São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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Após assalto, casal se muda para apartamento

DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O pesadelo na casa de dona Ana, 69, teve início há cinco anos. Seu neto Edu, então com 15, foi pego com maconha na escola, em Curitiba, onde residia com o avô. Foi, então, trazido a São Paulo para se tratar da dependência e morar com a avó e as tias Luciana e Carla.
A realidade, porém, era pior que o imaginado. Edu bebia e se drogava desde os 12 e usava não só maconha, mas também cocaína, cola e crack.
A adesão ao tratamento durou pouco e de lá até hoje, a casa das três mulheres e do pequeno João, 10, filho de Carla, viveu o conhecido périplo de furtos e violência de um lar que abriga um dependente químico.
Os sumiços de Edu tornaram-se freqüentes, assim como seus telefonemas feitos a cobrar, da rua, implorando que a tia Luciana lhe levasse dinheiro nas "bocadas", o que ela, consternada, admite que atendeu muitas vezes. "Ele sempre foi muito bom de lábia e ligava desesperado dizendo que seria morto se não pagasse o traficante", conta Luciana, 38.
Ela diz que levou tempo até conseguir recusar a chantagem. "Por maior que seja a revolta, a raiva, tem dia que ele está sumido, saiu de camiseta e bermuda, vejo o tempo esfriando e penso onde está esse menino."
Abandonado pela mãe aos 3 e órfão de pai aos 10, Edu está há uma semana na quarta tentativa de tratamento. Desta vez, foi levado no carro da polícia, acionada pela avó na madrugada do dia 26. "Era a quarta vez que ele chegava num táxi pra gente pagar depois de ter ido até a bocada. Eu não tinha mais dinheiro e o taxista queria levá-lo para o Jardim Ângela, onde os traficantes "dariam um jeito nele'", conta Ana.
Além de ver o rapaz se drogar dentro de casa e ter furtados diversos objetos, toda a família já sofreu agressão física do rapaz.
"São cinco anos de luta. Minha casa está de pernas para o ar", diz Ana. "Ele não quer se tratar e sabemos que assim restam dois tipos de fim a ele: virar traficante ou ser morto."

Tranqüilidade roubada
Tendo morado em casas a vida toda, os noivos Rosana Mantovani e Mauro Garilli não titubearam quando, em 2000, foram procurar a moradia para o pós-enlace. Empresário e músico, ele queria espaço para um estúdio; ela, que dava aula de inglês em casa, um quintal para criar um cachorro.
Já na casa nova, recém-reformada e mobiliada, o casal rapidamente desistiu do sonhado projeto de vida. Um dia, consertando o telhado, Garilli presenciou a invasão da casa vizinha e ouviu do assaltante que mostrou a arma sob a blusa: "Eu sei onde você mora. Se chamar a polícia, eu volto aqui".
"Mas o pior foi em um final de semana que voltamos da praia e encontramos o portão arrombado. Antes de entrarmos, a polícia revistou tudo e o PM veio lá de dentro com a cara desolada: "Olha, vocês tinham muita coisa...? É que levaram tudo'", recorda Garilli, 34.
"Éramos recém-casados e estava tudo novinho. Ou era presente ou ainda estávamos pagando", conta Rosana, 32.
Na lista de perdas, o casal elenca dois faqueiros, três televisores, aparelho de som, computador, microondas, lava-louça, fogão, caixas de enxoval.
A pior delas, porém, foi o sossego, levado embora junto com os objetos da casa. "Nunca mais conseguimos relaxar. Perdemos o hábito de caminhar na rua, demos o cachorro, vendemos a casa e mudamos para um apartamento. Achei difícil a adaptação, mas hoje nos sentimos mais seguros e acho que não conseguiríamos viver numa casa novamente. Nossa maior preocupação é, com certeza, com a segurança", afirma Rosana.


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