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Governo comete estelionato eleitoral, diz sindicalista
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Presidente do Sindilegis, o Sindicato dos Servidores do Poder
Legislativo Federal e do Tribunal
de Contas da União, Ezequiel
Souza do Nascimento afirma que
a proposta de reforma da Previdência do governo Lula representa um ""estelionato eleitoral".
""É uma reforma que não é a reforma do PT eleito, mas a derrotada nas urnas no ano passado. Infelizmente", afirma o sindicalista.
Crítico da tributação de inativos, medida que diz considerar
""uma imensa e hedionda covardia", e da relação da CUT (Central
Única dos Trabalhadores) com o
Executivo petista, Nascimento
declara ainda não confiar no ministro Ricardo Berzoini (Previdência) e diz que greves não estão
descartadas. Leia a entrevista.
Folha - O que os sindicatos farão
contra a proposta de reforma da
Previdência do governo?
Ezequiel Nascimento - Existe
uma quantidade de sindicatos
que são absolutamente ligados ao
PT e estão tendo uma atitude
meio que de proteger o governo
contra as suas próprias bases. Nós
não somos ligados à CUT. Estamos batendo firme. Eu mandei
um pedido de auditoria ao Tribunal de Contas da União pedindo
auditoria contábil, financeira, patrimonial e operacional. Porque o
[ministro da Previdência, Ricardo" Berzoini não possui tantas
gravatas quanto números. Todo
dia ele troca de números.
Folha - Eles são contraditórios?
Nascimento - Já fui a algumas
reuniões com o Berzoini. Saio
dessas reuniões com aquela sensação que tenho quando vejo uma
moça bem bonita de biquíni. Ela
me mostra um monte de coisas,
menos o essencial, o que quero
ver. O Berzoini faz isso. Mostra
uma penca de números, que às
vezes a gente fica até embasbacado, como fica com as curvas, mas
não mostra o que a gente quer ver.
E a cada reunião que ele vai, apresenta números diferentes.
Folha - Os servidores estão sendo
responsabilizados?
Nascimento - Essa é a lógica que
o ministro da Previdência colocou para a sociedade. Ele satanizou os servidores. Eu confio tanto
no Berzoini quanto confio no Coringa do Batman.
Folha - É uma decepção?
Nascimento - Imensa. Imensa. É
uma reforma que não é a reforma
do PT eleito, mas a derrotada nas
urnas no ano passado. Infelizmente. O governo está, sob o
manto do apoio popular e da esperança, ressuscitando uma reforma derrotada e enterrada. Pelo
menos imaginávamos isso naquele momento [da eleição".
Folha - A que o sr. atribuiu essa
atitude do PT?
Nascimento - Ainda quero acreditar que isso seja por pressões do
sistema financeiro internacional,
do mercado. Porque criar um
fundo de previdência complementar para o servidor significa
juntar talvez todos os fundos de
pensão. Esse recurso terá de ser
aplicado e é nisso que o mercado
está de olho. Sendo público ou
não. Não quero acreditar que esse
seja o PT real e que mentiu para
nós o tempo todo porque queria
conquistar o poder.
Folha - Quais os principais pontos
de discórdia com o governo?
Nascimento - Taxação de inativos, fim de regras de transição,
que se faça isso imediatamente.
Que eles criem mecanismos de
compensação no tempo.
Folha - Está faltando discussão
com a sociedade?
Nascimento - Não houve discussão nenhuma. Há um arremedo, e
já fui a algumas [reuniões". Coloca um bando de sindicalistas em
um auditório, o ministro começa
a passar coisas no computador e
fica um bando de sindicalista com
cara de besta e boca aberta vendo
uns números. É a mesma coisa, se
você tiver um pouco de inteligência, que você fica em relação à
mulher de biquíni. Antes disso ele
[o ministro" já diz que só vai poder responder a duas ou três perguntas e vai embora. Essa é a discussão com a sociedade.
Folha - Pelas ligações históricas
entre o sindicalismo e o PT, está
mais difícil discutir a proposta?
Nascimento - Está sim. Esse
comportamento dos dirigentes
sindicais, que mesmo com esse
estelionato eleitoral cometido
continuam mais representando o
partido a que pertencem do que
as categorias, desarma segmentos
importantes do funcionalismo.
Estamos identificando entre os
dirigentes quem está contra a
condução da reforma.
Folha - A CUT, tradicionalmente
mais ligada ao PT e aos servidores,
tem sido crítica o suficiente?
Nascimento - [A CUT" faz mais
ou menos um tapinha nas costas e
vende como se fosse um míssil.
Está light demais. Não é a velha
CUT que a gente conhece.
Folha - Pela ligação com o PT?
Nascimento - Direto.
Folha - Mas haverá uma troca de
direção em junho.
Nascimento - Vai piorar. Está
trocando a direção justamente
porque ainda tem crítica. O atual
presidente [João Felício" é servidor. O outro [Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que deve ser eleito"
não. E a CUT está criando fundos
de pensão em vários sindicatos.
Folha - Existe a possibilidade de
greve para combater a proposta de
reforma da Previdência?
Nascimento - Também. Tenho a
impressão de que, com esse 1%
[aumento concedido pelo governo para o funcionalismo", que
mais parece uma péssima brincadeira, uma chacota, um escárnio,
mais a reforma da Previdência...
Porque o governo mediu o seu
poder, a sua capacidade de organização, quando ganhou no Congresso [a regulamentação fatiada
do artigo que trata do sistema financeiro internacional".
Folha - Greve é a última opção?
Nascimento - É uma opinião minha. Greve é a bomba máxima
que a gente tem, é o instrumento
final. Porque a greve atinge fundamentalmente a população.
Folha - O sr. disse que as lideranças sindicais são ligadas ao PT e à
CUT. Mas e as bases?
Nascimento - Estão indignadas.
Muitíssimo. Sentem-se traídas.
Folha - Será fácil mobilizá-las?
Nascimento - Tenho impressão
de que sim. E, se esses dirigentes
continuarem nessa postura, alguns acho que já estão mudando,
as bases vão atropelá-los.
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