São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2007

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Pró-farda

Não foi só o Planalto. Também o Congresso se impressionou com a reação indignada e coesa das Forças Armadas diante da quebra de hierarquia no episódio do acordo firmado pelo governo para suspender a greve dos controladores de vôo. Em jantar anteontem na casa do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), líderes de partidos da situação e da oposição fecharam um diagnóstico ouvido também em gabinetes do Executivo: o risco de uma crise militar sem precedentes desde a redemocratização, somado à escalada de ameaças dos controladores e à perda de confiança da população no serviço, vai retardar o processo de desmilitarização do controle do tráfego aéreo.

Isolados. Antes da encrenca de sexta-feira e da reação das Forças Armadas, boa parte do governo jogava ao lado dos controladores e contra a FAB na defesa da desmilitarização. Ao menos por ora, o Planalto foi obrigado a se recolher.

Pão e água. De volta ao manejo dos controladores, o comando da Aeronáutica não faz por menos. Além da punição da Justiça Militar, quer do governo a garantia de que os amotinados não serão aproveitados na secretaria civil que, em tese, passará a fazer o controle do tráfego aéreo.

Volver. Assustado com o desenrolar da crise, um controlador procurou um parlamentar. Queria saber se, passando a responder a órgão civil, perderia aposentadoria integral, casa e plano de saúde. Diante de resposta afirmativa, disse que não sabe mais se quer ser "desmilitarizado".

Alerta máximo. O governo subiu pelas paredes anteontem ao descobrir que o líder da minoria, Julio Redecker (PSDB-RS), participava do almoço do comandante da FAB, Juniti Saito, com Arlindo Chinaglia. Choveram telefonemas do Planalto para o presidente da Câmara.

Oh, vida... Na reunião de ontem com os presidentes e líderes de partidos que integram seu Conselho Político, Lula se queixou do desenrolar dos acontecimentos da confusão aérea. "Veio tudo para o meu colo", lamentou.

Quem diria 1. Está agendada para hoje a audiência de Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) no Palácio do Planalto. O senador pretende agradecer a Lula, de quem até recentemente falava cobras e lagartos, a visita que o presidente lhe fez quando esteve hospitalizado em São Paulo.

Quem diria 2. Em visita a Salvador ontem para tratar do projeto de transposição do São Francisco, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) foi tratado a pão-de-ló pela bancada de seu arquiinimigo ACM na Assembléia Legislativa baiana.

Testados. Marta Suplicy levará para o Ministério do Turismo dois quadros que ocuparam chefias de gabinete em secretarias paulistanas na época em que a petista foi prefeita da capital. Luiz Barreto deve ficar com a secretaria-executiva da pasta. Roberto Garibe será assessor especial.

Barba e cabelo. Governistas concluíram a operação anti-CPI na Assembléia Legislativa paulista. Isolaram a oposição no pedido de apuração do acidente do Metrô, operaram para retirar assinaturas da investigação de desvios de ONGs do sistema carcerário e correram para protocolar dez comissões de seu interesse. Assim, qualquer novo pedido dos adversários irá para o fim da fila.

Pires na mão. Atolada em grave crise financeira, Yeda Crusius (PSDB) baterá à porta do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana que vem. A governadora do Rio Grande do Sul está em busca de aval do Tesouro para renegociar dívidas do Estado com o Banco Mundial e obter novos empréstimos.

Tiroteio

"Para o governo, não importa se os ministérios serão entregues com porteira aberta ou fechada, já que o real objetivo do presidente Lula é confinar seu rebanho de aliados".
Do deputado SILVIO TORRES (PSDB-SP) sobre a discussão das siglas governistas a respeito de como dividir os cargos da máquina federal.

Contraponto

Precoce

Hoje presidente da OAB, Cezar Britto defendia um sindicato de Sergipe em audiência judicial ocorrida em 1997 quando o colega que advogava para a empresa acionada tomou a palavra. Dizendo-se magoado, desabafou:
-Sou tratado hoje como um direitista, mas lutei sem trégua contra a ditadura militar quando ela foi instaurada, em 1964. E muito gostaria de saber o que o senhor fazia então, de que lado estava?
-Eu estava do lado da minha mãe, tomando mamadeira!-, respondeu Britto, nascido em 1962.
Antes que o colega retomasse o discurso, completou:
-Mas lá do bercinho eu já gritava "abaixo a ditadura!".


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