São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009

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Lula agora vê caso "deplorável'; PT pede impeachment no DF

Um dia após dizer que imagens "não falavam por si", presidente propõe moralizar partidos

Além do pedido dos petistas do Distrito Federal, outras 5 representações querem a saída de Arruda; Lula fala em Assembleia Constituinte


Sergei Supinsky/France Presse
O presidente Lula e a premiê da Ucrânia, Yulia Tymoshenko, durante encontro na capital Kiev

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A KIEV
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com alguns de seus principais líderes como réus na ação do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), o PT ingressou ontem com pedido de impeachment contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e seu vice, Paulo Octávio, por conta do chamado mensalão do DEM.
A ofensiva do PT-DF coincidiu com uma mudança de tom do presidente Lula, que, um dia depois de ter dito que as imagens de Arruda e aliados pegando dinheiro no DF "não falavam por si", classificou ontem o escândalo como "deplorável".
A denúncia é assinada pelo presidente do PT-DF, Chico Vigilante, que integra a corrente interna petista CNB (Construindo um Novo Brasil), a mesma de Lula e de vários réus do mensalão, entre eles o ex-ministro José Dirceu.
Em Kiev, Lula negou que tenha adotado tom mais crítico por avaliar ter sido condescendente na véspera. "Nem fui condescendente nem incriminei. Apenas disse que tem um fato que está em apuração e que é importante que termine a apuração", disse, ao terminar a visita à capital da Ucrânia.
Horas antes, Lula se negara a responder a uma pergunta sobre o tema durante a entrevista concedida com o presidente ucraniano, Victor Yuschenko. "É desagradável perguntar uma coisinha que o presidente nem sabe o que é", queixou-se Lula.
Não houve, porém, como escapar do assunto na despedida. Lula disse que havia visto as imagens com os flagrantes de corrupção, mas que é preciso esperar a ação da Justiça. "Vi algumas imagens e acho que é grave. Mas tudo isso agora vai ter um processo, vai passar por um tribunal e outro tribunal, até que tenha um juízo final."
Lula afirmou que o escândalo no DF é mais um golpe na credibilidade dos políticos, mas recorreu ao discurso da reforma política como saída. "É deplorável para a classe política porque nós já mandamos duas propostas de reforma política para o Congresso e as pessoas não se importam em votar. Se fosse Jânio Quadros, diria que tem um inimigo oculto que não deixa os projetos serem votados", disse, em referência às "forças ocultas" que teriam levado o ex-presidente a renunciar.
Em seguida, Lula sugeriu a convocação de uma Assembleia Constituinte para promover a reforma. "Os partidos políticos deveriam estar defendendo neste momento, depois das eleições de 2010, uma Constituinte específica para fazer uma legislação eleitoral para o Brasil. Não é possível continuar do jeito que está."
O ex-deputado distrital Chico Vigilante disse que a decisão de pedir o impeachment de Arruda contou com o apoio do PT nacional. Num primeiro momento, o presidente nacional do partido, Ricardo Berzoini (SP), tinha sido cauteloso diante das denúncias.
Para Vigilante, não há comparação entre o caso do DF e o mensalão nacional. "O PT não praticou nenhuma irregularidade. Os petistas envolvidos estão respondendo e o presidente Lula foi reeleito", afirmou.
São necessários 16 dos 24 votos de deputados para aprovar o impeachment. A oposição a Arruda, no entanto, conta com apenas cinco votos.
Há outros cinco pedidos de impeachment contra Arruda: um do PSOL, dois de advogados, um de um grupo de evangélicos e outro da CUT. O pedido do PT, de 28 páginas, tem como base principal as investigações da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.


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