São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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Repórter e motorista são reféns por 5 horas

DA AGÊNCIA FOLHA, EM AMAMBAI E JAPORÃ (MS)

Índios guaranis e caiuás confundiram o repórter e o motorista da Agência Folha com pistoleiros, impediram a saída dos dois por cinco horas e meia, retiveram os equipamentos da reportagem e pintaram a pele dos dois.
O fato ocorreu na terça-feira, na primeira vez em que a reportagem visitou a área. Posteriormente, numa volta à região na sexta-feira, apesar de terem reconhecido o repórter e o motorista, os índios os fizeram dançar com outros indígenas.
Na visão dos indígenas, fazer os visitantes dançar significa uma boa recepção a eles.
Embora afirme que "o homem branco e o índio vão feder iguais após a morte", o cacique Mãmãgá explica que o repórter da Agência Folha e o motorista do carro (alugado) foram pintados com tintas vermelha e preta, assim que chegaram à fazenda na terça-feira, para ficar com a pele parecida com a dos índios.
Não foi usado urucum (árvore que produz tinta vermelha) nem jenipapo (fruto que dá a tonalidade negra). O material vinha de uma bisnaga de tinta usada para dar cor à cal na pintura de parede.

Guerra
Os índios também estavam pintados, mas "para a guerra". Armados com espingardas, arcos, flechas, bordunas e lanças, três dezenas deles abordaram o carro, que chegou à fazenda após passar por duas barreiras montadas por "guerreiros" indígenas.
O carro foi revistado, e os índios tiraram a câmera fotográfica, a carteira, a caneta, o caderno de anotações e o celular do repórter. Também examinaram a maleta onde estava o computador portátil e um gravador.
O motorista da reportagem, Rogério Granja, ficou sem a chave do carro e sem a carteira.
Os índios tiraram as camisas dos dois e pintaram seus rostos.
Os invasores afirmaram que, a princípio, acreditaram que o repórter e Granja eram pistoleiros.
Perguntaram ao repórter se ele tinha autorização por escrito da Funai para entrar na área. A reportagem explicou que o administrador da Funai Wilian Rodrigues havia dito as lideranças estavam informadas sobre a ida da Agência Folha à fazenda.
"Então, depois que a Funai chegar aqui, vai ficar tudo bem", disse um líder dos índios depois de pedir documentos aos dois visitantes -que ficaram sem camisa, sob o sol, sendo observados por crianças indígenas.
Em seguida, esse índio mandou o repórter e o motorista sentarem em um banco de madeira, na sombra, onde ficaram por duas horas. Nessa espera, um "índio bravo, guerreiro", na definição das lideranças, ameaçou disparar uma flecha em direção aos visitantes.

Carro requisitado
"Eu preferi nem olhar", afirmou Granja depois do ocorrido. Foi ele, entretanto, quem teve a iniciativa de conversar com uma das lideranças. A atitude do motorista abriu caminho para que o repórter entrasse em contato com os demais índios para entrevistá-los.
Após a conversa, porém, o carro foi "requisitado" pelos índios, que iriam a uma aldeia próxima. O repórter ficou na fazenda, e o motorista levou os indígenas.
A Agência Folha deixou a área invadida por volta das 18h30, depois ter entrado lá às 13h, na terça-feira. (HC)


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