto:
"Vão se decepcionar os companheiros da imprensa aqui presentes porque não vou falar mal de
governo algum. Aliás, eu não falo
mal, só critico." FHC descartou
também a possibilidade, levantada por Marcello Alencar, de disputar novamente a Presidência:
"Há outros nomes para levar essa
bandeira, com o meu apoio".
Já Lula enfatizou a responsabilidade de FHC, que governou de
1995 a 2002, pelos problemas do
país: "O infortúnio dos anos 90,
em grande parte, não foi obra da
fatalidade, mas um engessamento
voluntário das instituições e do
Estado, a tal ponto que a democracia perdeu sua credibilidade
como poder regulador, e a política, sua prerrogativa transformadora da sociedade", disse Lula,
para quem esse processo significou "um trágico empobrecimento" para a América Latina.
Lula disse que, no período, os
investimentos ficaram estagnados e que mais de 90 milhões de
pessoas foram empurradas para
faixas da pobreza. O Plano Real,
responsável pela eleição de FHC,
não foi poupado. A sobrevalorização da moeda foi lembrada: "Vocês lembram o tempo glorioso em
que os argentinos comemoravam
que 1 peso valia US$ 1. Vocês lembram o tempo glorioso em que no
Brasil se comemorava que R$ 1
valia US$ 1. Como mentira tem
perna curta, nem R$ 1 valia US$ 1
nem 1 peso valia US$ 1".
À tarde, Lula disse: "Todos vocês acompanharam com muita
preocupação o que foi o ano de
2003, um ano extremamente difícil. Muitos chegaram a pensar: o
país vai quebrar. Não só o país
não quebrou como, de forma surpreendente, sobretudo para muitos pessimistas de plantão, o PIB
teve um crescimento de 5,3% de
janeiro a novembro deste ano".
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