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PF detém grupo suspeito de negociar áreas ambientais
Operação Moeda Verde prende 19 pessoas em Florianópolis e em Porto Alegre
Servidores teriam recebido propina para facilitar a construção de grandes
empreendimentos em áreas de proteção ambiental
15.nov.2004/Folha Imagem
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O resort Costão do Santinho, localizado em Florianópolis |
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Federal prendeu
ontem, em Florianópolis e em
Porto Alegre, 19 suspeitos de
participação em esquema de
venda de leis e atos administrativos em favor de grandes empreendimentos imobiliários na
capital catarinense.
Foram expedidos mandados
de prisão temporária para 22
pessoas, entre elas um vereador de Florianópolis, dois secretários municipais e o chefe
do órgão ambiental da cidade,
além de nove empresários. O
presidente da construtora Habitasul, Péricles Druck, e Fernando de Mattos, dono do resort Costão do Santinho, um
dos mais luxuosos do país, estão entre os presos.
A Operação Moeda Verde investiga suspeitas de corrupção
na liberação de autorizações
para construção em áreas da
União ou de proteção ambiental. O nome da operação é uma
referência a negociações em
que "a moeda de troca envolve
o ambiente", segundo a PF.
A delegada Julia Vergara disse que o suposto esquema ""fazia uso da máquina pública de
acordo com os interesses de
quem ocupava o cargo".
Afirmou ainda que servidores estaduais e do município recebiam propina para chancelarem construções ilegais.
As edificações eram construídas ou causavam impacto
em áreas protegidas por leis
ambientais federais ou localizadas em área da Marinha.
Origem da operação
A investigação começou em
agosto de 2006, na apuração
de suspeita de crime ambiental
no loteamento milionário "Il
Campanário", que a construtora gaúcha Habitasul ergue na
praia de Jurerê Internacional.
O metro quadrado no loteamento pode custar até R$ 10
mil. O valor mínimo é R$ 850.
Segundo a Folha apurou, a
PF suspeita que o coordenador
do projeto pela Habitasul, Hélio Chevarria, preso ontem, tenha pago propina a servidores
públicos e a políticos para obter licença ambiental e construir em área de proteção.
O presidente da Habitasul
e outro diretor da construtora
foram presos em casa, em Porto Alegre.
O vereador Juarez Silveira
(sem partido) é apontado pela
Polícia Federal como o cabeça
do esquema. A apuração detectou autorização irregular para
a construção do empreendimento habitacional Vilas do
Costão, expansão do resort
Costão do Santinho, localizado
na praia de mesmo nome, no
leste da ilha. De acordo com
laudo ambiental, a obra compromete o lençol freático daquela encosta.
Também há suspeitas sobre
autorizações concedidas ao
Shopping Iguatemi, inaugurado no mês passado. O empresário controlador do shopping,
Paulo Cezar Maciel da Silva,
também teve a prisão temporária decretada, mas não foi encontrado pela PF ontem.
Segundo a polícia, o dono do
shopping conseguiu, por meio
de tráfico de influência, mudar
o Plano Diretor de Florianópolis para "legalizar" a obra.
A transação teria envolvido o
presidente da Santur (empresa
de turismo do governo catarinense), o vereador licenciado
Marcílio Ávila (PMDB) e o secretário de Obras do município, Aurélio Remor.
Um hospital, um restaurante
e um colégio também estão sob
suspeita de terem obtido licenças ilegais.
Crimes
O inquérito do caso corre sob
segredo de Justiça. A operação
investiga crimes contra a ordem tributária, falsificação de
documento, uso de documento
falso, formação de quadrilha,
corrupção e tráfico de influência. Houve buscas, apreensões e
prisões na Fatma (Fundação do
Meio Ambiente do Estado), na
Secretaria de Urbanismo, no
Instituto de Planejamento Urbano e na Fundação do Meio
Ambiente de Florianópolis, em
escritórios de empresas e em
casas de investigados.
No início da noite de ontem,
a Justiça Federal soltou três
dos presos, entre eles o secretário Aurélio Remor. O pedido de
liberação foi feito pela PF e teve
parecer favorável do Ministério
Público Federal. A Justiça autorizou também a internação
do vereador Juarez Silveira,
com base em laudo médico.
A PF informou que houve
apreensão de "muito dinheiro
ilícito" em uma das empresas
investigadas, mas não revelou a
quantia. Também foram
apreendidos oito veículos que,
segundo a PF, estavam em nome ou eram usados pelo vereador Silveira.
Colaboraram FELIPE BÄCHTOLD
e SIMONE IGLESIAS, da Agência Folha
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