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Brasil reage a pressão dos EUA sobre Irã
Hillary Clinton defende a volta de sanções a Teerã, mas Celso Amorim diz que o país dificilmente cederá a imposições
Enquanto secretária dos EUA falava sugerindo reação enérgica da comunidade internacional, chanceler fazia gestos de discordância
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Numa entrevista tensa, com
direito a apenas três perguntas,
a secretária de Estado Hillary
Clinton e o chanceler Celso
Amorim expuseram ontem publicamente as divergências dos
dois países quanto ao Irã. Hillary defendeu que "o tempo de
ação internacional [contra o
Irã] é agora". Amorim comparou a pressão dos EUA à que
antecedeu a invasão do Iraque.
Para Hillary, que depois se
encontrou também com o presidente Lula, o Irã não faz "esforços reais e sinceros" para
mostrar ao mundo que não pretende desenvolver a bomba
atômica, e o Conselho de Segurança da ONU deve "mandar
um recado duro" -recrudescer
as sanções econômicas ao país.
Amorim, que fazia olhares e
gestos de discordância enquanto a secretária de Estado falava,
deixou claro que não acredita
na estratégia de impor novas
sanções: "O Irã é complexo, é
difícil que ceda a algo imposto".
O chanceler comparou a
pressão do governo Barack
Obama contra o Irã à invasão
do Iraque, em 2003. "As ameaças [de que os iraquianos desenvolveriam armas químicas e
biológicas] nunca se materializaram, e o custo para o mundo
foi enorme", disse.
Amorim foi irônico ao responder sobre o porquê de o
Brasil não participar de um
consenso internacional com
relação às sanções. "O Brasil
pensa com a própria cabeça.
Não se trata de se curvar a um
consenso com o qual não concordamos", acrescentou.
O chanceler pediu "um pouquinho mais de flexibilidade de
lado a lado". Hillary respondeu
que Obama "tem a porta aberta,
mas é preciso que seja em mão
dupla" e disse não crer na disposição iraniana para o diálogo.
Para ela, o Irã está enganando os que acreditam em acordo
para o uso da energia nuclear
para fins pacíficos e permitir
inspeções regulares da AIEA
(Agência Nacional de Energia
Atômica). "Os iranianos contam uma história para a China,
outra para a Turquia, outra para o Brasil", disse Hillary.
Apesar de explicitarem as divergências, Hillary e Amorim
ressalvaram que Brasil e Estados Unidos estão de acordo no
principal ponto da questão: o
de que é inadmissível o Irã desenvolver a bomba atômica,
contrariando todos os acordos
internacionais a favor da não
proliferação nuclear.
"As divergências são quanto
ao caminho", disse Amorim,
com a concordância da secretária de Estado, que elogiou a posição brasileira pela paz e pela
democracia mundiais.
Hillary foi áspera com a Venezuela, "que deveria olhar
mais para o sul e para os padrões do Brasil e do Chile".
No caso de Honduras, que
também divide Brasil e EUA, o
chanceler brasileiro mostrou
maior disposição do que demonstrava anteriormente para
reconhecer o governo do presidente Porfírio "Pepe" Lobo.
Hillary e Amorim assinaram
atos para ações conjuntas de
EUA e Brasil no Haiti e na África e em duas novas áreas: violência contra mulheres e clima.
À noite, em um encontro
com estudantes na Faculdade
Zumbi dos Palmares, em São
Paulo, Hillary falou da expectativa dos EUA sobre as eleições
brasileiras. Perguntada se as
relações entre os dois países
mudariam dependendo de
quem fosse eleito, ela afirmou
que "confia na democracia brasileira" e que acreditava que as
relações continuariam boas.
A secretária de Estado falou
até do trânsito paulistano ao
responder uma questão sobre
transporte. "Cheguei atrasada
porque houve um acidente na
estrada", disse ela -sendo lembrada, em seguida, que "não era
um acidente", mas o trânsito
normal da Marginal Tietê.
Ações afirmativas e quotas
para negros dominaram a conversa. Hillary afirmou que as
ações são importantes, mas não
garantem que os alunos concluirão os cursos. Ela defendeu
chances para minorias em todo
o sistema educacional.
Colaborou a Reportagem Local
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