São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NO GOVERNO/CERCO AO EX-MINISTRO

Ministro da Justiça afirma que seus assessores não testemunharam irregularidade

Bastos nega haver razão para depor sobre violação de sigilo

Sérgio Lima / Folha Imagem
A ministra Dilma Rousseff durante a posse dos novos ministros


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, declarou ontem que não houve demora nem deslize na investigação sobre a violação e o vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e afirmou que não vê motivo para depor na Polícia Federal sobre o caso: ""Eu não tenho nenhum motivo para ser ouvido".
Durante evento com o ministro das Cidades, Márcio Fortes, na favela do Vidigal, no Rio, Bastos defendeu seus auxiliares Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico, e Cláudio Alencar, chefe de gabinete, que estiveram na casa do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci na noite de 16 de março, no momento em que o então presidente da Caixa Econômica Federal entregou a Palocci o extrato bancário do caseiro.
""Isso já foi absolutamente explicado. Eles não são testemunhas de nenhuma irregularidade. Simplesmente foram lá [na casa de Palocci], receberam um pedido, que não puderam atender. E isso é tudo que havia. O fato é que, efetivamente, não houve nenhuma demora, nenhum deslize, nenhuma lentidão da Polícia Federal nem do governo federal", disse.
Bastos disse que 80% do caso foi resolvido em uma semana de investigação: ""Posso dizer, com certeza, que o governo federal cumpriu sua obrigação desde o primeiro momento em que soube da quebra e do vazamento do sigilo".
Em uma entrevista na favela, Bastos listou as providências que disse ter tomado desde que a movimentação bancária de Francenildo Costa foi divulgada pelo blog da "Época", em 17 de março.
Afirmou que tomou conhecimento da publicação no sábado, 18 de março, e que, no domingo, pediu ao diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, a abertura de inquérito ""com toda a liberdade e amplitude" para investigar a questão. O inquérito foi instaurado na segunda, e na terça ele pediu por escrito ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que o Ministério Público Federal acompanhasse a investigação: ""Essa investigação foi feita em tempo absolutamente compatível com a dificuldade, mas num tempo muito rápido".
Bastos disse que sues assessores não testemunharam a quebra e o vazamento do sigilo. Repetiu que Goldberg e Alencar foram à casa de Palocci a chamado do ex-ministro, que queria que fosse investigada a possibilidade de o caseiro ter recebido suborno. Disse que os dois assessores entraram em contato com a PF na semana passada e se colocaram à disposição para prestar depoimento: ""A Polícia Federal está desvendando o inquérito com toda a liberdade".
Ele evitou polemizar com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, que ontem defendeu a investigação dos assessores e do próprio ministro. Bastos disse que não iria comentar as declarações, mas que um ex-presidente da OAB lhe mandou um recado de Busato de que teria sido mal interpretado.

Lacerda
O diretor da PF, Paulo Lacerda, que acompanhou o ministro na visita à favela, disse que ele não será convocado a depor, até porque possui foro privilegiado, mas que, se o delegado achar necessário ouvi-lo, fará um convite ao ministro: "Mas o que se verifica, até o momento, é a absoluta desnecessidade dessa medida". Lacerda disse que o ""núcleo central" da investigação já está resolvido, e que só faltam questões periféricas.

Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou aos membros do governo que defendam a sua conduta e a do ministro Márcio Thomaz Bastos no episódio. Ele considerou o caso resolvido.
Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Relações Institucionais) saíram em defesa de Bastos. Dilma disse que "de jeito nenhum" o ministro seria envolvido: "Esta crise está absolutamente esclarecida, todas as providências foram tomadas". Afirmou que o colega "é um dos melhores ministros da Justiça que esse país já teve". Genro atribuiu à "disputa política" os ataques a Bastos e disse que "nunca um governo foi tão investigado, inclusive pela sua própria polícia, a Polícia Federal". "Há integral confiança do governo do ministro da Justiça", disse.

Colaboraram a Sucursal do Rio e a Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Para PF, Palocci tentou afastar a Polícia Civil de investigação
Próximo Texto: Janio de Freitas: Azares da sorte
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.