São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998

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REFORMA MINISTERIAL
Amigo íntimo e líder na Câmara de ex-presidente, novo ministro ajudou a erguer "colloridos"
Calheiros foi artífice da candidatura Collor

da Redação


O novo ministro da Justiça, Renan Calheiros, foi um dos principais artífices da candidatura de Fernando Collor de Mello à Presidência e, mais tarde, um dos responsáveis por sua queda, quando o acusou de ter conhecimento do esquema PC.
A história de "amor e ódio" entre Calheiros e Collor começa quando o primeiro era deputado estadual de Alagoas eleito pelo PMDB (com o apoio do PC do B, no qual militou) e o segundo era prefeito de Maceió, nomeado em 79 pelo PDS.
Em 82, Renan Calheiros dizia que Fernando Collor era um prefeito "sem cheiro de voto e de povo".
Referia-se ao futuro amigo como "príncipe herdeiro da corrupção".
Alguns anos depois, os desafetos se encontraram em Brasília, ambos deputados federais. Acabaram tornando-se amigos.
Tanto que Calheiros abriu as portas do PMDB para Collor quando ele quis disputar o governo de Alagoas.
No PMDB, em 86, começou-se a reunir o que mais tarde seria a "República de Alagoas": o grupo que articulou a candidatura de Collor e depois ocupou os principais postos de seu governo.
Dividia-se em duas alas: de um lado, Calheiros e Cleto Falcão; de outro, o tesoureiro de campanha de Collor desde 79, PC Farias, Geraldo Bulhões e João Lyra.

Pato Laqueado
Collor foi eleito governador e já em dezembro de 87 o grupo começou a engendrar sua candidatura à Presidência, num emblemático jantar em Pequim.
Nesse jantar, no restaurante Pato Laqueado, Cleto Falcão anunciou a atônitos diplomatas chineses que estavam diante do "futuro presidente do Brasil" -Collor.
Na ocasião, a comitiva "collorida" era composta por seis casais próximos a Collor, entre eles Renan e Verônica Calheiros.
Em 88, a missão do grupo era convencer a classe política da seriedade da campanha de Collor e, ao mesmo tempo, torná-lo conhecido fora de Alagoas.
A Calheiros coube, primordialmente, a primeira parte. Líder do recém-criado PRN na Câmara dos Deputados, passou a destinar seu mandato quase que exclusivamente à defesa de Fernando Collor.
No governo, ficou com a liderança na Câmara e a difícil tarefa de articular a aprovação das medidas provisórias do Plano Collor.
Com esse histórico de fidelidade, Calheiros considerava-se credenciado a ter o apoio de Collor na disputa pelo governo de Alagoas, em 90.
Mas Collor optou por uma neutralidade que foi interpretada por Calheiros como apoio a Geraldo Bulhões (PSC), que contava com o apoio de Paulo César Farias (assassinado em Alagoas em 1996) e Rosane.
Calheiros perdeu a eleição e rompeu publicamente com Collor em novembro.

Ostracismo
Amargou um longo ostracismo e, em 92, voltou à cena quando depôs na CPI do caso PC, na Câmara. No depoimento mais longo da comissão -oito horas-, disse que Collor sabia do esquema de PC na Presidência da República e acusou outros assessores próximos ao ex-presidente.
No dia seguinte ao depoimento de Calheiros, Collor formulou a frase que se tornaria um dos símbolos do impeachment: "Não me deixem só".



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