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Coalizão de Lula constitui "saco de gatos", diz analista
Para Octavio Amorim, excessiva heterogeneidade ideológica é limite para governo
Professor da FGV afirma que nomeações comprometem uma parte da capacidade gerencial do Estado, mas são "sacrifício necessário"
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo Lula está fadado a
montar uma coalizão tipo "saco
de gatos", o que comprometerá
parte da capacidade gerencial
do Estado, afirma o cientista
político Octavio Amorim Neto,
professor da Fundação Getulio
Vargas do Rio de Janeiro.
O Palácio do Planalto terá de
contar, sim ou sim, para ter
uma base confortável no Congresso, com o apoio de PP e
PTB, além dos partidos que já
toparam integrar a coalizão.
"Um limite importante para
Lula é a excessiva heterogeneidade ideológica com que tem
de contar", diz Amorim, que
acha positivo que o termo coalizão, usado pelos cientistas políticos, tenha entrado para o jargão político. Apesar do limite,
ele vê "Lula indo na direção
correta, ao contrário do primeiro mandato", um desastre em
termos de relação entre Executivo e Legislativo, que desaguou
no escândalo do mensalão. "A
história que o Roberto Jefferson contou é muito plausível à
luz de tudo que a ciência política brasileira fala a respeito do
presidencialismo de coalizão."
Mas, para que a coalizão neste caso mereça o nome, algumas condições têm de ser cumpridas, entre elas a discussão de
uma agenda comum e a partilha dos ministérios de maneira
proporcional ao peso parlamentar dos aliados: "A questão
não é só montar o saco de gatos,
mas montar bem desta vez. Há
um gato muito grande e gordo
lá dentro que é o PMDB, que
tem de ser bem alimentado".
Os peemedebistas aprovaram a adesão ao governo Lula
nesta semana. Pleiteiam seis
cadeiras do gabinete do segundo mandato e se acotovelam
com os petistas por espaço, outro foco de problemas. O professor argumenta que não é só
jogo de cena a questão da discussão de agenda. "Alguns partidos têm a agenda programática mais robusta. Outros, como
o PMDB, gostam de ter pelo
menos poder de veto sobre o
que entra na pauta de votação".
Amorim afirma que a acomodação dos aliados "pode comprometer a capacidade gerencial do Estado porque os partidos brasileiros, talvez com algumas exceções, não têm quadros técnicos de alta qualidade
nem a burocracia brasileira é
plenamente profissionalizada".
Mas trata-se de um "sacrifício necessário" para ter apoio
estável. A situação só muda, diz
ele, se os cargos comissionados
forem amplamente reduzidos e
o número de partidos, também.
Amorim também se opõe a
simplificar a discussão sobre fisiologia e loteamento. "A palavra fisiologia às vezes é apropriada e às vezes não é. O fato é
que, mesmo que um partido
privilegie seu programa -se ele
quer ser mais ideológico do que
fisiológico-, para implementá-lo, vai precisar ocupar cargos."
Isso decorre do enorme poder do Executivo brasileiro sobre os recursos. Já nos EUA o
Orçamento desenhado pelo
Congresso é o que vale. "Para
um político americano ter influência nas políticas, não é
condição necessária que ele tenha cargo no Executivo. Basta
ele ter peso no Congresso."
Mas o PMDB pode ser um
aliado confiável? Dados do Núcleo de Estudos do Congresso,
do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), mostram que o comportamento do PMDB é um dos
mais erráticos em termos de
disciplina partidária. Mas, para
o coordenador do núcleo, Fabiano Santos, os peemedebistas estão conscientes de que,
unidos, terão maior poder de
barganha. "Sabem que vai ser
um bem coletivo se conseguirem se unir de fato. Claro que já
há dissidências de saída, mas é
difícil prever o peso delas no
plenário", diz Santos, que aposta em taxas de disciplina próximas às do governo FHC, visto
como "paradigma" de coalizão.
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