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PT SOB SUSPEITA
Empresário de transportes de Santo André diz que "taxa" foi acertada em reunião com secretário da pasta
Propina foi acertada no gabinete, diz Gabrilli
Mauricio Piffer/Folha Imagem
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Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho, empresário do setor de transporte coletivo de Santo André |
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O empresário Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho, 67, lembra-se
ainda com detalhes de uma reunião, em 1997, na qual teria sido
fixada a tabela da propina cobrada do segmento de transporte urbano em Santo André: R$ 550 por
veículo. No encontro, que, segundo o empresário, aconteceu na Secretaria Serviços Municipais, estavam presentes o então secretário da pasta, Klinger Luiz de Oliveira Souza, e os empresários Sérgio Gomes da Silva, Ronan Maria
Pinto e Baltazar de Souza.
Ronan teria sido então nomeado o porta-voz do setor. "Paguei
para poder trabalhar. E paguei
bem caro!", declara Gabrilli.
Hoje, recuperando-se de um
transplante de rim que o obriga a
12 horas semanais de hemodiálise, ele diz ter sido "roubado".
Gabrilli está preocupado com a
tentativa de "fazer política sobre
algo que, duvido, que alguns não
tivessem conhecimento". Mesmo
abatido, promete brigar por justiça. Sob observação médica e com
a fala quase inaudível, ele teve de
responder às perguntas da Folha
por e-mail. Abaixo, principais trechos da entrevista:
Folha - Quando o senhor notou
indícios de irregularidades na administração de Santo André?
Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho
- Comecei a entender que "amigos", a exemplo do Ronan [Maria
Pinto", estavam me traindo principalmente quando sucumbi às
pressões e entreguei a Expresso
Nova Santo André à Projeção Engenharia. Ali eu entendi que havia
um esquema. A Projeção me foi
apresentada pelo Ronan para
compor o consórcio [que deu origem à Expresso Guarará". Ele me
disse que a Projeção não teria interesse em permanecer na sociedade, que só queria administrar
as obras [os corredores e o terminal de ônibus de Vila Luzita".
Qual não foi minha surpresa
quando fui acertar com Ronan
[1999/2000" para a mesma se retirar e ouvi dele: "Infelizmente não
tenho mais participação na Projeção. Agora quem manda é o
Humberto [de Castro"". Fui falar
com esse Humberto -eu não o
conhecia anteriormente-, que
me disse o seguinte: "Não tenho a
menor intenção de sair da sociedade, mas, se o fizer, não será por
menos de R$ 4.500.000".
Aguentamos a Projeção nas
obras até 2001. Nessa época, a Expresso Guarará estava tentando
conseguir um segundo aditamento em seu contrato com a prefeitura. Mas o secretário Klinger e
sua assessora Ana Carla anunciaram o rompimento do contrato.
O estranho é que o sr. Humberto, então nosso sócio, se negava a
assinar o aditivo. Fomos ao secretário Klinger e comentamos que
nosso contrato social dispensava
a assinatura do sr. Humberto. O
secretário se limitou a dizer: "Tratem de se acertar, não aceitarei
sem as assinaturas da Projeção".
Desesperado e já tendo investido cerca de R$ 10 milhões [até
2001" procurei o Ronan. Então,
ele me sugeriu: "Gabrilli, dá a Nova Santo André para a Projeção e
eu garanto que ele sairá da Sociedade". Mesmo sem o aval da família, fui ao encontro marcado e
fizemos a permuta de sociedades:
deixei a Nova Santo André e a
Projeção saiu da Guarará.
Para ser sincero, eu nunca tinha
vivido um momento tão humilhante. Esse sócio [Humberto"
não colocou um centavo na Expresso Guarará. Paguei a ele cerca
de R$ 800 mil como taxa de administração de obra na qual, soube
posteriormente, ele me roubou
desviando materiais comprados
com meu dinheiro. E ainda fui
coagido a entregar uma empresa
na qual tinha 33% de quotas.
Folha - Por que o sr. não denunciou tudo isso?
Gabrilli - Primeiro porque confiei nas pessoas, principalmente
no Ronan. Depois, porque fiquei
entre a vida e a morte do início de
2001 até o transplante. Ainda no
hospital, confirmei tudo o que
meus filhos já tinham dito.
