|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEORIA & PRÁTICA
Em reunião, grupo critica política econômica e elogia ação externa
Intelectuais governistas vão a Lula e pedem "sensibilidade"
JULIA DUAILIBI
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao se reunir com intelectuais
tradicionalmente ligados ao PT, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu queixas sobre as altas taxas de juros da economia, o teor
das reformas enviadas ao Congresso e a "despolitização" da comunicação do governo. Os acadêmicos também pediram ao presidente "sensibilidade" para avaliar
as consequências sociais da política econômica atual.
Em clima amistoso, Lula rebateu as afirmações e disse que a ortodoxia na condução da política
econômica é necessária para "pavimentar" o caminho para o crescimento, segundo a cientista política Maria Victoria Benevides.
Ainda de acordo com a professora da USP, ele disse que a fase de
"transição" será mais curta do
que os "pessimistas" pensam.
Na reunião, o presidente também ouviu elogios à condução da
política externa, que chegou a ser
classificada como "brilhante" por
um dos presentes. "A aprovação
foi unânime", disse Maria Victoria, ao se referir à política de relações internacionais do governo,
que, entre outros pontos, busca
uma maior interação comercial
com países em desenvolvimento.
O encontro, com 23 intelectuais,
foi um pedido de Lula, cujo governo tem sido criticado, até por aliados, por manter a mesma política
econômica da gestão FHC.
Como era previsível, não houve
críticas contundentes ao governo.
O grupo de acadêmicos, simpatizantes ou ligados ao PT, é o mesmo que em sua maioria já se reunia com Lula durante as eleições
de 2002. Desde que o petista tomou posse, esse conselho informal de intelectuais se reuniu três
vezes. Esse foi o primeiro encontro com a presença de Lula.
Após cerca de três horas de reunião, Lula almoçou com sindicalistas e, à tarde, encontrou-se com
empresários do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial). Durante todo o dia, o
presidente evitou responder a
perguntas de jornalistas.
No encontro com os acadêmicos, o advogado Fábio Konder
Comparato, incumbido de fazer a
primeira intervenção, disse que
gostaria de fazer um "apelo à sensibilidade" de Lula.
Comparato, que já criticou publicamente as diretrizes da equipe
econômica, pediu a Lula que refletisse sobre o "custo social da
política econômica do governo".
Todas as intervenções do grupo,
inclusive a de Comparato, foram
feitas de forma cordial, segundo
relato de vários dos presentes.
O advogado solicitou ainda ao
presidente que consultasse a primeira-dama, Marisa Letícia, e outras pessoas, que não técnicos do
governo, sobre as consequências
das medidas na esfera econômica.
Coube ao economista Paul Singer, secretário de Economia Solidária do governo, ser mais enfático na crítica à política econômica
de Lula. De acordo com participantes, Singer disse que o governo não pode esperar que o "benefício" a bancos e ao capital especulativo ajude a economia.
Segundo Marilena Chauí, professora de filosofia da USP, Singer
alertou o governo de que a economia "não é uma ciência exata".
O presidente ouviu também do
cientista político Lúcio Kowarick
que "daqui a pouco a herança do
governo anterior não poderá
mais ser atribuída ao passado".
Ao comentar as declarações,
Lula afirmou ao grupo que "nós
ficamos ansiosos para que o filho
da gente ande logo, mas há fases
nesse processo". E voltou a dizer:
"Há um tempo de plantar, e outro
de colher". Também fizeram intervenções os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Antonio Palocci Filho (Fazenda), que explicou as medidas tomadas pela
equipe econômica, como a manutenção dos juros em 26,5%.
A proposta do governo de reforma da Previdência foi contestada.
Olgária Matos, também professora de filosofia da USP, disse que o
debate não é feito da forma adequada, ao tratar "direito do funcionalismo como privilégio".
A psicanalista Maria Rita Kehl
criticou a forma como o governo
trata a reforma na mídia. Segundo
participantes, ela disse que o PT,
partido que ajudou a politizar o
país, está despolitizando o debate.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frases Índice
|