São Paulo, sábado, 04 de fevereiro de 2006

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Lula avisa PT que não aceitará restrição a coligações na campanha à reeleição

JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou a integrantes da cúpula do PT que não admitirá ingerências do partido na composição das alianças partidárias para a campanha da reeleição. Disse que a política de alianças será definida e administrada por ele.
Integrantes da ala mais à "esquerda" do partido defendem a adoção de critérios restritivos. Vem daí o incômodo de Lula. Ele não admite que o PT dê "um passo atrás" em relação à campanha de 2002. À época, sob o tacão de José Dirceu (PT-SP), o PT optou por uma estratégia de coligações ampla, incorporando legendas ditas "conservadoras", como o PL do vice José Alencar (hoje filiado ao recém-criado PRB).
Lula argumenta que, como candidato, cabe a ele dar a palavra final sobre as legendas que serão incorporadas à caravana da reeleição. A hora, diz o presidente, não é de subtrair, mas de somar. Afirma que não entrará na disputa para perder. E ameaça: se o PT quer um candidato exclusivo, que escolha outro.
O timbre intimidatório de Lula embute a certeza de que o PT não tem outra alternativa presidencial. Por isso, o presidente não aceita imposições da legenda. Diz que não tem a menor intenção de seguir eventuais restrições que possam vir a ser aprovadas pelo partido. Declara-se farto do que chama de falta de visão política de parte do petismo. Ainda não digeriu a resistência da bancada do PT na Câmara à queda da verticalização -no primeiro turno da votação da emenda constitucional, só 14 deputados da sigla votaram a favor do fim da regra, enquanto 63 optaram pela manutenção.

Correntes
Há duas teses em debate no PT. Um naco do partido, aparentemente minoritário, acha que Lula deve voltar às origens, coligando-se a aliados tradicionais como PC do B e PSB. Admitem incorporar no máximo o PMDB. Legendas como PL, PTB e PP estariam fora. O argumento é o de que a flexibilidade nas alianças está na raiz das distorções que perverteram a tesouraria do PT.
Outro segmento do partido, que seria majoritário, alinha-se mais ao pensamento de Lula. Acha que, para vencer e, depois, para governar, é preciso compor um leque amplo de alianças.
Lula gostaria que o debate sobre o tema fosse transferido para abril, quando o PT fará um encontro nacional. Até lá, faria gestões para consolidar a sua posição. Na cabeça do presidente, o partido deve realizar tantas alianças quantas sejam necessárias. Em âmbito nacional e nos Estados. Sua principal preocupação é o PMDB.
O presidente ainda não abandonou o plano de atrair um peemedebista para compor a chapa presidencial. Mas acha que, ainda que se inviabilize o entendimento, o PT precisa privilegiar acertos com o PMDB nos Estados. Imagina que o entrelaçamento das duas legendas em âmbito estadual permitirá um acerto na esfera federal para o segundo turno da campanha presidencial.


Josias de Souza escreve o blog "Nos Bastidores do Poder" no endereço www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza


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