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Com déficit fiscal zero, Yeda diz que é a "hora da colheita"
Após ano de "crise de Estado", tucana aposta em retomada de investimento social
Governadora do RS diz que crítica da oposição é "vazia" e cita parecer da Promotoria que considerou regular a compra de uma casa por ela
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Depois de um primeiro ano
de governo "duro", por conta de
ajustes econômicos, e de um segundo ano "pior", devido a escândalos políticos que levaram
a uma "crise de Estado", a governadora do Rio Grande do
Sul, Yeda Crusius (PSDB) acredita que a tempestade passou e
é hora da colheita. "Não há
mais torres para derrubar", diz.
A colheita que espera está
calcada no déficit zero alcançado por sua gestão e na retomada de investimentos sociais.
Em entrevista à Folha, a governadora falou sobre as conquistas na área econômica e os
momentos difíceis de seu governo. Deixou transparecer a
mágoa em relação ao vice-governador, Paulo Feijó (DEM),
que ajudou a agravar a crise política, e à oposição. Fez ainda
duras críticas aos antecessores.
FOLHA - Seus dois primeiros anos
de governo foram difíceis...
YEDA CRUSIUS - [2007] Foi um
ano de ajuste, de muita incompreensão, porque a cultura baseada em gestão do recurso público era zero. Foi muito duro o
ano de 2007. O ano de 2008
piorou, por causa dessa manifestação política. Juntou-se ali
o grupo de oposição e, durante
uma CPI sem regras, o governo
seguiu todos os dias amanhecendo na mídia com denúncias
sem fundamento. Crise muito
forte. Não de governo, mas crise de Estado, que foi gerada numa gravação [feita pelo vice-governador, leia texto à pág. A9].
O ano termina com a prova
gerada pelo Ministério Público
[Estadual] de que a famosa
compra da casa da governadora
[foi] totalmente idônea. Isso
afastou as nuvens da dúvida
que pairou esse ano inteiro
com um trabalho selvagem da
oposição. Parece a colheita em
época de colheita. A gente colhe
tudo o que plantou.
FOLHA - E na economia?
YEDA - Cortamos despesas em
mais de 30%, nenhum outro
Estado fez isso. Recebemos
uma carga de dívida de curto
prazo imensa, um déficit de R$
2,4 bilhões. Foi um ajuste muito duro, a gente não investiu,
tomamos a decisão de não investir [em 2007, ano em que se
investiu apenas R$ 40 milhões]. Em 2008, já com os programas estruturantes definidos, [investimos] dez vezes
mais, R$ 400 milhões. Mas nos
preparamos para investir
R$ 1,25 bilhão em 2009.
FOLHA - O crescimento do país ajudou o Estado a alcançar déficit zero?
YEDA - O déficit zero foi fruto
dos esforços do Rio Grande do
Sul. O ICMS, que é o que nos
compete, cresceu 33% nos dois
anos de governo. A economia
cresceu 12%. A receita cresceu
33% e isso foi nota eletrônica,
negociada setor a setor, mês a
mês. O ICMS cresceu por técnica e modernização da receita. A
mesma coisa na despesa. Criamos o que nos permitiu ter o
maior superávit da história.
FOLHA - A crise mundial pode comprometer suas metas para o Estado?
YEDA - O déficit zero será mantido. O Orçamento prevê
R$ 1,25 bilhão de investimentos. Se a crise vier, conforme o
tamanho, ela vai afetar os investimentos.
FOLHA - A principal arma da oposição é a falta de investimentos sociais de seu governo. Com a crise,
não teme ser conhecida como a governadora que não investiu?
YEDA - Eles é que têm que ser
conhecidos como os governadores que gastaram sem cobertura, gerando um déficit que reduziu toda a qualidade que gerações e gerações produziram
em educação e saúde. Digo que
estou consertando a irresponsabilidade deles nas finanças
públicas. A crítica deles é vazia.
Eles cobram deste governo o
que o governo deles não fez.
FOLHA - Desde o início, seu governo tem dificuldades com a Assembleia Legislativa, com a oposição,
com partidos aliados que foram deixando a base do seu governo e até
com o seu vice. A acusam de não dialogar e de inabilidade política.
YEDA - Faço aquilo que foi meu
compromisso com a população,
e eu ganhei a eleição. É claro
que eles gostariam que eu tivesse dado bondades fiscais, e entrasse em déficit outra vez. Eu
apenas digo "não". Dizer "não"
não é muito costume de quem
fez déficit, vendeu o patrimônio público. [...] A inabilidade
política que tentam fazer valer
é sustentar politicamente uma
decisão política de eleição.
FOLHA - Seu vice voltou, nas últimas semanas, a fazer críticas ao governo. Ele é um inimigo declarado?
YEDA - (Pausa) Ele fez um
aparte de uma campanha eleitoral. Tem o direito de ser o vice-governador e falar o que
bem entende. [As opiniões dele] Não têm pé nem cabeça.
FOLHA - As relações continuam difíceis?
YEDA - Ele não se relaciona.
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