São Paulo, quinta-feira, 04 de julho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

CPI ouve quatro pessoas ligadas a empresas de ônibus de Sto. André

Depoente diz que recolhia dinheiro para "fazer troco"

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Três dos quatro depoentes ouvidos ontem pela CPI criada em Santo André para investigar suposta propina cobrada de empresas de ônibus para financiar campanhas do PT admitiram que manuseavam mensalmente altas quantias em dinheiro sem saber quais eram seus destinos.
Um dos que depuseram ontem, Luiz Marcondes de Freitas Jr., gerente da Aesa, disse que passava no mínimo uma vez por mês em todas as sete empresas de transporte coletivo da cidade para recolher dinheiro. "Recolhia dinheiro graúdo e trocava por miúdos, que necessitávamos para troco nos ônibus."
O único que não confirmou o manuseio de dinheiro para fins desconhecidos foi Humberto Tarcísio de Castro, sócio da Projeção, que era de Ronan Maria Pinto, um dos suspeitos de chefiar a máfia da propina na cidade. O empresário João Antonio Sette Braga foi convocado, mas não compareceu, justificando estar em viagem.
Em todos os depoimentos há várias lacunas não exploradas pelos vereadores. "Se acharmos necessário, chamaremos de novo o depoente ou até faremos acareações", disse o relator da CPI, Donizeti Pereira (PV). Na saída, os depoentes não quiseram falar à imprensa. A seguir, trechos dos depoimentos de ontem:
 

LUIZ MARCONDES DE FREITAS JR. - O gerente da Aesa (Associação das Empresas do Sistema de Transporte Coletivo de Santo André) afirmou que, sem dias fixos, passava no mínimo uma vez por mês em todas as sete empresas de transporte coletivo da cidade para recolher dinheiro. "Recolhia dinheiro graúdo e trocava por miúdos, que necessitávamos para troco nos ônibus", afirmou.
No depoimento ao Ministério Público de Rosangela Gabrilli, da Expresso Guarará, ela afirmou que Freitas Jr. era uma das pessoas que iam recolher todo mês, sempre no dia 30, R$ 40 mil. O gerente da Aesa disse à CPI que arrecadava até R$ 50 mil para "trocar" nas empresas de uma só vez. O total mensal que passava nas mãos de Freitas Jr. chegava a cerca de R$ 2,5 milhões. "As trocas eram feitas diretamente com os empresários, e não com os financeiros das empresas. Não há recibos dessas trocas", disse.
Freitas Jr. também desmentiu outro detalhe do depoimento de Rosangela. Ao MP, ela havia dito que, para conseguir a propina mensal que teria de pagar, "falsificava" o número de passageiros por mês. O gerente da Aesa afirmou que "essa falsificação é impossível".

IRINEU NICOLINO MARTIN BIANCO - Gerente-geral de Ronan Maria Pinto na Nova Santo André, ele declarou que tinha o hábito de -a pedido do próprio Ronan- recolher quantias em dinheiro de sócios da empresa, inclusive dos Gabrilli. Apesar de ter a função de gerente, Irineu disse que fazia questão de ir de porta em porta para recolher pagamentos em dinheiro ou cheque, que em seguida eram depositados em uma conta bancária da empresa de Ronan a fim de ser utilizado no pagamento de "taxas administrativas".
Ao tentar justificar porque estava cumprindo serviços geralmente feitos por pessoas ligadas ao departamento financeiro da empresa ou por office-boys, ele disse: "Eu porque era eu. Eu não ia mandar ela [Gislene da Silva, do departamento financeiro" por causa do perigo de uma mulher andar com dinheiro em mãos. A empresa tinha apenas segurança internos". Irineu disse que ia sozinho às empresas com seu carro.

GISLENE VALERIANO DA SILVA - A analista financeira da Expresso Guarará, de propriedade de Rosangela Gabrilli, afirmou que tinha de lançar no balanço da empresa, mensalmente, R$ 40 mil como "despesas administrativas", usando as siglas DA ou ADM. "Não tenho a menor idéia para o que era usado esse dinheiro, mas sei que minha patroa ficou aliviada quando parou de pagar isso, em dezembro de 2001." Gislene disse ter trabalhado em 97 no consórcio Nova Santo André, com o mesmo cargo. Em um período, que não ficou claro porque os vereadores não questionaram, ela afirmou que contabilizava, mensalmente, "entre os dias 25 e 30", quantias diversas que eram entregues a ela.
"No total, eu repassava de R$ 100 a R$ 120 mil mensalmente para o sr. Irineu em dois ou três envelopes. Eu recebia partes desse total embrulhado em papel de jornal ou em sacos plásticos, em dinheiro, de representantes dos sócios da Nova Santo André."

HUMBERTO TARCÍSIO DE CASTRO - Sócio de Ronan Maria Pinto na Expresso Nova Santo André e também sócio da Projeção, ele disse à CPI que nunca ouviu falar em esquemas de propina a empresários. Ele disse que se sentiu traído por Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho e por Sebastião Passarelli, da Expresso Guarará, logo depois de terem vencido juntos uma concorrência da prefeitura da cidade. "Vencemos uma concorrência, depois passei a ser ameaçado pelo Gabrilli. Acredito que essas denúncias são uma loucura da sra. Rosangela Gabrilli."
Segundo ele, depois de vencer a concorrência, recebeu um recado por escrito de Gabrilli com os seguintes dizeres: "Manda quem pode, obedece quem tem juízo".


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