São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PARTIDO

Parte da cúpula petista resiste a proposta de que todos os integrantes devem deixar Executiva

Lula acerta saída de Genoino e pressiona por mais renúncias

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já acertou com José Genoino o afastamento dele da presidência do PT. Assim, Lula tenta incentivar a saída de Delúbio Soares da tesouraria e de Silvio Pereira da Secretaria Geral do partido, visando evitar mais danos às imagens do governo e do PT. Todos são acusados de envolvimento no escândalo do "mensalão".
O próprio Genoino tomou a iniciativa de propor a Lula o seu afastamento. Ele se sente traído por Delúbio, e também acredita que apenas a saída dos três pode evitar um agravamento da crise para o partido e para o Planalto. Ontem, porém, em entrevista ao "Fantástico", Genoino negou que pretenda renunciar.
No sábado, após a revelação de que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza avalizou um empréstimo para o PT, Delúbio disse a petistas que renunciaria, desde que não saísse como vilão. Naquela noite, numa reunião, o Campo Majoritário -tendência dominante no partido- divergiu sobre a profundidade das mudanças e viu frustrada a expectativa de que Silvio Pereira, conhecido como Silvinho, aceitasse pacificamente sua saída.
Por isso, a fórmula de afastamento de Genoino ainda não é consenso no Campo Majoritário, que adiou uma reunião da Executiva de ontem para amanhã. Delúbio e Silvinho querem a renúncia de toda a Executiva para que suas saídas não pareçam confissão. A proposta enfrenta resistência. "Não vou sair com Delúbio e Pereira. Nem acho que Genoino deva sair assim", disse o secretário de Formação Política, Joaquim Soriano (DS).
Lula voltou a articular com auxiliares o afastamento de Delúbio desde a publicação de reportagem da revista "Veja" sobre o aval de Marcos Valério a um empréstimo do banco BMG ao PT, no valor de R$ 2,4 milhões. Valério, apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador da suposta mesada a aliados, ainda pagou parcela de R$ 350 mil do financiamento.
A notícia surpreendeu Lula, segundo relato de ministros que conversaram com ele nos últimos dois dias. No sábado, Genoino disse a Lula que também foi pego de surpresa. Alegou que assinou o contrato de empréstimo sem ler, confiando em Delúbio, o que pesa contra ele.
A fórmula de afastamento está causando polêmica no partido. Se Genoino se afastar, a ex-prefeita Marta Suplicy, segunda vice-presidente do partido, assumiria o posto. Genoino é o primeiro vice, já alçado à presidência porque o eleito, o deputado federal e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, está licenciado.
Aliados de Marta não aceitam a renúncia coletiva. Dizem que seria responsabilizar a todos pelos eventuais erros de alguns.
A ex-prefeita está fora das articulações. Seu pai morreu ontem. Seus aliados avaliam, porém, que, convocado para o sábado, o Diretório Nacional deveria eleger uma comissão provisória até setembro, quando haverá a eleição do novo comando partidário.
A Folha apurou que Lula aprova qualquer fórmula que signifique o afastamento de Delúbio. Nas duas últimas semanas, antes das revelações de que empresas de Marcos Valério movimentaram ao menos R$ 20,9 milhões em espécie em dois anos e do contrato de empréstimo ao PT, Lula já se dizia decepcionado com Dirceu e Delúbio.
Para o presidente, ele errou ao dar poder demais a Dirceu, que teria montando dentro do governo uma estrutura própria, tomando decisões sem seu conhecimento. Já Dirceu disse publicamente que nunca fez nada com que Lula não estivesse de acordo.
Em relação a Delúbio, Lula suspeitava que ele tivesse cometido deslize ético ao captar recursos para o PT. Lula encarou como falta grave o aval de um fornecedor do governo ao empréstimo -empresas de Valério prestam serviços a órgãos públicos.
Por ora, em nota e em declarações públicas, Delúbio e Genoino sustentam a legalidade da operação de empréstimo. Ministros próximos ao presidente afirmam que isso não importa, já que o estrago ético foi feito.


Colaborou CATIA SEABRA, da Reportagem Local

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