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Quatro ONGs na mira de CPI têm elos com políticos
Levantamento foi feito pela Folha com base em requerimentos da comissão
Fade, investigada pelo Ministério Público de PE, é ligada a irmão do líder do PT; no Ceará, fundação alvo de CPI dos Anões "reaparece"
FERNANDO BARROS DE MELLO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Classificada como morna nos
últimos meses, a CPI das ONGs
tem pela frente um tema espinhoso: o elo de organizações
não-governamentais com políticos. Levantamento feito pela
Folha mostra pelo menos quatro entidades na mira da CPI
que receberam dinheiro público e têm ligações políticas. Requerimentos ainda não aprovados de senadores da CPI pedem
investigações e quebras de sigilos dessas entidades.
Em um dos documentos, o
senador Raimundo Colombo
(DEM-SC), presidente da CPI,
pediu a quebra dos sigilos da
Fade (Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco).
A fundação, sediada em Recife (PE), manteve contratos de
consultoria com o economista
Alexandre Rands, irmão do líder do PT na Câmara, Maurício
Rands (PE). No seu currículo,
Alexandre diz ter "vínculo institucional" com a instituição.
Os convênios feitos com a
Fade são alvo de inquérito do
Ministério Público de Pernambuco. "Há convênios e contratos celebrados ao arrepio da lei.
As atividades da fundação vêm
sendo monitoradas minuciosamente e os dados coletados até
agora no inquérito civil instaurado depõem, e muito, contra a
Fade", afirmou o promotor
Ulisses de Araújo e Sá Jr.
Segundo o site do governo federal Portal da Transparência
(www.transparencia.gov.br), a Fade recebeu, em 2007,
R$ 16,4 milhões, menos que os
R$ 19,12 milhões de 2006. Em
2005 e 2004 foram R$ 8,16 milhões e R$ 4,3 milhões, respectivamente. Os maiores valores
vieram do Ministério de Ciência e Tecnologia, que repassou
R$ 15 milhões em 2007.
Alexandre Rands também é
sócio da empresa Datamétrica,
que presta serviços à Fade. Na
sexta-feira, ele disse que levantaria o valor dos contratos entre a Fade e a Datamétrica, mas
que eram de cerca de R$ 270
mil. Até o fechamento desta
edição, não ligou de volta.
A Datamétrica tem ainda
dois contratos para administrar o "call center" do INSS
(Instituto Nacional do Seguro
Social) de Recife e Salvador.
A empresa recebeu do instituto R$ 17,2 milhões em 2006 e
R$ 26,9 milhões em 2007.
"Nossas áreas são pesquisa de
opinião, consultoria econômica e principalmente telemarketing", disse Alexandre, que, em
2006, doou R$ 600 como pessoa física ao irmão e R$ 16.841
por meio da Datamétrica. A
Folha ligou para Maurício
Rands e sua assessoria, mas não
conseguiu falar com ele.
Paracatu
Outra ONG ligada a petistas é
a Conscienciarte, de Paracatu
(MG). De 2003 até agora, ela recebeu R$ 2,67 milhões de oito
ministérios e da Secretaria da
Igualdade Racial. Em 2007, recebeu mais de R$ 1 milhão.
Os motivos são diversos, como a valorização de manifestações culturais africanas, capacitação de catadores na atividade de coleta seletiva dos municípios Vespasiano e Jabuticatubas e promoção e divulgação do turismo interno, como a 8ª feira da cachaça artesanal e de derivados da cana-de-açúcar.
O deputado estadual Almir
Paraca (PT), um dos fundadores da ONG, foi prefeito de Paracatu até 2000. Um requerimento da CPI cita o nome de Paraca. Em 2006, o petista
doou a si mesmo mais de R$ 110
mil para a campanha a deputado. Ele disse à Folha que tinha
renda para fazer as doações.
O vice-prefeito da gestão de
Paraca, Udelton da Paixão,
aparecia, até sexta, como membro do conselho fiscal no site
da instituição. A diretoria tinha
mais dois diretores ligados ao
PT, mas o site foi atualizado.
A tesoureira, Vanda Soares,
fez parte, no ano passado, da
mesma chapa estadual de Paraca no PED (processo de eleição
direta do PT). O diretor-executivo, Jader Silva Neiva, foi candidato a vereador em 2004.
Piauí
O presidente da CPI das
ONGs também pediu dados do
Cepac (Centro Piauiense de
Ação Cultural). Entre 2005 e
2007, a ONG recebeu R$ 1,09
milhão. Os convênios são principalmente com o Ministério
do Desenvolvimento Agrário.
O coordenador do Cepac é
Décio Solano Nogueira, que foi
candidato a vereador pelo PT
em 2004. Décio aparece como
doador, em 2006, de quase R$
10 mil ao deputado federal licenciado Antonio José Medeiros (PT-PI), que também foi do
conselho do Cepac e hoje é secretário de Educação do Estado. O governador do Piauí, Wellington Dias, é outro que tem
no currículo participação no
conselho do Cepac, em 1996.
Outro caso citado na CPI foi
o da Fundação Amadeu Filomeno, de Itapipoca (CE). Desde 2004, R$ 3,7 milhões foram
liberados pela Diretoria Executiva do Fundo Nacional de Saúde. Um requerimento pedindo
informações da fundação chegou a ser redigido, mas foi retirado pelo autor, Raimundo Colombo. A Folha não conseguiu localizá-lo ontem à noite para
saber o motivo da retirada.
A fundação foi citada no escândalo dos "anões do Orçamento", que veio à tona em
1993. Os recursos atuais são para a mesma obra pela qual a entidade foi alvo de denúncias há
dez anos, a construção do Hospital Regional de Itapipoca.
O deputado federal Aníbal
Ferreira Gomes (PMDB) era o
presidente da fundação na época das acusações dos "anões" e
chegou a ser condenado pelo
TCU, em 2002. Atualmente, a
ONG é presidida por José Silveira Ponte, que, segundo Aníbal, não tem ligações com ele.
Em contato telefônico com a
fundação, a secretária disse
que se tratava de um "escritório de contabilidade". Questionada pela Folha, disse que a
fundação também ficava ali.
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