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Após assalto, casal se muda para apartamento
DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O pesadelo na casa de dona
Ana, 69, teve início há cinco
anos. Seu neto Edu, então com
15, foi pego com maconha na
escola, em Curitiba, onde residia com o avô. Foi, então, trazido a São Paulo para se tratar da
dependência e morar com a avó
e as tias Luciana e Carla.
A realidade, porém, era pior
que o imaginado. Edu bebia e se
drogava desde os 12 e usava não
só maconha, mas também cocaína, cola e crack.
A adesão ao tratamento durou pouco e de lá até hoje, a casa
das três mulheres e do pequeno
João, 10, filho de Carla, viveu o
conhecido périplo de furtos e
violência de um lar que abriga
um dependente químico.
Os sumiços de Edu tornaram-se freqüentes, assim como
seus telefonemas feitos a cobrar, da rua, implorando que a
tia Luciana lhe levasse dinheiro
nas "bocadas", o que ela, consternada, admite que atendeu
muitas vezes. "Ele sempre foi
muito bom de lábia e ligava desesperado dizendo que seria
morto se não pagasse o traficante", conta Luciana, 38.
Ela diz que levou tempo até
conseguir recusar a chantagem.
"Por maior que seja a revolta, a
raiva, tem dia que ele está sumido, saiu de camiseta e bermuda, vejo o tempo esfriando e
penso onde está esse menino."
Abandonado pela mãe aos 3 e
órfão de pai aos 10, Edu está há
uma semana na quarta tentativa de tratamento. Desta vez, foi
levado no carro da polícia, acionada pela avó na madrugada do
dia 26. "Era a quarta vez que ele
chegava num táxi pra gente pagar depois de ter ido até a bocada. Eu não tinha mais dinheiro
e o taxista queria levá-lo para o
Jardim Ângela, onde os traficantes "dariam um jeito nele'",
conta Ana.
Além de ver o rapaz se drogar
dentro de casa e ter furtados diversos objetos, toda a família já
sofreu agressão física do rapaz.
"São cinco anos de luta. Minha casa está de pernas para o
ar", diz Ana. "Ele não quer se
tratar e sabemos que assim restam dois tipos de fim a ele: virar
traficante ou ser morto."
Tranqüilidade roubada
Tendo morado em casas a vida toda, os noivos Rosana Mantovani e Mauro Garilli não titubearam quando, em 2000, foram procurar a moradia para o
pós-enlace. Empresário e músico, ele queria espaço para um
estúdio; ela, que dava aula de
inglês em casa, um quintal para
criar um cachorro.
Já na casa nova, recém-reformada e mobiliada, o casal rapidamente desistiu do sonhado
projeto de vida. Um dia, consertando o telhado, Garilli presenciou a invasão da casa vizinha e
ouviu do assaltante que mostrou a arma sob a blusa: "Eu sei
onde você mora. Se chamar a
polícia, eu volto aqui".
"Mas o pior foi em um final
de semana que voltamos da
praia e encontramos o portão
arrombado. Antes de entrarmos, a polícia revistou tudo e o
PM veio lá de dentro com a cara
desolada: "Olha, vocês tinham
muita coisa...? É que levaram
tudo'", recorda Garilli, 34.
"Éramos recém-casados e estava tudo novinho. Ou era presente ou ainda estávamos pagando", conta Rosana, 32.
Na lista de perdas, o casal
elenca dois faqueiros, três televisores, aparelho de som, computador, microondas, lava-louça, fogão, caixas de enxoval.
A pior delas, porém, foi o sossego, levado embora junto com
os objetos da casa. "Nunca mais
conseguimos relaxar. Perdemos o hábito de caminhar na
rua, demos o cachorro, vendemos a casa e mudamos para um
apartamento. Achei difícil a
adaptação, mas hoje nos sentimos mais seguros e acho que
não conseguiríamos viver numa casa novamente. Nossa
maior preocupação é, com certeza, com a segurança", afirma
Rosana.
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