São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

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Base blinda governo e esvazia poder da CPI

Governistas rejeitaram ontem, na comissão, 29 requerimentos de convocação, entre eles o de Erenice, braço direito de Dilma

Com a manobra, os aliados limitaram as investigações ao governo FHC, já que os novos dados se referem à administração do tucano

ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A base aliada na CPI mista dos Cartões rejeitou ontem a aprovação de 29 requerimentos de convocação, numa estratégia para impedir o acesso da oposição aos gastos sigilosos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus familiares.
Por 13 votos a 6, os governistas impediram a convocação da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, de quem partiu a ordem para organizar o dossiê com gastos do governo FHC, de sua chefe-de-gabinete, Maria Soledad Castrillo, de seis ecônomos da Presidência, responsáveis pelos gastos com a família Lula, e do presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco de Lima Neto.
Com a blindagem, os governistas conseguiram limitar as investigações ao governo FHC, já que as únicas informações novas a que a CPI terá acesso se referem à gestão do tucano. Os gastos não-sigilosos do governo Lula já estão no Portal da Transparência (www.transparencia.gov.br).
Acuada, a oposição decidiu criar uma CPI só no Senado. O requerimento, já na Mesa Diretora, deve ser lido na terça-feira. A base continuará tendo maioria na nova CPI, mas a oposição avalia que o debate será mais qualificado.
Sem documentos, a expectativa da oposição era a de buscar nos depoimentos informações sobre os gastos presidenciais. A base aliada concordou apenas em convocar o presidente do Banco do Brasil Cartões, Alexandre Correa Abreu. A Folha apurou que o objetivo foi o de impedir o encerramento da CPI, como ameaça a presidente da comissão, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS).

Tumulto
A base quer tempo para analisar os documentos que começaram a chegar ontem à comissão, com gastos dos ministérios nos últimos dez anos com cartões corporativos e contas tipo B (pagamento em dinheiro). As pastas do Planejamento e da Previdência encaminharam 102 caixas, com notas fiscais. São nessas caixas que os governistas esperam encontrar irregularidades do governo FHC.
A reunião da CPI ontem foi tumultuada. A base cobrou do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) explicações sobre o vazamento de trechos do dossiê. Dias voltou a afirmar que teve conhecimento dos dados e que informou o ex-presidente sobre o assunto. "Não me cobrem fontes, autores de informações, busquem no Palácio do Planalto os responsáveis por esse crime de uso da máquina pública."
A deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC) chamou Dias de "atravessador". Apontado como "suspeito" pelo vazamento, ele virou justificativa para a rejeição do requerimento que convocava Erenice Guerra. "Essas senhoras, coitadas, deixam de ser suspeitas", disse Almeida. "Por que trazer a suspeita para Erenice e Soledad se o jornal "O Globo" aponta o senador como quem teve acesso?", afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
A oposição rebateu. "Parece aquela historinha: Dilma é a esposa, Erenice, a amante, e o Álvaro Dias é o sofá. E a culpa da traição é do sofá", afirmou o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA). Ele citou reportagem da Folha que revelou ter partido de Erenice a ordem para montar o dossiê para defender a convocação.
Diante da ameaça da presidente da CPI mista de encerrar os trabalhos após os depoimentos marcados para a próxima semana, o relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), disse que não tem dados suficientes para elaborar seu relatório.


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