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PT SOB SUSPEITA
CPI ouve quatro pessoas ligadas a empresas de ônibus de Sto. André
Depoente diz que recolhia dinheiro para "fazer troco"
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Três dos quatro depoentes ouvidos ontem pela CPI criada em
Santo André para investigar suposta propina cobrada de empresas de ônibus para financiar campanhas do PT admitiram que manuseavam mensalmente altas
quantias em dinheiro sem saber
quais eram seus destinos.
Um dos que depuseram ontem,
Luiz Marcondes de Freitas Jr., gerente da Aesa, disse que passava
no mínimo uma vez por mês em
todas as sete empresas de transporte coletivo da cidade para recolher dinheiro. "Recolhia dinheiro graúdo e trocava por miúdos, que necessitávamos para troco nos ônibus."
O único que não confirmou o
manuseio de dinheiro para fins
desconhecidos foi Humberto
Tarcísio de Castro, sócio da Projeção, que era de Ronan Maria Pinto, um dos suspeitos de chefiar a
máfia da propina na cidade. O
empresário João Antonio Sette
Braga foi convocado, mas não
compareceu, justificando estar
em viagem.
Em todos os depoimentos há
várias lacunas não exploradas pelos vereadores. "Se acharmos necessário, chamaremos de novo o
depoente ou até faremos acareações", disse o relator da CPI, Donizeti Pereira (PV). Na saída, os
depoentes não quiseram falar à
imprensa. A seguir, trechos dos
depoimentos de ontem:
LUIZ MARCONDES DE FREITAS JR.
- O gerente da Aesa (Associação
das Empresas do Sistema de
Transporte Coletivo de Santo André) afirmou que, sem dias fixos,
passava no mínimo uma vez por
mês em todas as sete empresas de
transporte coletivo da cidade para
recolher dinheiro. "Recolhia dinheiro graúdo e trocava por miúdos, que necessitávamos para troco nos ônibus", afirmou.
No depoimento ao Ministério
Público de Rosangela Gabrilli, da
Expresso Guarará, ela afirmou
que Freitas Jr. era uma das pessoas que iam recolher todo mês,
sempre no dia 30, R$ 40 mil. O gerente da Aesa disse à CPI que arrecadava até R$ 50 mil para "trocar" nas empresas de uma só vez.
O total mensal que passava nas
mãos de Freitas Jr. chegava a cerca
de R$ 2,5 milhões. "As trocas
eram feitas diretamente com os
empresários, e não com os financeiros das empresas. Não há recibos dessas trocas", disse.
Freitas Jr. também desmentiu
outro detalhe do depoimento de
Rosangela. Ao MP, ela havia dito
que, para conseguir a propina
mensal que teria de pagar, "falsificava" o número de passageiros
por mês. O gerente da Aesa afirmou que "essa falsificação é impossível".
IRINEU NICOLINO MARTIN BIANCO - Gerente-geral de Ronan Maria Pinto na Nova Santo André,
ele declarou que tinha o hábito de
-a pedido do próprio Ronan-
recolher quantias em dinheiro de
sócios da empresa, inclusive dos
Gabrilli. Apesar de ter a função de
gerente, Irineu disse que fazia
questão de ir de porta em porta
para recolher pagamentos em dinheiro ou cheque, que em seguida
eram depositados em uma conta
bancária da empresa de Ronan a
fim de ser utilizado no pagamento
de "taxas administrativas".
Ao tentar justificar porque estava cumprindo serviços geralmente feitos por pessoas ligadas ao departamento financeiro da empresa ou por office-boys, ele disse:
"Eu porque era eu. Eu não ia
mandar ela [Gislene da Silva, do
departamento financeiro" por
causa do perigo de uma mulher
andar com dinheiro em mãos. A
empresa tinha apenas segurança
internos". Irineu disse que ia sozinho às empresas com seu carro.
GISLENE VALERIANO DA SILVA - A
analista financeira da Expresso
Guarará, de propriedade de Rosangela Gabrilli, afirmou que tinha de lançar no balanço da empresa, mensalmente, R$ 40 mil
como "despesas administrativas",
usando as siglas DA ou ADM.
"Não tenho a menor idéia para o
que era usado esse dinheiro, mas
sei que minha patroa ficou aliviada quando parou de pagar isso,
em dezembro de 2001." Gislene
disse ter trabalhado em 97 no
consórcio Nova Santo André,
com o mesmo cargo. Em um período, que não ficou claro porque
os vereadores não questionaram,
ela afirmou que contabilizava,
mensalmente, "entre os dias 25 e
30", quantias diversas que eram
entregues a ela.
"No total, eu repassava de R$
100 a R$ 120 mil mensalmente para o sr. Irineu em dois ou três envelopes. Eu recebia partes desse
total embrulhado em papel de
jornal ou em sacos plásticos, em
dinheiro, de representantes dos
sócios da Nova Santo André."
HUMBERTO TARCÍSIO DE CASTRO
- Sócio de Ronan Maria Pinto na
Expresso Nova Santo André e
também sócio da Projeção, ele
disse à CPI que nunca ouviu falar
em esquemas de propina a empresários. Ele disse que se sentiu
traído por Luiz Alberto Ângelo
Gabrilli Filho e por Sebastião Passarelli, da Expresso Guarará, logo
depois de terem vencido juntos
uma concorrência da prefeitura
da cidade. "Vencemos uma concorrência, depois passei a ser
ameaçado pelo Gabrilli. Acredito
que essas denúncias são uma loucura da sra. Rosangela Gabrilli."
Segundo ele, depois de vencer a
concorrência, recebeu um recado
por escrito de Gabrilli com os seguintes dizeres: "Manda quem
pode, obedece quem tem juízo".
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