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JUDICIÁRIO
Empresários Fábio Monteiro de Barros e Teixeira Ferraz também são condenados; penas dos quatro chegam a 115 anos de prisão
TRF condena Nicolau e Estevão por desvio de R$ 169,5 milhões
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal Regional Federal
condenou o ex-senador Luiz Estevão de Oliveira, os empresários
Fábio Monteiro de Barros e José
Eduardo Corrêa Teixeira Ferraz,
sócios da construtora Incal, e o
juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto a um total de 115 anos de
prisão, e mais de R$ 5 milhões em
multas, pelo desvio de R$ 169,5
milhões na construção do Fórum
Trabalhista de São Paulo.
Por unanimidade, eles foram
condenados pelos crimes de peculato (desvio), estelionato qualificado, corrupção, formação de
quadrilha e uso de documentos
falsos. Contra a decisão de ontem,
os réus poderão oferecer recursos
no Superior Tribunal de Justiça e
no Supremo Tribunal Federal.
Em julgamento de mais de dez
horas, o tribunal reformou sentença do juiz federal Casem Mazloum, afastado do cargo na Operação Anaconda, que, em 2003,
condenara apenas o ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho e absolvera os outros réus.
"É o reconhecimento de que as
provas eram lícitas e estavam no
processo. O juiz [Casem Mazloum] não viu ou fez que não
viu", afirmou a procuradora regional da República Janice Ascari.
Segundo ela, a condenação é
"uma resposta da Justiça à sociedade, no momento de crise por
que passam as instituições".
Por unanimidade, os desembargadores Suzana Camargo, André
Nabarrete e Ramza Tartuce, da 5ª
Turma do TRF, decretaram a perda dos bens dos quatro réus, para
ressarcir a União dos prejuízos.
No caso do juiz Nicolau dos
Santos Neto, a decisão não alcança sua casa no bairro do Morumbi, pois esse imóvel foi adquirido
antes dos fatos que motivaram a
ação penal. A decisão de ontem
não altera a situação de Nicolau,
já condenado a 22 anos. Apesar de
condenado a mais 26 anos de reclusão, continuará cumprindo
prisão domiciliar, por problemas
de saúde e de idade.
"Eu não tenho como oferecer o
contraditório. Vou primeiro ouvir os advogados, para comentar,
depois, a decisão", disse à Folha o
ex-senador Luiz Estevão, depois
do anúncio do julgamento. Estevão foi condenado a 31 anos de
prisão: 9 anos e 4 meses pelo crime de peculato-desvio; 8 anos por
estelionato qualificado; 8 anos e 8
meses por corrupção ativa; 2 anos
e 6 meses por documento falso e,
igualmente, 2 anos e 6 meses por
formação de quadrilha.
O empresário Fábio Monteiro
de Barros também recebeu penas
semelhantes às de Estevão, no total de 31 anos de prisão. José
Eduardo Teixeira Ferraz foi condenado a 27 anos e oito meses.
Por maioria, foi rejeitado o pedido de expedição imediata, pelo
tribunal, dos mandados de prisão.
O TRF decidiu que os quatro réus
deverão cumprir inicialmente as
penas em regime fechado, quando as ordens forem distribuídas.
O advogado Ricardo Sayeg, que
defende o juiz Nicolau, disse que
"a defesa é incansável e intransigente" e vai recorrer nos tribunais
superiores. "Entendo que houve
nulidades no julgamento. A defesa vai recorrer e acredita que vai
obter êxito". O advogado de Nicolau disse que não poderia especificar as nulidades, pois o processo
corre sob segredo de Justiça.
Para a procuradora Janice Ascari, a decisão de ontem deixa o Ministério Público Federal com "a
sensação do dever cumprido",
embora a reavaliação da Justiça
"tenha demorado tanto".
O processo foi marcado por
uma série de recursos na Justiça
Federal, em São Paulo, no STJ e
no STF, em Brasília. Para o MPF,
foi uma tentativa da defesa dos
réus de adiar e evitar o julgamento da reforma da controvertida
sentença de primeira instância.
O juiz Casem Mazloum havia
reformado a denúncia inicial do
MPF, que imputara aos quatro
réus os crimes pelos quais foram
condenados ontem. Mazloum entendeu que Nicolau cometera
apenas os crimes de lavagem de
dinheiro e tráfico de influência,
delito não apontado pelo MPF.
"Admitiu-se que Nicolau recebeu dinheiro de Luiz Estevão, mas
que Luiz Estevão não mandou dinheiro para Nicolau, o que é um
arrematado contra-senso", comentou, na época, Janice Ascari.
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