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Dassault diminui preço, e Lula escolhe caça francês
Valor do pacote de 36 caças cai quase R$ 4 bi, e governo bate o martelo pelo Rafale
Mesmo com redução, avião fabricado pela França custará quase 40% a mais do que o concorrente mais barato, o sueco Gripen
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Nelson
Jobim (Defesa) bateram o martelo a favor do caça francês Rafale. A decisão foi tomada depois que a fabricante, Dassault,
reduziu de US$ 8,2 bilhões (R$
15,1 bilhões) para US$ 6,2 bilhões (R$ 11,4 bilhões) o preço
final do pacote de 36 aviões para a Força Aérea Brasileira.
Mesmo com a redução, os caças franceses têm preço muito
superior ao dos concorrentes.
Conforme a Folha apurou, a
proposta do modelo Gripen
NG, da sueca Saab, foi de US$
4,5 bilhões, e a dos F-18 Super
Hornet, da norte-americana
Boeing, de US$ 5,7 bilhões.
Além do custo do pacote, que
inclui avião, armas, logística e
custo de transferência tecnológica, a Dassault estimou que a
manutenção dos aviões por 30
anos custará US$ 4 bilhões.
Os valores foram revistos
após o presidente Lula anunciar antecipadamente a vitória
do Rafale, em setembro. O preço unitário, sempre uma estimativa, era então menor para
todos os concorrentes porque o
pacote não previa vantagens
incluídas na renegociação -como o custo de a Embraer fabricar o caça futuramente.
Norte-americanos e suecos
dizem que houve também uma
mudança de condições na negociação. Na seleção da FAB,
cujo relatório foi finalizado em
dezembro, os preços eram fechados e inegociáveis. Pelo documento, o Rafale ficou em último (o Gripen liderou a lista).
Com a redução apresentada
a posteriori pela França, o preço ficaria sujeito a alterações
futuras, informação que não é
confirmada pelo governo.
A redução de US$ 2 bilhões
na oferta francesa foi concluída
no sábado, quando Jobim passou por Paris na volta de uma
viagem a Israel. Deu o aval após
reunião com o embaixador brasileiro, José Maurício Bustani.
O secretário de Economia e
Finanças da Aeronáutica, brigadeiro Aprígio Azevedo, foi a
Paris para participar da negociação. É a FAB quem arca com
os custos de manutenção.
A intenção de Jobim, conforme disse à Folha em janeiro,
era reavaliar pessoalmente os
critérios no relatório técnico
da FAB e, após redistribuir o
sistema de pesos para cada um,
o que poderia mudar o resultado final, levar o relatório próprio ao presidente. A ideia não
evoluiu porque o formato do
relatório da FAB era muito rígido, e o Rafale não foi o melhor em nenhum dos critérios.
Assim, Jobim estudou o relatório, elaborado em mais de
dez meses pela Copac (Comissão Coordenadora do Programa Aeronaves de Combate), e
fez, anteontem, uma exposição
a Lula para justificar a escolha
do Rafale, decidida há meses.
Jobim comunicou a decisão
ao comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que,
conforme relatos, ficou "desolado", mas determinado a acatar o posicionamento político
do Planalto e da Defesa.
Depois de desistir de alterar
os pesos dos critérios da FAB,
Jobim vai defender a escolha
do Rafale contrariando os argumentos técnicos e os meses
de estudos, viagens e avaliações
dos aviadores da Copac.
A decisão de Lula sobre a escolha é soberana, segundo a
Constituição. Governo e Congresso têm de aprovar financiamentos, e o TCU checa as
contas. É uma decisão de difícil
reversão após assinada.
A base da justificativa vai ser
que o F-18 é americano e o Gripen NG tem componentes dos
EUA, como o motor, e ambos
deixariam o Brasil vulnerável
-os EUA já impediram a Embraer de vender os aviões Super Tucano à Venezuela por terem peças americanas.
No caso do Gripen NG, Jobim vai dizer que o avião "é só
um projeto" e reúne peças de
diferentes países, o que poderia
exigir múltiplas negociações
para revenda internacional.
A Aeronáutica argumenta
que o motor é "apenas mecânico". A aviônica (parte eletrônica) e o sistema de armas ("comunicação" entre o avião e seu
armamento), esses sim, poderiam sofrer vetos e restrições.
Nenhum aspecto técnico poderia demover o governo de fechar com a França, decisão tomada no contexto do que Planalto, Defesa e Itamaraty classificam de parceria estratégica.
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