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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NOVA SUSPEITA
Papéis que apontam existência de suposto caixa 2 na campanha de 2002 relacionam como candidatos pessoas que não concorreram
"Lista de Furnas" tem erros e inconsistências
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O conjunto de papéis sem autenticação conhecido como "lista
de Furnas" é cheio de erros factuais, tem inconsistências técnicas (mesmo para uma fotocópia)
e só poderá algum dia ter sua veracidade avaliada se o original
aparecer -o que hoje é uma
aposta incerta.
A "lista de Furnas" é composta
por cinco folhas de papel. São supostamente fotocópias de uma
fotocópia que havia sido tirada e
autenticada em cartório, no Rio
de Janeiro, a partir de um documento original. Está à disposição
na internet desde o final do ano
passado, em sites de pessoas que
são simpatizantes do PT.
Estão citados nas cinco folhas
156 políticos de 12 partidos políticos (PDT, PFL, PL, PMDB, PP,
PPS, Prona, PRTB, PSB, PSC,
PSDB e PTB). Todos teriam recebido dinheiro de um esquema de
caixa dois montado a partir da estatal federal de energia Furnas.
Parte dos citados já veio a público
para negar a informação.
O valor total das supostas doações é de R$ 39,665 milhões. Teriam sido efetuadas nas eleições
de 2002. A data no final do papel é
30 de novembro de 2002. A autenticação da fotocópia, porém, deu-se só em 22 de setembro de 2005.
Até agora, só o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), cassado
em 2005, admitiu como verdadeira a informação contida sobre ele:
a de que recebeu R$ 75 mil por intermédio de Dimas Fabiano Toledo, um ex-diretor de Furnas.
Dimas já emitiu nota e nega o
conteúdo e a autoria do documento -sua assinatura está no
papel, com a autenticação "por
semelhança" obtida em cartório.
Embora o papel seja de 2002, a autenticação que consta para a assinatura do ex-diretor de Furnas foi
obtida num cartório do Rio só em
5 de agosto do ano passado.
Origem
A primeira dúvida sobre a "lista
de Furnas" é com relação ao fato
de o suposto documento original
nunca ter aparecido. As fotocópias disponíveis na internet são
derivadas parcialmente de uma
iniciativa do professor aposentado Luiz Fernando Carceroni, 58,
de Minas Gerais. Ele é filiado ao
PT desde 1980, quando ajudou a
fundar a seção mineira da sigla.
"[Foi] o deputado estadual Rogério Correia, aqui do PT de Minas, quem me passou o papel. Ele
disse ter visto o original. Escaneei
os papéis e comecei a mandar para amigos e jornalistas. Fiz a minha obrigação, pois também representei para o Ministério Público, para a Polícia Federal e para a
Controladoria-Geral da União",
disse Carceroni.
Segundo o petista, que vive em
Belo Horizonte, o deputado Rogério Correia teria recebido a fotocópia de Nilton Monteiro, um
lobista que seria o detentor do suposto documento original. Monteiro não admite em público ter
esse papel em seu poder.
Rogério Correia, 47, segundo-vice-presidente da Assembléia
mineira, confirma a história. "Vi
o original em novembro. O Nilton
me mostrou", diz. Qual era a cor
da suposta assinatura de Dimas
Toledo no original? "Difícil lembrar", responde o deputado.
Ao ver o papel dito original, foi
possível notar se a assinatura estava escrita a caneta, deixando marcas no papel ou se poderia ter sido
impressa eletronicamente? "Não
posso afirmar nada sobre isso
também. Seria necessário periciar", responde Correia. Onde está o original? "O Nilton diz que
não tem mais. Diz que deu para
um advogado, que já morreu."
Tio Patinhas
Nesta semana, começou a circular na internet uma versão da primeira página da "lista de Furnas"
diferente da que vinha sendo divulgada. O nome de um dos políticos foi substituído. Em seu lugar
aparece escrito "Tio Patinhas", o
personagem infantil de revistas
em quadrinhos.
Com os recursos disponíveis em
informática, é possível alterar totalmente os papéis e imprimir novas cópias. Como são fotocópias,
não há como provar qual foi o primeiro a ser montado.
Mesmo que exista um original
que tenha dado origem à autenticação das fotocópias -até porque um cartório no Rio atestou
nesta semana ser verdadeiro o selo que está na cópia-, nada impede que o original também tenha sido montado.
Os recursos de computadores
domésticos hoje permitem a alguém escanear uma assinatura
verdadeira e imprimi-la com a cor
azul, imitando a de uma caneta,
sobre um outro documento. Ao
levar ao cartório esse papel montado e com aparência de original,
dificilmente o atendente terá condições de identificar a fraude e fará a autenticação "por semelhança" -conferindo com a assinatura disponível em ficha arquivada.
Como o original não está disponível, não é possível dizer se a assinatura ali impressa é fruto de uma
montagem ou se foi mesmo produzida pela mão de Toledo.
Além dessas dúvidas técnicas, a
"lista de Furnas" traz também erros factuais e inconsistências no
que diz respeito à realidade política das pessoas citadas.
O redator do material teve o cuidado de usar um papel timbrado
de Furnas, escreveu "confidencial" no cabeçalho das cinco páginas, listou a distribuição de milhões de reais, mas errou o Estado
de um deputado e citou candidatos a deputado que não concorreram na eleição.
O corregedor da Câmara, Ciro
Nogueira (PP-PI), está na "lista de
Furnas". Nega ter recebido dinheiro do suposto esquema.
"Meu nome está lá, mas com um
erro grosseiro. Falam que eu sou
de Pernambuco, e eu sou do
Piauí", afirmou.
Os nomes de Luiz Paulo Velloso
Lucas (ex-prefeito de Vitória, no
Espírito Santo) e de Francisco
Luiz Gomide (ex-ministro de Minas e Energia em 2002) aparecem
como candidatos eleitos a deputado federal, mas nenhum dos dois
chegou a se candidatar nas eleições de 2002.
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