São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

Texto Anterior | Índice

TODA MÍDIA

EUA se movem

NELSON DE SÁ

Começou domingo, com Andrés Oppenheimer, do "Miami Herald" e do "El Nuevo Herald", anunciando:
- Devemos ver em breve grandes mudanças na política da administração Bush para a América Latina. Sua face mais visível, o ultra-conservador Otto Reich, deve deixar o cargo.
A saída foi confirmada ontem por "Miami Herald", CNN em espanhol, a rede venezuelana Venevisión, do grupo Cisneros, ligado a Reich, e até na estatal cubana Prensa Latina.
Na imagem de Oppenheimer, jornalista já premiado com o Pulitzer, Reich era o "bad cop", o policial malvado da Casa Branca para a região.
Em e-mail enviado a colegas, Reich afirmou que estava saindo por "razões pessoais".
Mas o "Miami Herald" ligou a queda a pressões de "interesses econômicos em busca de opções mais diplomáticas" e sobretudo a trombadas seguidas de Reich, funcionário da Casa Branca, com o Departamento de Estado de Colin Powell. Os focos do choque são Cuba e Venezuela, mas não se restringem aos dois, segundo Oppenheimer:
- As relações estão em um ponto perigosamente baixo. É hora de pensar grande sobre as relações EUA/América Latina.
 
Logo após a confirmação da queda de Reich, Colin Powell foi ao Conselho das Américas, que reúne "interesses econômicos" americanos voltados à América Latina, e fez pronunciamento sobre como deve ser a relação dos EUA com a região.
O secretário falou sobre "livre comércio" e "a importância do hemisfério para os EUA e dos EUA para o hemisfério". Falou sobre Haiti, Cuba, terrorismo, mais Brasil e a Alca:
- Seguimos comprometidos com o propósito de implantar a Alca. E vamos trabalhar com o Brasil, nosso co-presidente para a Alca, e com nossos 32 outros parceiros para alcançar a visão da zona de livre comércio da Tierra del Fuego ao Alasca.
 
Jornal dado como próximo de Powell, o "Washington Post" publicou ontem um editorial em defesa "livre comércio" como plataforma dos dois candidatos presidenciais. Proclamou:
- Se eles quiserem cimentar suas credenciais pró-comércio, eles têm uma oportunidade. A OMC julgou que os subsídios ao algodão distorcem o comércio. Os EUA têm direito de recorrer. Mas o algodão é dos casos mais puros em favor do comércio mais livre: a política americana prejudica brasileiros e africanos que estão procurando exportar para sair de sua pobreza.
Um candidato "realmente a favor do comércio abraçaria o veredicto" em apoio não apenas aos países mais pobres, mas aos consumidores americanos:
- E aproveitaria o gesto para reanimar as conversações pela liberalização do comércio.
 
O "Financial Times" noticiou que os países reunidos pelos EUA no fim de semana, para reanimar as conversações sobre o comércio global, disseram que "persistem obstáculos sérios", mas todos "se comprometeram a tentar vencê-los. Do chanceler Celso Amorim, no "FT":
- As dificuldades ficaram mais claras (na reunião), mas também onde estão as soluções.

MARADONA E O CHE

Telefe/Reprodução


A argentina Telefe apresentou na sexta -e a Globo anteontem- longa entrevista com Maradona, cujo risco de morte ocupou toda a mídia latino-americana. O ídolo fugiu de questões como drogas e fez, brincando, um relato próximo do tragicômico:
- Eu estava morrendo. Tinha frio, queria pegar algo que me cobrisse. Eu vi a morte. Eu vi a morte.
Mas não perdeu a pose e provocou George W. Bush, olhando para a câmera e fazendo um sinal negativo para o presidente americano. Mostrou ostensivamente uma tatuagem de Che Guevara em seu braço (acima).
 
Instigado pela repercussão de "Diário de Motocicleta", de Walter Salles, Emir Sader escreve no site Carta Maior sobre a persistência do mito Che no mundo. Enumera, entre as razões, "a rebeldia que o Che representa".

O boi
O Brasil profundo mudou de Ribeirão Preto para Uberaba -e a Globo foi atrás. A emissora noticiava ontem a abertura da "maior feira de gado do país" na cidade mineira, com expectativa de movimentar "R$ 100 milhões até o fim do evento":
- A estrela é o boi.

Exército bancário
Globo e "Valor" destacaram o fim do Agrishow. O jornal deu o fato inusitado de que "os bancos estão aumentando a aposta no crédito rural". Um "exército" de funcionários das instituições, tanto estatais como as privadas, invadiu a feira na semana.

Mais eficientes
Presidente do Unibanco, que ocupou Ribeirão, Pedro Moreira Salles disse estar inaugurando a nova estratégia do banco, que planeja abrir 50 novas agências no Centro-Oeste, no sul do Pará e no oeste da Bahia:
- Os produtores estão mais eficientes, o que significa risco melhor e crescimento.

O tempo passa
Até a BBC destacou o suposto envio de tropas federais ao Rio, mas ele demora a se confirmar. E ontem William Bonner iniciou o Jornal Nacional com uma manchete impaciente:
- O tempo passa. Enquanto o governo federal estuda o uso das Forças Armadas para proteger o Rio, bandidos invadem um quartel e roubam armas.

Mães do Rio
O "Fantástico", no domingo, destacou a criação de um grupo que ecoa as célebres mães da praça de Maio, na Argentina. São as "Mães do Rio":
- Todas elas perderam filhos assassinados violentamente no Rio. Os crimes na maioria foram cometidos por policiais.

Execuções
De uma das mães do grupo, cujos filhos foram "executados com fuzil na cabeça" em chacina na favela Boa Esperança:
- Por que fizeram isso? Eu quero resposta. Porque eles não mataram bicho. Eles mataram os meus dois filhos.


Texto Anterior: Social: Universidade lança CD com hino do Fome Zero
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.