São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Traficantes matam agricultores

DO ENVIADO A SALGUEIRO

"Sempre vivi da roça, mas agora não sei o que fazer. Não tenho mais nada, pois até as encanações do meu lote os traficantes roubaram. Estou desempregado porque nossos empregos eram nossas culturas. Tenho uma filha que era agente de saúde e também está desempregada e ameaçada de morte por tê-los entregue à polícia." O texto é de uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 16 de maio deste ano, pelo agricultor Mário Aureliano da Silva. Ela mostra o medo imposto pela quadrilha do traficante Jerry Adriane Gomes da Silva, o Nego de Lídio, às famílias do Projeto Fulgêncio.
A tragédia da família de Aureliano da Silva começou no dia do Natal de 2002. Seu irmão, Sebastião Aureliano da Silva, 68, descansava na porta de casa quando foi surpreendido por 12 homens da quadrilha de Lídio, que o mataram a tiros de fuzil, pistola e espingarda calibre 12.
A mulher de Silva, Maria das Graças, e o filho, Ronaldo, 12, que estavam dentro da casa, ficaram feridos. O crime ocorreu por causa de uma briga de bar entre um dos integrantes da quadrilha e um parente do agricultor. Uma sobrinha de Silva deu queixa do assassinato à Polícia Civil. Quatro dias depois, o grupo de Lídio voltou para matar o resto da família. O sobrinho do agricultor, Sandro Rogério do Nascimento, 24, foi morto a tiros.
"Ele morreu às 16h em casa e na frente de todos os moradores da agrovila. Ninguém quis prestar depoimento por medo", afirmou o chefe da Polícia Federal (PF) em Salgueiro, João Evangelista.
Os parentes de Silva deixaram o Projeto Fulgêncio e hoje vivem escondidos na Bahia e em Alagoas. A casa do agricultor foi ocupada por Leandro Novelino Pereira, 20, e sua mulher, Edivane, 13.
O novo morador não comenta o crime, apesar de as marcas de tiros continuarem na parede. Conta que mora ali há um mês e que "ganhou" o imóvel do pai do traficante, Lídio Gomes da Silva, que trabalha como vigia no local.
O próprio nome do projeto -Fulgêncio- tem origem na violência. Até 1997, ele se chamava Caraíbas. A mudança foi uma homenagem ao líder sindical Fulgêncio Manoel dos Santos, um dos fundadores do assentamento, morto por traficantes ligados a Nego de Lídio. Segundo a PF, pelo menos 200 famílias já deixaram o local por ordem do tráfico.



Texto Anterior: Trukás também são ameaçados
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.