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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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TEORIA & PRÁTICA

Em reunião, grupo critica política econômica e elogia ação externa

Intelectuais governistas vão a Lula e pedem "sensibilidade"

JULIA DUAILIBI
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao se reunir com intelectuais tradicionalmente ligados ao PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu queixas sobre as altas taxas de juros da economia, o teor das reformas enviadas ao Congresso e a "despolitização" da comunicação do governo. Os acadêmicos também pediram ao presidente "sensibilidade" para avaliar as consequências sociais da política econômica atual.
Em clima amistoso, Lula rebateu as afirmações e disse que a ortodoxia na condução da política econômica é necessária para "pavimentar" o caminho para o crescimento, segundo a cientista política Maria Victoria Benevides.
Ainda de acordo com a professora da USP, ele disse que a fase de "transição" será mais curta do que os "pessimistas" pensam.
Na reunião, o presidente também ouviu elogios à condução da política externa, que chegou a ser classificada como "brilhante" por um dos presentes. "A aprovação foi unânime", disse Maria Victoria, ao se referir à política de relações internacionais do governo, que, entre outros pontos, busca uma maior interação comercial com países em desenvolvimento.
O encontro, com 23 intelectuais, foi um pedido de Lula, cujo governo tem sido criticado, até por aliados, por manter a mesma política econômica da gestão FHC.
Como era previsível, não houve críticas contundentes ao governo. O grupo de acadêmicos, simpatizantes ou ligados ao PT, é o mesmo que em sua maioria já se reunia com Lula durante as eleições de 2002. Desde que o petista tomou posse, esse conselho informal de intelectuais se reuniu três vezes. Esse foi o primeiro encontro com a presença de Lula.
Após cerca de três horas de reunião, Lula almoçou com sindicalistas e, à tarde, encontrou-se com empresários do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). Durante todo o dia, o presidente evitou responder a perguntas de jornalistas.
No encontro com os acadêmicos, o advogado Fábio Konder Comparato, incumbido de fazer a primeira intervenção, disse que gostaria de fazer um "apelo à sensibilidade" de Lula.
Comparato, que já criticou publicamente as diretrizes da equipe econômica, pediu a Lula que refletisse sobre o "custo social da política econômica do governo".
Todas as intervenções do grupo, inclusive a de Comparato, foram feitas de forma cordial, segundo relato de vários dos presentes.
O advogado solicitou ainda ao presidente que consultasse a primeira-dama, Marisa Letícia, e outras pessoas, que não técnicos do governo, sobre as consequências das medidas na esfera econômica.
Coube ao economista Paul Singer, secretário de Economia Solidária do governo, ser mais enfático na crítica à política econômica de Lula. De acordo com participantes, Singer disse que o governo não pode esperar que o "benefício" a bancos e ao capital especulativo ajude a economia.
Segundo Marilena Chauí, professora de filosofia da USP, Singer alertou o governo de que a economia "não é uma ciência exata".
O presidente ouviu também do cientista político Lúcio Kowarick que "daqui a pouco a herança do governo anterior não poderá mais ser atribuída ao passado".
Ao comentar as declarações, Lula afirmou ao grupo que "nós ficamos ansiosos para que o filho da gente ande logo, mas há fases nesse processo". E voltou a dizer: "Há um tempo de plantar, e outro de colher". Também fizeram intervenções os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Antonio Palocci Filho (Fazenda), que explicou as medidas tomadas pela equipe econômica, como a manutenção dos juros em 26,5%.
A proposta do governo de reforma da Previdência foi contestada. Olgária Matos, também professora de filosofia da USP, disse que o debate não é feito da forma adequada, ao tratar "direito do funcionalismo como privilégio".
A psicanalista Maria Rita Kehl criticou a forma como o governo trata a reforma na mídia. Segundo participantes, ela disse que o PT, partido que ajudou a politizar o país, está despolitizando o debate.


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