Hoje querem a todo modo falar
em propina. No meu entender,
propina seria se eu estivesse fazendo de vontade própria ou me
proposto a dar dinheiro. Mas a
verdade é que, por volta de 1997,
ocorreu uma reunião na Secretaria [de Serviços Municipais", na
qual estávamos eu, o Ronan, o
Baltazar [de Souza, da viação São
Camilo", o sr. Klinger e o Sérgio
[Gomes da Silva". Foi dito que o
Ronan seria a partir daí o interlocutor de assuntos ligados ao
Transporte e que seria estipulado
um, digamos, pedágio de R$ 550
por carro para ser recolhido por
ele no dia 30 de cada mês.
Folha - O sr. tem indicativo de que
o dinheiro arrecadado ia para o PT?
Gabrilli - O que me diziam é que
seria para a campanha. Nós só conhecemos a participação do Klinger, do Ronan e do Sérgio. Agora,
se o PT está mesmo nisso, não
posso dizer. Sei é que paguei para
poder trabalhar. E paguei caro.
Folha - Houve represálias?
Gabrilli - Represália estamos sofrendo há muito tempo. Mas agora ficaram muito mais declaradas.
Se eu deixasse de pagar a quantia
estipulada na reunião que comentei, aí sim represálias aconteciam.
Um dia, fomos convidados pelo
sr. Klinger para um encontro em
Santos, em uma conferência de
transporte. Quando eu e minha filha Rosângela chegamos, esse senhor nos tratou aos berros na
frente de pessoas que nem ao menos conhecíamos. Ele dizia em alto e bom tom que não devíamos
brincar com ele, que ele não era
moleque, e exigiu nossa presença
em seu gabinete no dia seguinte.
Na reunião, o referido secretário limitou-se dizer friamente:
"Vocês estão necessitando da assinatura no segundo aditamento?
Então, acertem com o Humberto
[da Projeção"". Para não perder
os R$ 10 milhões que tinha investido no terminal Vila Luzita, vi-me obrigado a entregar a Nova
Santo André. Logicamente minhas relações com o Ronan ficaram estremecidas. Aí, pensei: já
que tenho que pagar o caixinha,
então que eu faça para eles direto.
Pedi ao Passarelli que ele marcasse reunião com o Ronan, com
a presença do Sérgio. Nessa reunião, quando o Passarelli chegou
com a encomenda, o Sérgio disse
a ele que a mesma deveria ser entregue ao Ronan.
Folha - Qual a situação financeira
de suas empresas?
Gabrilli - Minhas empresas hoje
são a Viação São José, que constitui há quase 40 anos, e a Expresso
Guarará, na qual a São José é sócia
majoritária. A Guarará foi constituída em 1999, depois de passar
por uma concorrência pública.
Exigia-se que o vencedor construísse todas as obras de infra-estrutura do terminal [corredor de
ônibus e estações do chamado
Sistema Tronco Alimentado de
Vila Luzita". Deveríamos gastar
R$ 6,5 milhões em obras e mais alguns milhões em ônibus, atingindo cerca de R$ 12 milhões.
Nossos cálculos mostram que
gastamos cerca de R$ 11 milhões
em obras e outros R$ 5 milhões
em ônibus. No total, uns R$ 18 milhões. Não deve ser difícil de imaginar como está nossa situação financeira. Mas mesmo assim temos mantido os negócios e nunca
tivemos um título em cartório.
Tampouco deixamos de pagar
nossos funcionários. Tudo com a
ajuda da família. Cada um contribui com um pouco.
Folha - A Prefeitura de Santo André tem responsabilidade no seu
desequilíbrio empresarial?
Gabrilli - Se a prefeitura tivesse
cumprido o projeto original da
Guarará, mesmo investindo muito mais do que o contratado, a
empresa não estaria gritando pelo
equilíbrio do contrato. Pedimos
que não deixassem empresas concorrerem com nossas linhas. Em
vez disso, criaram uma comissão
para fiscalizar minha empresa.
O que me deixa perplexo é ver
que eu, Ângelo Gabrilli, pego minhas todas as minhas reservas, levanto dinheiro em banco, construo para o município. E agora
querem a todo custo me acusar de
não ter honrado compromissos.
Honrar compromisso é obrigar
alguém a fazer além do que é contratado ou tirar de um cidadão
honesto sua dignidade e querer
calar suas verdades? Podemos estar fragilizados, mas não estamos
mortos. Eu, que perdi além de dinheiro a minha saúde -e com fé
vou recuperá-la-, continuarei a
lutar pela verdade e não sossegarei enquanto não vir justiça acontecer. Agora tentam fazer política sobre algo que, duvido, que alguns não tivessem conhecimento.
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