São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
O petista Manoel dos Santos diz que estratégia é a mais eficiente forma de acelerar reforma agrária
Presidente da Contag quer mais invasões

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília


O novo presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Manoel dos Santos, 45, defendeu ontem o aumento do número de invasões de terra como forma de acelerar a política de reforma agrária.
Santos disse que irá votar no pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, mas afirmou que não usará a entidade para fazer campanha política.
Santos substituirá no cargo o tucano Francisco Urbano. Apesar de ter promovido protestos contra o governo durante sua gestão na Contag, Urbano irá pedir o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso para disputar este ano uma vaga de deputado federal pelo PSDB do Rio Grande do Norte.
2 milhões
A meta da nova diretoria da maior entidade de trabalhadores rurais da América Latina é colocar 2 milhões de agricultores em assentamentos de reforma agrária durante seu mandato.
Com isso, a entidade quer elevar a meta anual de assentamentos do governo para 500 mil famílias.
"Para agilizar a reforma agrária, o que mais tem dado resultado é a ocupação de terra, porque os sucessivos governos nada fizeram, e o que o atual governo tem feito ainda é muito pouco", afirmou Santos.
Presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco, Santos disse que promoveu nos últimos cinco anos 23 invasões de terra no Estado.
Essas ações foram realizadas principalmente na zona canavieira, com a mobilização de cerca de 5.000 famílias.
Questionado sobre a afirmação do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) de que as invasões de terra só contribuem para aumentar a violência no campo, Santos afirmou que a impunidade é a principal responsável por essa violência.
"Cerca de mil pessoas já foram mortas e apenas 3% dos responsáveis por esses crimes foram processados e condenados", disse ele. "A Contag tem quase 40 anos de experiência de luta pela reforma agrária e não irá praticar porra-louquice (inconsequência)."
Conhecido como Manoel de Serra, por ser natural de Serra Talhada (PE), Santos disse que, como "cidadão", fará campanha a favor de seu candidato à Presidência da República (Lula), mas não quer vincular a entidade a nenhum partido político.
"A Contag não pode ser de um partido. Nem do PSDB nem do PT. A Contag estava nas mãos dos trabalhadores e continua nas mãos dos trabalhadores", disse ele.
Peru
Santos elogiou a gestão de Urbano, que organizou invasões aos ministérios da Agricultura e do Planejamento, onde um peru foi colocado em 97 na mesa do então ministro Antonio Kandir.
O candidato derrotado, Airton Faleiro, atual diretor de Políticas Sociais da Contag, acusou Santos de ter feito aliança com federações contrárias à CUT (Central Única dos Trabalhadores), à qual a Contag é filiada.
"Santos corre o risco de se tornar refém da direita com a qual se aliou para vencer a eleição", afirmou Faleiro, sindicalista com atuação na região da Transamazônica (Pará).
O candidato vencedor preferiu pregar o fortalecimento da entidade com a participação dos militantes da chapa derrotada.



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