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MERCADO FINANCEIRO
Cotação de papel mais nobre da dívida externa caiu 28,65%
Credibilidade do Brasil no exterior despenca em 98
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
A credibilidade do Brasil no exterior despencou no ano passado, de
forma muito mais aguda do que a
dos seus vizinhos Argentina e México. Isso pode ser medido pela cotação dos papéis da dívida externa
desses três países.
O papel mais nobre emitido pelo
Brasil é o título conhecido como
Global ou Rep 27 ("Rep" de República), que esteve cotado por apenas 68% do seu valor de face em 31
de dezembro de 98, uma queda de
28,65% no preço ao longo de 98.
Na Argentina, o título correspondente também se chama Rep
27. Esse papel foi cotado a 90,25%
do seu valor de face no último dia
31 -uma desvalorização de apenas 9,02% no ano passado.
Já o México está em situação
mais confortável do que Brasil e
Argentina. O título mexicano UMS
26 era vendido com ágio de 7% no
último dia do ano passado.
Todos os papéis emitidos pelo
governo do Brasil sofreram deságio no mercado secundário em 98.
Alguns títulos da Argentina e do
México se valorizaram no período.
Entenda a razão da queda
Há duas razões básicas para que
os títulos do governo brasileiro tenham perdido tanto valor em 98.
A primeira razão, e mais óbvia, é
que as crises da Ásia e da Rússia
deixaram os especuladores internacionais com medo de perder dinheiro também no Brasil. Por isso,
passaram a vender os papéis brasileiros. Isso provocou a queda dos
preços. Ao vender os papéis, os especuladores deixam implícito que
acreditam cada vez menos na capacidade do Brasil de honrar seus
compromissos.
A outra razão para a queda é que
os juros internos no Brasil subiram
muito -chegaram a dobrar após a
crise da Rússia, em outubro.
Com os juros altos, muitos investidores teriam preferido então
vender os papéis que tinham do
Brasil no exterior. Teriam optado
por trazer o dinheiro para cá, já
que especular no mercado interno
do Brasil dá mais lucro.
De certa forma, ao ter elevado os
juros em 98, o governo estimulou a
queda da cotação de seus papéis no
exterior. Mas a equipe econômica
teve de fazer isso para tentar estancar a saída de dinheiro.
Como o Brasil estava perdendo
muitas reservas internacionais no
ano passado, o governo tinha interesse em atrair capital externo.
Até agora, entretanto, a estratégia não deu certo. Os investidores
começaram a abandonar os papéis
brasileiros no exterior. A cotação
dos títulos despencou. Mas poucos
se interessaram em transferir o dinheiro especulativo para cá: as reservas internacionais do Brasil caíram de US$ 70 bilhões, há seis meses, para perto de US$ 36 bilhões.
Se o governo obtiver êxito na
aprovação do ajuste fiscal no Congresso, isso permitirá uma redução
dos juros internos. Os especuladores voltariam a comprar papéis do
Brasil no exterior, e as cotações poderiam subir. O mercado deixou
claro em dezembro que a aprovação do ajuste fiscal pelo Congresso
é vital para que o país recupere um
pouco da sua credibilidade.
Em dezembro, o presidente Fernando Henrique Cardoso já estava
eleito. As crises da Rússia e da Ásia
estavam mais ou menos controladas. Mas foi em dezembro que ficou evidente que a CPMF (o imposto do cheque) não seria aprovada pelo Congresso no prazo desejado pelo governo.
Também em dezembro, o Rep 27
do Brasil caiu de 76% para 68% do
seu valor de face. Foi uma reação
exclusiva à situação econômica interna brasileira, pois os papéis argentinos e mexicanos permaneceram estáveis no mesmo período.
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