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RUMO A 2002
Entidade quer elaborar temas para debater com pré-candidatos à Presidência da República
Fiesp prepara agenda para sucessão
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) vai
preparar uma agenda de temas
para debates, nos próximos meses, com representantes do governo e com pré-candidatos à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A idéia de colocar esses temas
em discussão ampla enfrenta resistências internas e deve contrariar o desejo de FHC, que não
quer antecipar o debate.
Na reunião da diretoria, na última segunda-feira, o presidente da
Fiesp, Horacio Lafer Piva, pediu
que os vários departamentos analisem e se manifestem sobre uma
proposta original, apresentada na
reunião anterior pelo empresário
Mario Bernardini, diretor do departamento de competitividade
da entidade.
A novidade, segundo Bernardini, é que itens como inflação, política monetária e política tributária
sejam quantificados, para que
possam ser discutidos os meios, a
ação do governo e as propostas
dos pré-candidatos.
A oportunidade de detonar essa
discussão abriga divergências na
casa. As linhas iniciais esboçadas
sugerem que a Fiesp poderá trazer à tona um projeto de país que
representa uma total inversão da
atual política econômica.
As reações recentes ao aumento
da taxa de juros, à elevação da
CPMF e ao "acordo" para o reajuste do saldo do FGTS -"um
gesto incompreensível de ditadura econômica", segundo Piva-
sinalizam o grau de insatisfação
do empresário industrial paulista.
"Existem razões lógicas para
acreditar que alguns segmentos
do governo terão de abandonar
um dia as suas obsessões com o
curto prazo e as questões meramente financeiras, para levar em
conta a necessidade de olhar para
o setor industrial", afirmou, em
artigo na Folha, no final de março, o presidente da Fiesp, apontando a Argentina como o exemplo do destino incerto de um país
desindustrializado.
"Criar mais impostos é aumentar as distorções na produção, nos
salários e na distribuição de renda. É uma sandice", afirmou Piva.
Em nota oficial, diante da decisão
do governo sobre o pagamento
do expurgo do FGTS, a Fiesp
anunciou que levaria essa posição
para o Congresso e para o Judiciário, "convencida de que está em
jogo a própria sobrevivência da
produção do país, especialmente
a pequena e média indústria em
mãos de brasileiros".
A discussão sobre a sucessão na
Fiesp -de forma institucionalizada- poderá inibir iniciativas
isoladas, como a do vice-presidente da entidade, Roberto Nicolau Jeha, que recentemente encontrou-se com o governador de
Minas, Itamar Franco (PMDB),
para discutir suas propostas.
A antecipação do debate sucessório também poderá devolver à
entidade o espaço perdido como
instituição influente e agente político, eclipsada pela formação de
uma nova burguesia empresarial
que emergiu com as privatizações
e a expansão do setor financeiro.
Criticada por ter sido parceira e
representante dos beneficiários
de políticas protecionistas e dos
grandes projetos econômicos do
período militar, a Fiesp revelou
capacidade de influir na ascensão
e queda de ministros nos primeiros anos da democratização. Foi o
alvo preferido do então candidato
Fernando Collor de Mello, apontada, em sua retórica, como um
reduto da elite característica de
um Brasil atrasado.
Para alguns industriais, Horacio
Piva, filho de um senador tucano,
mas que tem revelado independência para criticar a política econômica do governo FHC, ainda
pode confirmar a expectativa de
que a pirâmide da avenida Paulista volte a ser um centro de reflexão e de influência sobre as grandes decisões nacionais.
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