São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

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SNI reconhece "maus tratos" e "seqüestros"

DA SUCURSAL DO RIO

O que há de mais notável nas oito edições das "Apreciações Sumárias" do SNI (Serviço Nacional de Informações) que desapareceram dos arquivos federais é o retrato sem -ou com poucos- retoques que o órgão fazia do regime militar. A Folha leu a cópia do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), da Fundação Getúlio Vargas.
A edição seguinte ao assassinato de Vladimir Herzog é a nš 11/75, de 3 de novembro de 1975. O jornalista fora morto no dia 25 de outubro em dependências militares. O Exército divulgou a versão de que ele se enforcara.
"No caso particular do suicídio de Vladimir Herzog, o que mais se lamenta é o descrédito, que se formou de certa forma generalizado, na palavra oficial, circunstancialmente a do próprio Exército", disse o SNI ao presidente Ernesto Geisel.
Outra constatação: "Não há porém, nas atuais circunstâncias, como desconhecer ou minimizar sinais da reprovação popular [ao governo]".
Formalmente, o serviço bancou o relato de suicídio. Mas afirmou que a ofensiva contra a oposição carecia de apoio social: "Outros -e não há como fugir à verificação [de] que aí se inclui a maioria do povo- parecem não apoiar a "escalada da repressão", justamente por não reconhecerem a efetiva existência de uma escalada subversiva".
Onze anos depois de instaurada a ditadura, o SNI era realista sobre o tratamento dado aos presos políticos.
Conforme a "Apreciação", "seria faltar à verdade deixar de reconhecer que prisões têm sido feitas sob a forma aparente de seqüestros, maus tratos têm sido aplicados aos prisioneiros, prazos legais não têm sido obedecidos, comunicações sobre as prisões não têm sido feitas como recomenda a lei".
A requisição da Folha à Abin e ao Arquivo Nacional citava especificamente a "Apreciação Sumária nš 12/Gab/75 - Campo Interno", de 10 de novembro. Ela abre com a descrição de discursos de parlamentares sobre a conjuntura após a morte de Herzog. (MM)


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