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ELEIÇÕES 2006/PRESIDENTE
Presidente faz discurso ufanista sobre potencial do país na área de combustível alternativo e usa slogan "o biocombustível é nosso"
Lula copia Vargas; PT retoma "queremismo"
PEDRO DIAS LEITE
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em um discurso marcado pelo
tom ufanista, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse ontem
no Palácio do Planalto que "nenhum país do planeta Terra tem
as condições que tem o Brasil para
competir no combustível alternativo". Citou a campanha "O Petróleo é Nosso", criada na década
de 50 pelo então presidente Getúlio Vargas (1883-1954) e que culminou na criação da Petrobras,
para dizer que o slogan hoje é "o
biocombustível é nosso".
Em São Paulo, a Executiva Nacional do PT já começou uma
"campanha de mobilização nacional" para defender a candidatura de Lula à reeleição. A campanha foi batizada de "queremista"
pelo petista Humberto Costa, ex-ministro da Saúde.
O "queremismo" foi um movimento que pedia a permanência
de Getúlio Vargas na Presidência,
iniciado em 1945. Enquanto partidos políticos eram organizados e
candidatos eram lançados, Vargas preferia passar uma imagem
dúbia: não afirmava nem negava
sua candidatura nas eleições.
Lula, que costuma se referir ao
ex-presidente em seus discursos,
tem agido de forma parecida.
Chegou a afirmar ser candidato
em entrevista a radialistas no fim
do ano passado, mas recuou e disse ter se enganado.
Ontem, a exaltação das potencialidades do Brasil foi o fio condutor de todo o discurso do presidente na cerimônia de assinatura
dos primeiros contratos de compra de biodiesel. Também houve
espaço para auto-elogios ao governo e a seus parceiros.
O clima era de empolgação. Antes de Lula discursar, o ministro
de Minas e Energia, Silas Rondeau, quase lançou a candidatura
de Lula. "O senhor já é o candidato (...) O senhor está sendo consagrado pelo povo com o selo social
do combustível", disse o ministro,
em referência ao fato de agricultores familiares plantarem o produto usado no biodiesel.
Os primeiros contratos foram
assinados ontem com a Petrobras, sendo que esse lote está estimado em R$ 50 milhões e vai beneficiar 65 mil famílias. "Entre a
descoberta do professor Expedito
[Parente], a data que ele patenteou o biodiesel e a transformação
disso em combustível de verdade
passaram-se 22 anos. E em apenas
dois anos, com o trabalho extraordinário das pessoas que estão aqui, mas também da ministra Dilma [Rousseff] e do ministro Roberto Rodrigues, nós, com
o apoio do Congresso, conseguimos transformar o produto numa
nova matriz energética do nosso
país na área de combustível."
À tarde, para alunos do projeto
Rondon, Lula afirmou que "ninguém vai conseguir competir com
o Brasil na área do combustível
renovável, tanto na questão do álcool como na do biodiesel".
Lula utilizou a cerimônia do
biodiesel para aproveitar a volta
da discussão sobre combustíveis
renováveis, reavivada pelo discurso do presidente dos EUA, George
W. Bush, que falou na busca por
uma dependência menor do petróleo e colocou parte da atenção
internacional no Brasil.
Nos últimos meses, o presidente
fala no biodiesel sempre que tem
a oportunidade. Ontem, de bom
humor, Lula chegou a brincar na
hora da fotografia da assinatura
dos contratos: "Daqui a cem anos,
os bisnetos de vocês vão estar
vendo essa foto", disse, sentado
na mesa e fora da fotografia. "Hoje é um daqueles dias que você se
levanta e diz: valeu a pena. Primeiro, ser brasileiro; segundo, estar vivendo este momento que
nós estamos vivendo e, terceiro,
poder viver este momento como
presidente da República", falou.
À tarde, no evento na Base Aérea com cerca de 530 alunos que
embarcaram para a Amazônia,
Lula retomou o tema biodiesel
após elogiar a UNE (União Nacional dos Estudantes) pelo "papel
extraordinário" para que o projeto Rondon fosse retomado.
Vestido com uma camiseta do
projeto por cima da camisa, Lula
tirou foto com alunos, ganhou
uma camiseta da Universidade
Federal de Minas Gerais e foi recebido com um pequeno cartaz dizendo "Lula - Bis em 2006" de estudantes de Juiz de Fora.
À tarde, o presidente viajou para Belo Horizonte. Visitou obras
na UFMG e reafirmou que seguirá
comparecendo a inaugurações
pelo país enquanto não se "colocar como candidato". Lula foi recebido na capital mineira por um
grupo de cerca de 200 militantes.
Colaboraram THIAGO GUIMARÃES, da
Agência Folha, em Belo Horizonte, e
MARCELO SALINAS, da Redação
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