São Paulo, segunda, 4 de janeiro de 1999

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MERCADO FINANCEIRO
Cotação de papel mais nobre da dívida externa caiu 28,65%
Credibilidade do Brasil no exterior despenca em 98

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

A credibilidade do Brasil no exterior despencou no ano passado, de forma muito mais aguda do que a dos seus vizinhos Argentina e México. Isso pode ser medido pela cotação dos papéis da dívida externa desses três países.
O papel mais nobre emitido pelo Brasil é o título conhecido como Global ou Rep 27 ("Rep" de República), que esteve cotado por apenas 68% do seu valor de face em 31 de dezembro de 98, uma queda de 28,65% no preço ao longo de 98.
Na Argentina, o título correspondente também se chama Rep 27. Esse papel foi cotado a 90,25% do seu valor de face no último dia 31 -uma desvalorização de apenas 9,02% no ano passado.
Já o México está em situação mais confortável do que Brasil e Argentina. O título mexicano UMS 26 era vendido com ágio de 7% no último dia do ano passado.
Todos os papéis emitidos pelo governo do Brasil sofreram deságio no mercado secundário em 98. Alguns títulos da Argentina e do México se valorizaram no período.

Entenda a razão da queda
Há duas razões básicas para que os títulos do governo brasileiro tenham perdido tanto valor em 98.
A primeira razão, e mais óbvia, é que as crises da Ásia e da Rússia deixaram os especuladores internacionais com medo de perder dinheiro também no Brasil. Por isso, passaram a vender os papéis brasileiros. Isso provocou a queda dos preços. Ao vender os papéis, os especuladores deixam implícito que acreditam cada vez menos na capacidade do Brasil de honrar seus compromissos.
A outra razão para a queda é que os juros internos no Brasil subiram muito -chegaram a dobrar após a crise da Rússia, em outubro.
Com os juros altos, muitos investidores teriam preferido então vender os papéis que tinham do Brasil no exterior. Teriam optado por trazer o dinheiro para cá, já que especular no mercado interno do Brasil dá mais lucro.
De certa forma, ao ter elevado os juros em 98, o governo estimulou a queda da cotação de seus papéis no exterior. Mas a equipe econômica teve de fazer isso para tentar estancar a saída de dinheiro.
Como o Brasil estava perdendo muitas reservas internacionais no ano passado, o governo tinha interesse em atrair capital externo.
Até agora, entretanto, a estratégia não deu certo. Os investidores começaram a abandonar os papéis brasileiros no exterior. A cotação dos títulos despencou. Mas poucos se interessaram em transferir o dinheiro especulativo para cá: as reservas internacionais do Brasil caíram de US$ 70 bilhões, há seis meses, para perto de US$ 36 bilhões.
Se o governo obtiver êxito na aprovação do ajuste fiscal no Congresso, isso permitirá uma redução dos juros internos. Os especuladores voltariam a comprar papéis do Brasil no exterior, e as cotações poderiam subir. O mercado deixou claro em dezembro que a aprovação do ajuste fiscal pelo Congresso é vital para que o país recupere um pouco da sua credibilidade.
Em dezembro, o presidente Fernando Henrique Cardoso já estava eleito. As crises da Rússia e da Ásia estavam mais ou menos controladas. Mas foi em dezembro que ficou evidente que a CPMF (o imposto do cheque) não seria aprovada pelo Congresso no prazo desejado pelo governo.
Também em dezembro, o Rep 27 do Brasil caiu de 76% para 68% do seu valor de face. Foi uma reação exclusiva à situação econômica interna brasileira, pois os papéis argentinos e mexicanos permaneceram estáveis no mesmo período.



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