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Painel
RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br
Pró-farda
Não foi só o Planalto. Também o Congresso se impressionou com a reação indignada e coesa das Forças
Armadas diante da quebra de hierarquia no episódio
do acordo firmado pelo governo para suspender a greve dos controladores de vôo. Em jantar anteontem na
casa do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), líderes de partidos da situação e da oposição fecharam um diagnóstico ouvido também em gabinetes
do Executivo: o risco de uma crise militar sem precedentes desde a redemocratização, somado à escalada
de ameaças dos controladores e à perda de confiança
da população no serviço, vai retardar o processo de
desmilitarização do controle do tráfego aéreo.
Isolados. Antes da encrenca
de sexta-feira e da reação das
Forças Armadas, boa parte do
governo jogava ao lado dos
controladores e contra a FAB
na defesa da desmilitarização.
Ao menos por ora, o Planalto
foi obrigado a se recolher.
Pão e água. De volta ao
manejo dos controladores, o
comando da Aeronáutica não
faz por menos. Além da punição da Justiça Militar, quer do
governo a garantia de que os
amotinados não serão aproveitados na secretaria civil
que, em tese, passará a fazer o
controle do tráfego aéreo.
Volver. Assustado com o desenrolar da crise, um controlador procurou um parlamentar. Queria saber se, passando
a responder a órgão civil, perderia aposentadoria integral,
casa e plano de saúde. Diante
de resposta afirmativa, disse
que não sabe mais se quer ser
"desmilitarizado".
Alerta máximo. O governo subiu pelas paredes anteontem ao descobrir que o líder da minoria, Julio Redecker (PSDB-RS), participava
do almoço do comandante da
FAB, Juniti Saito, com Arlindo Chinaglia. Choveram telefonemas do Planalto para o
presidente da Câmara.
Oh, vida... Na reunião de
ontem com os presidentes e
líderes de partidos que integram seu Conselho Político,
Lula se queixou do desenrolar
dos acontecimentos da confusão aérea. "Veio tudo para o
meu colo", lamentou.
Quem diria 1. Está agendada para hoje a audiência de
Antonio Carlos Magalhães
(DEM-BA) no Palácio do Planalto. O senador pretende
agradecer a Lula, de quem até
recentemente falava cobras e
lagartos, a visita que o presidente lhe fez quando esteve
hospitalizado em São Paulo.
Quem diria 2. Em visita a
Salvador ontem para tratar do
projeto de transposição do
São Francisco, o ministro
Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) foi tratado a
pão-de-ló pela bancada de seu
arquiinimigo ACM na Assembléia Legislativa baiana.
Testados. Marta Suplicy levará para o Ministério do Turismo dois quadros que ocuparam chefias de gabinete em
secretarias paulistanas na
época em que a petista foi prefeita da capital. Luiz Barreto
deve ficar com a secretaria-executiva da pasta. Roberto
Garibe será assessor especial.
Barba e cabelo. Governistas concluíram a operação
anti-CPI na Assembléia Legislativa paulista. Isolaram a
oposição no pedido de apuração do acidente do Metrô,
operaram para retirar assinaturas da investigação de desvios de ONGs do sistema carcerário e correram para protocolar dez comissões de seu
interesse. Assim, qualquer
novo pedido dos adversários
irá para o fim da fila.
Pires na mão. Atolada
em grave crise financeira, Yeda Crusius (PSDB) baterá à
porta do ministro da Fazenda,
Guido Mantega, na semana
que vem. A governadora do
Rio Grande do Sul está em
busca de aval do Tesouro para
renegociar dívidas do Estado
com o Banco Mundial e obter
novos empréstimos.
Tiroteio
"Para o governo, não importa se os ministérios
serão entregues com porteira aberta ou
fechada, já que o real objetivo do presidente
Lula é confinar seu rebanho de aliados".
Do deputado SILVIO TORRES (PSDB-SP) sobre a discussão das siglas governistas a respeito de como dividir os cargos da máquina federal.
Contraponto
Precoce
Hoje presidente da OAB, Cezar Britto defendia um sindicato de Sergipe em audiência judicial ocorrida em 1997
quando o colega que advogava para a empresa acionada
tomou a palavra. Dizendo-se magoado, desabafou:
-Sou tratado hoje como um direitista, mas lutei sem
trégua contra a ditadura militar quando ela foi instaurada, em 1964. E muito gostaria de saber o que o senhor fazia então, de que lado estava?
-Eu estava do lado da minha mãe, tomando mamadeira!-, respondeu Britto, nascido em 1962.
Antes que o colega retomasse o discurso, completou:
-Mas lá do bercinho eu já gritava "abaixo a ditadura!".
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