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VESTÍGIOS DO ARAGUAIA
Documentos reforçam os indícios de que restos pertencem a João Hass Sobrinho, morto na guerrilha
Arquivo indica que ossada pode ser de médico
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentos inéditos sobre a
guerrilha do Araguaia obtidos pela Folha reforçam indícios de que
uma das 11 ossadas que estão em
Brasília à espera de identificação
seja a do médico gaúcho João
Carlos Hass Sobrinho.
Os documentos, datilografados
com o cabeçalho "Documento
apreendido pela 3ª Brigada de Infantaria de Terroristas que agem a
região SE do Pará", estão organizados em anexos dispostos em ordem alfabética. Integram os arquivos do general Antonio Bandeira, que comandou as ações militares no Araguaia em 1972.
A suposta ossada de Hass foi
descoberta em um cemitério em
Xambioá, em 1996, e trazida para
Brasília juntamente com outras
quatro. Duas delas foram devolvidas ao local em fevereiro passado
e enterradas depois que um laudo
de peritos argentinos descartou a
possibilidade de pertencerem a
guerrilheiros. Batizada de X2, a
ossada tem o osso da perna direita
quebrado na altura do joelho.
Entre os documentos do arquivo de Bandeira, existe uma carta
do guerrilheiro Flavio, codinome
de Ciro Flávio Salazar Oliveira,
destinada aos pais e que nunca
chegou, na qual ele relata como
Hass foi alvejado.
Flavio e outros três guerrilheiros estavam em uma missão especial comandada por Hass. Precisavam encontrar "camaradas"
que, fugindo de um ataque militar, embrenharam-se na mata
sem deixar rastro.
Em uma emboscada, Hass "tinha levado dois tiros na perna".
Flavio conta que só soube do ferimento do "comandante" depois
de andarem 500 metros em meio
a um cipoal. "Este tempo todo
não tinha dito uma única palavra
sobre o ferimento".
Outro anexo reproduz a caderneta de anotações de um dos
guerrilheiros, provavelmente do
próprio Hass, hipótese que pode
ser levantada tanto pelas descrições quanto pela coincidência de
datas. As anotações se encerram
em 25 de setembro. Hass foi morto por militares em um combate
em 30 de setembro de 1972.
Emboscada
Integrante do comando militar
da guerrilha, Hass descreve a emboscada na qual provavelmente
sofreu os ferimentos na perna, em
25 de junho de 1972, detalhando
quantidade de armas e formação
de ataque do "inimigo".
Cinco dias antes, registra "a
campanha de propaganda do inimigo", frisando que os militares
difundiam a idéia de que os guerrilheiros haviam sido treinados
em Cuba e que, se ganhassem a
guerra, "o povo vai sofrer muito
-cego e aleijado morrem em nossa
[dos guerrilheiros" lei".
A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada ao
Ministério da Justiça, vai se reunir
ainda em maio e deve propor o
encaminhamento das três ossadas, levadas para Brasília em 1996,
para identificação na Universidade de São Paulo.
As oito restantes estão sob a
guarda da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados e aos cuidados do Instituto
Médico Legal de Brasília.
Há tratativas, coordenadas pelo
deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) -e ainda tímidas-, para proceder à identificação. A primeira delas é montar
um banco de DNA das famílias
dos guerrilheiros para poder fazer
a comparação com essas ossadas,
já que, segundo Greenhalgh, a
identificação por exame morfológico não é possível.
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