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SNI reconhece "maus tratos" e "seqüestros"
DA SUCURSAL DO RIO
O que há de mais notável nas
oito edições das "Apreciações
Sumárias" do SNI (Serviço Nacional de Informações) que desapareceram dos arquivos federais é o retrato sem -ou com
poucos- retoques que o órgão
fazia do regime militar. A Folha leu a cópia do CPDOC
(Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), da Fundação Getúlio Vargas.
A edição seguinte ao assassinato de Vladimir Herzog é a nš
11/75, de 3 de novembro de
1975. O jornalista fora morto no
dia 25 de outubro em dependências militares. O Exército
divulgou a versão de que ele se
enforcara.
"No caso particular do suicídio de Vladimir Herzog, o que
mais se lamenta é o descrédito,
que se formou de certa forma
generalizado, na palavra oficial,
circunstancialmente a do próprio Exército", disse o SNI ao
presidente Ernesto Geisel.
Outra constatação: "Não há
porém, nas atuais circunstâncias, como desconhecer ou minimizar sinais da reprovação
popular [ao governo]".
Formalmente, o serviço bancou o relato de suicídio. Mas
afirmou que a ofensiva contra a
oposição carecia de apoio social: "Outros -e não há como
fugir à verificação [de] que aí se
inclui a maioria do povo- parecem não apoiar a "escalada da
repressão", justamente por não
reconhecerem a efetiva existência de uma escalada subversiva".
Onze anos depois de instaurada a ditadura, o SNI era realista sobre o tratamento dado
aos presos políticos.
Conforme a "Apreciação",
"seria faltar à verdade deixar de
reconhecer que prisões têm sido feitas sob a forma aparente
de seqüestros, maus tratos têm
sido aplicados aos prisioneiros,
prazos legais não têm sido obedecidos, comunicações sobre as
prisões não têm sido feitas como recomenda a lei".
A requisição da Folha à Abin
e ao Arquivo Nacional citava
especificamente a "Apreciação
Sumária nš 12/Gab/75 - Campo Interno", de 10 de novembro. Ela abre com a descrição
de discursos de parlamentares
sobre a conjuntura após a morte de Herzog.
(MM)
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