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correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
Caixa 2 de FHC citava empresas da Alstom
Cegelec e ABB estavam em planilhas do PSDB que foram tornadas públicas em 2000; não há menção a valores no documento
Planilhas atribuem a Andrea Matarazzo, então secretário de Energia de São Paulo, a missão de buscar recursos junto a empresas; ele nega
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Duas empresas do grupo
francês Alstom são citadas nas
planilhas eletrônicas do comitê
financeiro do PSDB que deveriam abastecer o caixa dois da
campanha do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso à
reeleição, em 1998. As empresas são a Cegelec e a ABB.
As planilhas, tornadas públicas em 2000, atribuem ao atual
secretário de Subprefeituras de
São Paulo, Andrea Matarazzo
(PSDB), então secretário de
Energia do Estado, a missão de
buscar recursos junto a empresas. As estatais de energia eram
os principais clientes da Alstom no governo de São Paulo.
Porém, não era atribuída à
Cegelec e à ABB nenhuma meta
de arrecadação. A planilha também não informa se elas deram
dinheiro ao PSDB. Em 1998,
Matarazzo acumulou o cargo
de secretário com o de presidente da Cesp (Companhia
Energética de São Paulo), justamente uma das principais
clientes da Alstom.
Memorandos internos trocados em 1997 entre diretores da
Alstom, na França, apreendidos por promotores da Suíça,
dizem que seriam pagas "comissões" para obter negócios
com o governo paulista.
Num desses memorandos,
um diretor da Cegelec em Paris
diz estar disposto a pagar 7,5%
para obter um contrato de
R$ 110 milhões da Eletropaulo.
A Alstom comprou a Cegelec
justamente naquele ano.
Os papéis citam que a comissão seria dividida entre "as finanças do partido", "o tribunal
de contas" e "a Secretaria de
Energia". A Eletropaulo era subordinada até abril de 1998 à
pasta dirigida por Matarazzo.
Eventos de 1998
O ano de 1998 foi marcado
por eventos relacionados às investigações iniciadas na Suíça:
1) O contrato em que a Cegelec dizia estar disposta a pagar
uma comissão de 7,5% foi firmado naquele ano;
2) Entre outubro e dezembro, houve duas transferências
de dólares ordenadas pela Alstom francesa, que foram parar
na conta da "offshore" MCA
Uruguay Ltd., nas Ilhas Virgens
Britânicas, controlada pelo
brasileiro Romeu Pinto Jr. no
valor de US$ 505 mil, que seriam usados na propina.
Com a privatização e a cisão
da Eletropaulo, o contrato de
R$ 110 milhões foi herdado pela
EPTE (Empresa Paulista de
Transmissão de Energia), outra
estatal paulista.
Com a reeleição de FHC, Matarazzo assumiu no ano seguinte o cargo de ministro-chefe de
Comunicação da Presidência.
A Alstom, um dos maiores
grupos do mundo na área de
energia e transportes, tinha
contratos à época também com
estatais da União, como Petrobras, Eletrobrás e Itaipu.
Reportagem da Folha de dezembro de 2000 revelou que
Matarazzo teria obtido ao menos R$ 3 milhões para o caixa
dois. Na planilha com as metas
de arrecadação, aparece o nome "Andrea Matarazzo - MM".
Ele teria de arrecadar R$ 6,02
milhões. Ao menos R$ 10,12
milhões foram para o caixa dois
de 1998.
Além da relação das empresas, a planilha menciona os nomes dos diretores ou contatos a
serem procurados pelos arrecadadores de campanha.
A autoria das planilhas foi
atribuída ao ex-ministro da Administração e Reforma do Estado Luiz Carlos Bresser Pereira, tesoureiro oficial das duas
campanhas presidenciais de
FHC. Atualmente, ele diz que
elas podem ter sido montadas.
Procurado pela Folha na
época, Matarazzo negou ter
participado da arrecadação de
recursos para FHC. "Vou te falar mais uma vez meu papel
nisso daí [campanha]: fiz dois
jantares, dos quais o presidente
participou. Ele apresentou o
programa de governo. O Luiz
Carlos Bresser [Pereira] foi, e
ponto", dizia Matarazzo.
O hoje secretário de Gilberto
Kassab (DEM) disse que somente coordenava a ação política da campanha de FHC no
Estado de São Paulo.
O próprio Bresser, porém,
confirmou à Folha em 2000
que Matarazzo participava da
busca de recursos. "O Andrea
também foi [arrecadador], no
começo." Ontem, em entrevista por telefone de Paris, Bresser reafirmou que Matarazzo
ajudou na arrecadação da campanha da reeleição de FHC "no
início". Ele, no entanto, diz que
só agora soube que existia uma
empresa chamada Alstom.
O publicitário Luiz Fernando Furquim, que atuou na campanha, referendou em 2000 a
declaração de Bresser: "Havia
uma certa competição [entre
Bresser e Matarazzo], talvez
em função da vontade dele
[Matarazzo] de ir para Brasília". A investigação sobre as
planilhas do caixa dois nunca
foi adiante porque a Justiça
não autorizou a quebra de sigilo dos comitês de campanha.
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