São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2001

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RUMO A 2002

Entidade quer elaborar temas para debater com pré-candidatos à Presidência da República

Fiesp prepara agenda para sucessão

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) vai preparar uma agenda de temas para debates, nos próximos meses, com representantes do governo e com pré-candidatos à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A idéia de colocar esses temas em discussão ampla enfrenta resistências internas e deve contrariar o desejo de FHC, que não quer antecipar o debate.
Na reunião da diretoria, na última segunda-feira, o presidente da Fiesp, Horacio Lafer Piva, pediu que os vários departamentos analisem e se manifestem sobre uma proposta original, apresentada na reunião anterior pelo empresário Mario Bernardini, diretor do departamento de competitividade da entidade.
A novidade, segundo Bernardini, é que itens como inflação, política monetária e política tributária sejam quantificados, para que possam ser discutidos os meios, a ação do governo e as propostas dos pré-candidatos.
A oportunidade de detonar essa discussão abriga divergências na casa. As linhas iniciais esboçadas sugerem que a Fiesp poderá trazer à tona um projeto de país que representa uma total inversão da atual política econômica.
As reações recentes ao aumento da taxa de juros, à elevação da CPMF e ao "acordo" para o reajuste do saldo do FGTS -"um gesto incompreensível de ditadura econômica", segundo Piva- sinalizam o grau de insatisfação do empresário industrial paulista.
"Existem razões lógicas para acreditar que alguns segmentos do governo terão de abandonar um dia as suas obsessões com o curto prazo e as questões meramente financeiras, para levar em conta a necessidade de olhar para o setor industrial", afirmou, em artigo na Folha, no final de março, o presidente da Fiesp, apontando a Argentina como o exemplo do destino incerto de um país desindustrializado.
"Criar mais impostos é aumentar as distorções na produção, nos salários e na distribuição de renda. É uma sandice", afirmou Piva. Em nota oficial, diante da decisão do governo sobre o pagamento do expurgo do FGTS, a Fiesp anunciou que levaria essa posição para o Congresso e para o Judiciário, "convencida de que está em jogo a própria sobrevivência da produção do país, especialmente a pequena e média indústria em mãos de brasileiros".
A discussão sobre a sucessão na Fiesp -de forma institucionalizada- poderá inibir iniciativas isoladas, como a do vice-presidente da entidade, Roberto Nicolau Jeha, que recentemente encontrou-se com o governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), para discutir suas propostas.
A antecipação do debate sucessório também poderá devolver à entidade o espaço perdido como instituição influente e agente político, eclipsada pela formação de uma nova burguesia empresarial que emergiu com as privatizações e a expansão do setor financeiro.
Criticada por ter sido parceira e representante dos beneficiários de políticas protecionistas e dos grandes projetos econômicos do período militar, a Fiesp revelou capacidade de influir na ascensão e queda de ministros nos primeiros anos da democratização. Foi o alvo preferido do então candidato Fernando Collor de Mello, apontada, em sua retórica, como um reduto da elite característica de um Brasil atrasado.
Para alguns industriais, Horacio Piva, filho de um senador tucano, mas que tem revelado independência para criticar a política econômica do governo FHC, ainda pode confirmar a expectativa de que a pirâmide da avenida Paulista volte a ser um centro de reflexão e de influência sobre as grandes decisões nacionais.


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