São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ INVESTIGAÇÕES

Osmar Serraglio (PMDB-PR) pedirá explicações sobre saques de R$ 20,9 milhões em dois anos; publicitário prestará depoimento na quarta

Para relator, Valério superfaturou contratos

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante da elevada movimentação financeira nas contas do publicitário Marcos Valério de Souza, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse ontem que há indícios de superfaturamento nos contratos firmados por ele com o governo federal.
Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontou saques de R$ 20,9 milhões em dinheiro nas contas das empresas de Marcos Valério no Banco Rural entre julho de 2003 e maio de 2005.
Ele ainda foi multado pela Receita Federal em R$ 63,25 milhões, em novembro de 2004, sob a acusação de crimes contra a ordem tributária. Para o órgão, a DNA Propaganda teve depósitos de origem não comprovada e movimentação financeira incompatível com a própria receita.
O publicitário vai depor na CPI na próxima quarta-feira. "Para mim, o excesso de dinheiro na firma, como está sendo indicado, quer dizer que em algum lugar está superfaturado", disse o relator.
Por meio das agências SMPB e DNA, das quais é sócio, Marcos Valério, acusado de ser um dos operadores do "mensalão", presta serviços de propaganda para Banco do Brasil, Correios, Eletronorte, Câmara e dois ministérios, tendo administrado cerca de R$ 150 milhões oriundos de contratos desse órgãos em 2004.
Serraglio quer esclarecer se o valor dos serviços prestados pelo publicitário aos Correios, ao qual estão restritas, oficialmente, as investigações da CPI, corresponde aos preços de mercado e se foram efetivamente prestados.
O relator também pedirá explicações a respeito das altas quantias sacadas em dinheiro por Marcos Valério. A primeira versão do publicitário para justificar essa retirada foi a compra de gado. Depois, passou a dizer que os recursos foram utilizados no pagamento de fornecedores e na divisão de lucros entre os sócios.
Enquanto o foco de Serraglio será técnico, a tropa de choque do governo na CPI vai tentar politizar a questão e explorar os contratos de Valério com o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e com outras administrações tucanas, como a do presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, no governo de Minas Gerais.
Essa estratégia já foi sinalizada na sessão em que foram quebrados os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Marcos Valério. Os petistas delimitaram aos últimos cinco anos a abertura dessas informações, abarcando o governo passado. "No governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001 e 2002, foram pagos R$ 39,4 milhões à DNA e à SMPB. Neste governo, em 2003 e 2004, foram R$ 14,8 milhões", disse o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) na ocasião, sem especificar sobre qual contrato falava.
"Não é a diretriz desviar o foco para a administração anterior, mas se a gente quer verificar o que acontece nos Correios, será que essas irregularidades só existiram de 2003 pra cá?", questiona o deputado Maurício Rands (PT-PE). Os petistas também querem saber quais são os outros clientes do publicitário atualmente.
O relator da CPI já avisou, no entanto, que seu foco são os contratos assinados por Valério com os Correios, ou seja, somente no governo Luiz Inácio Lula da Silva, já que o serviço entre o publicitário e a estatal começou em 2003. Anteriores ao governo Lula são os contratos com os ministérios do Trabalho (1996 e 2001) e Esporte (2001) e com a Eletronorte (2001).
Já a oposição vai explorar o fato de Marcos Valério ter sido avalista do PT em um empréstimo de R$ 2,4 milhões no banco BMG e ter pago uma parcela de R$ 350 mil dessa dívida.
"O Marcos Valério está no centro de todos esses escândalos e vamos ter que investigar suas relações petistas e ver como isso chega ao mensalão", disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).


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