São Paulo, sábado, 04 de fevereiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDENTE

Presidente faz discurso ufanista sobre potencial do país na área de combustível alternativo e usa slogan "o biocombustível é nosso"

Lula copia Vargas; PT retoma "queremismo"

PEDRO DIAS LEITE
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um discurso marcado pelo tom ufanista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem no Palácio do Planalto que "nenhum país do planeta Terra tem as condições que tem o Brasil para competir no combustível alternativo". Citou a campanha "O Petróleo é Nosso", criada na década de 50 pelo então presidente Getúlio Vargas (1883-1954) e que culminou na criação da Petrobras, para dizer que o slogan hoje é "o biocombustível é nosso".
Em São Paulo, a Executiva Nacional do PT já começou uma "campanha de mobilização nacional" para defender a candidatura de Lula à reeleição. A campanha foi batizada de "queremista" pelo petista Humberto Costa, ex-ministro da Saúde.
O "queremismo" foi um movimento que pedia a permanência de Getúlio Vargas na Presidência, iniciado em 1945. Enquanto partidos políticos eram organizados e candidatos eram lançados, Vargas preferia passar uma imagem dúbia: não afirmava nem negava sua candidatura nas eleições.
Lula, que costuma se referir ao ex-presidente em seus discursos, tem agido de forma parecida. Chegou a afirmar ser candidato em entrevista a radialistas no fim do ano passado, mas recuou e disse ter se enganado.
Ontem, a exaltação das potencialidades do Brasil foi o fio condutor de todo o discurso do presidente na cerimônia de assinatura dos primeiros contratos de compra de biodiesel. Também houve espaço para auto-elogios ao governo e a seus parceiros.
O clima era de empolgação. Antes de Lula discursar, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, quase lançou a candidatura de Lula. "O senhor já é o candidato (...) O senhor está sendo consagrado pelo povo com o selo social do combustível", disse o ministro, em referência ao fato de agricultores familiares plantarem o produto usado no biodiesel.
Os primeiros contratos foram assinados ontem com a Petrobras, sendo que esse lote está estimado em R$ 50 milhões e vai beneficiar 65 mil famílias. "Entre a descoberta do professor Expedito [Parente], a data que ele patenteou o biodiesel e a transformação disso em combustível de verdade passaram-se 22 anos. E em apenas dois anos, com o trabalho extraordinário das pessoas que estão aqui, mas também da ministra Dilma [Rousseff] e do ministro Roberto Rodrigues, nós, com o apoio do Congresso, conseguimos transformar o produto numa nova matriz energética do nosso país na área de combustível."
À tarde, para alunos do projeto Rondon, Lula afirmou que "ninguém vai conseguir competir com o Brasil na área do combustível renovável, tanto na questão do álcool como na do biodiesel".
Lula utilizou a cerimônia do biodiesel para aproveitar a volta da discussão sobre combustíveis renováveis, reavivada pelo discurso do presidente dos EUA, George W. Bush, que falou na busca por uma dependência menor do petróleo e colocou parte da atenção internacional no Brasil.
Nos últimos meses, o presidente fala no biodiesel sempre que tem a oportunidade. Ontem, de bom humor, Lula chegou a brincar na hora da fotografia da assinatura dos contratos: "Daqui a cem anos, os bisnetos de vocês vão estar vendo essa foto", disse, sentado na mesa e fora da fotografia. "Hoje é um daqueles dias que você se levanta e diz: valeu a pena. Primeiro, ser brasileiro; segundo, estar vivendo este momento que nós estamos vivendo e, terceiro, poder viver este momento como presidente da República", falou.
À tarde, no evento na Base Aérea com cerca de 530 alunos que embarcaram para a Amazônia, Lula retomou o tema biodiesel após elogiar a UNE (União Nacional dos Estudantes) pelo "papel extraordinário" para que o projeto Rondon fosse retomado.
Vestido com uma camiseta do projeto por cima da camisa, Lula tirou foto com alunos, ganhou uma camiseta da Universidade Federal de Minas Gerais e foi recebido com um pequeno cartaz dizendo "Lula - Bis em 2006" de estudantes de Juiz de Fora.
À tarde, o presidente viajou para Belo Horizonte. Visitou obras na UFMG e reafirmou que seguirá comparecendo a inaugurações pelo país enquanto não se "colocar como candidato". Lula foi recebido na capital mineira por um grupo de cerca de 200 militantes.


Colaboraram THIAGO GUIMARÃES, da Agência Folha, em Belo Horizonte, e MARCELO SALINAS, da Redação

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