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Base blinda governo e esvazia poder da CPI
Governistas rejeitaram ontem, na comissão, 29 requerimentos de convocação, entre eles o de Erenice, braço direito de Dilma
Com a manobra, os aliados limitaram as investigações ao governo FHC, já que os novos dados se referem à administração do tucano
ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A base aliada na CPI mista
dos Cartões rejeitou ontem a
aprovação de 29 requerimentos de convocação, numa estratégia para impedir o acesso da
oposição aos gastos sigilosos do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e de seus familiares.
Por 13 votos a 6, os governistas impediram a convocação da
secretária-executiva da Casa
Civil, Erenice Guerra, de quem
partiu a ordem para organizar o
dossiê com gastos do governo
FHC, de sua chefe-de-gabinete,
Maria Soledad Castrillo, de seis
ecônomos da Presidência, responsáveis pelos gastos com a
família Lula, e do presidente do
Banco do Brasil, Antônio Francisco de Lima Neto.
Com a blindagem, os governistas conseguiram limitar as
investigações ao governo FHC,
já que as únicas informações
novas a que a CPI terá acesso se
referem à gestão do tucano.
Os gastos não-sigilosos do governo Lula já estão no Portal
da Transparência (www.transparencia.gov.br).
Acuada, a oposição decidiu
criar uma CPI só no Senado. O
requerimento, já na Mesa Diretora, deve ser lido na terça-feira. A base continuará tendo
maioria na nova CPI, mas a
oposição avalia que o debate
será mais qualificado.
Sem documentos, a expectativa da oposição era a de buscar
nos depoimentos informações
sobre os gastos presidenciais. A
base aliada concordou apenas
em convocar o presidente do
Banco do Brasil Cartões, Alexandre Correa Abreu. A Folha
apurou que o objetivo foi o de
impedir o encerramento da
CPI, como ameaça a presidente
da comissão, senadora Marisa
Serrano (PSDB-MS).
Tumulto
A base quer tempo para analisar os documentos que começaram a chegar ontem à comissão, com gastos dos ministérios
nos últimos dez anos com cartões corporativos e contas tipo
B (pagamento em dinheiro). As
pastas do Planejamento e da
Previdência encaminharam
102 caixas, com notas fiscais.
São nessas caixas que os governistas esperam encontrar irregularidades do governo FHC.
A reunião da CPI ontem foi
tumultuada. A base cobrou do
senador Álvaro Dias (PSDB-PR) explicações sobre o vazamento de trechos do dossiê.
Dias voltou a afirmar que teve
conhecimento dos dados e que
informou o ex-presidente sobre o assunto. "Não me cobrem
fontes, autores de informações,
busquem no Palácio do Planalto os responsáveis por esse crime de uso da máquina pública."
A deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC) chamou Dias
de "atravessador". Apontado
como "suspeito" pelo vazamento, ele virou justificativa
para a rejeição do requerimento que convocava Erenice
Guerra. "Essas senhoras, coitadas, deixam de ser suspeitas",
disse Almeida. "Por que trazer
a suspeita para Erenice e Soledad se o jornal "O Globo" aponta
o senador como quem teve
acesso?", afirmou o deputado
Paulo Teixeira (PT-SP).
A oposição rebateu. "Parece
aquela historinha: Dilma é a esposa, Erenice, a amante, e o Álvaro Dias é o sofá. E a culpa da
traição é do sofá", afirmou o deputado Vic Pires Franco
(DEM-PA). Ele citou reportagem da Folha que revelou ter
partido de Erenice a ordem para montar o dossiê para defender a convocação.
Diante da ameaça da presidente da CPI mista de encerrar
os trabalhos após os depoimentos marcados para a próxima
semana, o relator, deputado
Luiz Sérgio (PT-RJ), disse que
não tem dados suficientes para
elaborar seu relatório.
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