São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Com déficit fiscal zero, Yeda diz que é a "hora da colheita"

Após ano de "crise de Estado", tucana aposta em retomada de investimento social

Governadora do RS diz que crítica da oposição é "vazia" e cita parecer da Promotoria que considerou regular a compra de uma casa por ela

ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Depois de um primeiro ano de governo "duro", por conta de ajustes econômicos, e de um segundo ano "pior", devido a escândalos políticos que levaram a uma "crise de Estado", a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB) acredita que a tempestade passou e é hora da colheita. "Não há mais torres para derrubar", diz.
A colheita que espera está calcada no déficit zero alcançado por sua gestão e na retomada de investimentos sociais. Em entrevista à Folha, a governadora falou sobre as conquistas na área econômica e os momentos difíceis de seu governo. Deixou transparecer a mágoa em relação ao vice-governador, Paulo Feijó (DEM), que ajudou a agravar a crise política, e à oposição. Fez ainda duras críticas aos antecessores.

 

FOLHA - Seus dois primeiros anos de governo foram difíceis...
YEDA CRUSIUS
- [2007] Foi um ano de ajuste, de muita incompreensão, porque a cultura baseada em gestão do recurso público era zero. Foi muito duro o ano de 2007. O ano de 2008 piorou, por causa dessa manifestação política. Juntou-se ali o grupo de oposição e, durante uma CPI sem regras, o governo seguiu todos os dias amanhecendo na mídia com denúncias sem fundamento. Crise muito forte. Não de governo, mas crise de Estado, que foi gerada numa gravação [feita pelo vice-governador, leia texto à pág. A9]. O ano termina com a prova gerada pelo Ministério Público [Estadual] de que a famosa compra da casa da governadora [foi] totalmente idônea. Isso afastou as nuvens da dúvida que pairou esse ano inteiro com um trabalho selvagem da oposição. Parece a colheita em época de colheita. A gente colhe tudo o que plantou.

FOLHA - E na economia?
YEDA
- Cortamos despesas em mais de 30%, nenhum outro Estado fez isso. Recebemos uma carga de dívida de curto prazo imensa, um déficit de R$ 2,4 bilhões. Foi um ajuste muito duro, a gente não investiu, tomamos a decisão de não investir [em 2007, ano em que se investiu apenas R$ 40 milhões]. Em 2008, já com os programas estruturantes definidos, [investimos] dez vezes mais, R$ 400 milhões. Mas nos preparamos para investir R$ 1,25 bilhão em 2009.

FOLHA - O crescimento do país ajudou o Estado a alcançar déficit zero?
YEDA
- O déficit zero foi fruto dos esforços do Rio Grande do Sul. O ICMS, que é o que nos compete, cresceu 33% nos dois anos de governo. A economia cresceu 12%. A receita cresceu 33% e isso foi nota eletrônica, negociada setor a setor, mês a mês. O ICMS cresceu por técnica e modernização da receita. A mesma coisa na despesa. Criamos o que nos permitiu ter o maior superávit da história.

FOLHA - A crise mundial pode comprometer suas metas para o Estado?
YEDA
- O déficit zero será mantido. O Orçamento prevê R$ 1,25 bilhão de investimentos. Se a crise vier, conforme o tamanho, ela vai afetar os investimentos.

FOLHA - A principal arma da oposição é a falta de investimentos sociais de seu governo. Com a crise, não teme ser conhecida como a governadora que não investiu?
YEDA
- Eles é que têm que ser conhecidos como os governadores que gastaram sem cobertura, gerando um déficit que reduziu toda a qualidade que gerações e gerações produziram em educação e saúde. Digo que estou consertando a irresponsabilidade deles nas finanças públicas. A crítica deles é vazia. Eles cobram deste governo o que o governo deles não fez.

FOLHA - Desde o início, seu governo tem dificuldades com a Assembleia Legislativa, com a oposição, com partidos aliados que foram deixando a base do seu governo e até com o seu vice. A acusam de não dialogar e de inabilidade política.
YEDA
- Faço aquilo que foi meu compromisso com a população, e eu ganhei a eleição. É claro que eles gostariam que eu tivesse dado bondades fiscais, e entrasse em déficit outra vez. Eu apenas digo "não". Dizer "não" não é muito costume de quem fez déficit, vendeu o patrimônio público. [...] A inabilidade política que tentam fazer valer é sustentar politicamente uma decisão política de eleição.

FOLHA - Seu vice voltou, nas últimas semanas, a fazer críticas ao governo. Ele é um inimigo declarado?
YEDA
- (Pausa) Ele fez um aparte de uma campanha eleitoral. Tem o direito de ser o vice-governador e falar o que bem entende. [As opiniões dele] Não têm pé nem cabeça.

FOLHA - As relações continuam difíceis?
YEDA
- Ele não se relaciona.


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