São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

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Casa Civil se nega a comentar planilhas que integram dossiê

EXCLUSIVO Em nota de anteontem, assessoria de Dilma sugeriu possibilidade de manipulação dos dados originais

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Casa Civil se recusou a comentar a existência de um arquivo de seu sistema de computadores contendo planilhas do dossiê com os gastos da família FHC e de tucanos.
Os documentos publicados na edição de hoje da Folha com detalhes do dossiê foram apresentados ontem à tarde à assessoria da Casa Civil. Depois de uma reunião realizada sem a presença da ministra Dilma Rousseff, o ministério informou, no início da noite, que só se manifestaria hoje.
As novas informações seriam enviadas à comissão de sindicância instalada na semana passada para investigar o caso, com prazo até o final de abril para apresentar as conclusões.
Sobre o conteúdo dos documentos, a resposta foi lacônica. A Casa Civil segue negando a existência de um dossiê e reconhece as planilhas como "fragmentos" de uma base de dados do Palácio do Planalto.
Desde o início da semana, a Casa Civil vem se recusando a responder perguntas encaminhadas pela Folha.
Por meio de nota encaminhada na noite de anteontem, a assessoria de Dilma nega a existência de um dossiê e apresenta uma nova versão para as planilhas que circularam no Congresso, sugerindo a possibilidade de manipulação dos dados originais da base de dados do Planalto. Essa versão conflita com os documentos extraídos diretamente dos computadores da Presidência, a que a Folha teve acesso.
Logo no primeiro item, a nota da Casa Civil diz que o que o governo chama de banco de dados não é o mesmo que a Folha chama de dossiê. A planilha destas 13 páginas reconhecida pela Casa Civil como parte do banco de dados do Planalto, de acordo com a nova versão, "não confere com as nossas, nem na seqüência nem na forma de organização das informações".
A nota segue: "Tal fato sugere a possibilidade de ter sido montada com fragmentos da base de dados organizada para alimentar o Suprim, com as informações contidas nos processos de prestação de contas dos suprimentos de fundos das contas tipo B".
Confrontada com a versão computadorizada dos arquivos, com os registros de datas e horários, a Casa Civil manteve a versão da véspera.
"Se alguém produziu um dossiê a partir dessas informações, não foi por ordem ou solicitação do corpo dirigente da Casa Civil, que só tomou conhecimento de tal documento por intermédio da própria Folha", diz a Casa Civil na nota.
A Casa Civil não reconhece viés político na elaboração das planilhas. Mas, pela primeira vez, recua num dos principais motivos apresentados para justificar o trabalho do banco de dados. "Nunca foi dito que o sistema foi criado por recomendação explícita do TCU". Segundo a nota, "o viés político quem deu foi uma parte da imprensa ao acolher a versão de que o material foi produzido para promover chantagem, desprezando outras hipóteses para investigação".
Desde a terça, a Folha afirma que o tribunal jamais pedira ou recomendara a organização das prestações de contas de gastos de suprimento de fundos do governo FHC. Em auditorias sobre os gastos do governo Lula com cartões corporativos, o TCU constatou a falta de controle das despesas, entre outras irregularidades, como a existência de notas fiscais irregulares em 35% dos comprovantes de despesa analisados.
A nota da Casa Civil também reproduz trechos de comentários do ombudsman da Folha, Mário Magalhães, sobre a cobertura do caso e diz: "Em relação ao vazamento de dados, a Folha sabe mais do que a Casa Civil, neste momento. Poderia facilitar o trabalho de investigação se ao menos desse aos seus leitores uma indicação de onde obteve o documento".
Na abertura da nota, a assessoria da ministra Dilma afirma que as perguntas encaminhadas pelo jornal foram consideradas "prejudicadas". "O questionário enviado pela Folha parte do princípio de que a Casa Civil montou um dossiê ou um arquivo paralelo com gastos supostamente comprometedores do governo anterior. Tal premissa é falsa".


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